Saville Alves, co-fundadora da SOLOS, é a convidada do sexto episódio da série “O que não te contaram sobre impacto?” do AupaCast.
Vegetariana e moradora de Salvador (BA), Saville é apaixonada pelo seu território. Formada em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia, foi no ambiente universitário seu despertar para o aprofundamento e o estudo sobre as relações sociais, de poder e as desigualdades. “Há quatro professores que foram fundamentais na minha vida: Malu Fontes, Wilson Gomes, Cláudio Cardoso e Sérgio Sobreira. Foi através deles e de seus ensinamentos que cultivo processos de reflexão para tomar algumas decisões”, ressalta. Os autores Zygmunt Bauman e Friedrich Nietzsche são suas inspirações e “refrescos”, como ela brinca, para os questionamentos sobre a vida em sociedade.
O negócio
A SOLOS é um negócio de impacto que desenvolve soluções inteligentes para gestão de resíduos, redução do consumo e desperdício. “Criamos projetos para que as grandes marcas patrocinem e, através da contratação de cooperativas de reciclagem, fazemos com que as embalagens geradas por elas (marcas) tenham um destino sustentável”, explica Saville.
A startup é gerenciada por Saville e Gabriela Tiemy, sua sócia. Ambas se conheceram dentro do campo das Organizações da Sociedade Civil (OSCs), o que formou um olhar social forte dentro do negócio. “Vivemos, a partir das nossas experiências profissionais, os desafios de ser uma ONG (Organização Não Governamental) e os aspectos específicos do seu modelo de negócio. Ao descobrir o setor 2.5 e o impacto socioambiental, encontramos um caminho para seguir”, comenta. As vivências periféricas também foram importantes para dar início à consciência ambiental das sócias.
O time da SOLOS é formado por quatro pessoas, quando há projetos em andamento, esse número chega a 50 colaboradores ao longo dos meses de execução. Um ponto pouco comentado dentro do ecossistema são as sociedades, ter duas ou mais pessoas cuidando do empreendimento pode soar desafiador. Saville entende que o principal é encontrar resiliência na parceria estabelecida. “Eu e Gabi (sócia) acreditamos que combinamos, mas, mais do que isso: quando nós discordamos, debatemos os pontos de cada uma e, logo em seguida, voltamos ao lugar onde existe a combinação novamente”, revela.
O desafio e as soluções
Para ter uma cadeia de reciclagem fortalecida e estruturada no Brasil é necessário que todos os atores tenham qualificação para realizar suas atividades. Dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que 90% de todo o resíduo reciclado no país vem primariamente das mãos dos catadores ou das cooperativas.
Por conta de seu contexto social, esses grupos são extremamente vulnerabilizados. “São pessoas que começam a fazer catação não para salvar o mundo e, mas, por urgência de sobreviver e ter que colocar o pão ou a carne na mesa. Executam o trabalho em situações precárias e sem mecanismos que ajudem a ganhar volume, escala e eficiência”, afirma.
A desvalorização dos catadores é um desafio nada fácil. Os profissionais lidam com tudo aquilo que expulsamos das nossas casas, o lixo. Para Saville, a aceitação e a consciência coletiva sobre a importância dessas pessoas deve ser estimulada na sociedade, assim como Políticas Públicas para estruturar processos. “Nas pequenas relações que desenvolvemos com as grandes marcas, buscamos trazer esse olhar (humano), porque, ao final, quem está do outro lado é uma pessoa também. Se estimularmos uma sensibilidade nelas, teremos chances de algumas decisões serem remodeladas”, finaliza.
Confira o episódio completo.
Serviço
Nome do empreendedor: Saville Alves.
Negócio: SOLOS.
O que (o negócio) faz: Desenvolve soluções inteligentes para a gestão de resíduos, redução do consumo e desperdício.
De onde é: Salvador (BA).
Quando começou: 2016.
Principal tema da conversa: Os vários lados da desvalorização dos catadores de lixos.
Soluções buscadas: Maior sensibilização sobre o papel das empresas na geração de renda dessa população.
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