O lançamento da pesquisa GIIN 2020, sobre o estado da arte da Gestão de Impacto e Mensuração (Impact Measurement and Management – IMM, na sigla em inglês), aqueceu o debate sobre o tema no começo deste ano e lançou luzes para o amadurecimento de sistemas que permitem alavancar o tripé de sustentação dos investimentos de impacto: transparência, governança e articulação entre decisões financeiras e de impacto. Os principais resultados deste estudo foram tratados em artigo anterior.
O Brasil ganha ótimas contribuições sobre o assunto com o recente lançamento de dois relatórios. Um dele é oriundo do fundo de investimentos Vox Capital e outro, do Programa de Aceleração da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA). Ambos passam a compor o repertório de experiências nacionais e já anunciam respostas ao repto do relatório GIIN relacionado à ausência de estudos de caso para orientar o amadurecimento de estratégias de mensuração.
Considerando que a pandemia do novo Coronavírus tem suscitado grande interesse por ações de apoio a comunidades, como mostram o monitor de doações da ABCR, o mapeamento de iniciativas capturadas pela ponteAponte ou o apoio que tais ações tem alcançado na grande mídia, observa-se um ambiente ainda mais favorável para o engajamento em investimentos de impacto social + ambiental na sociedade brasileira. Tal contexto reforça o imperativo do amadurecimento de estratégias de gestão de impacto e mensuração, como as oferecidas pelos relatórios citados.
O desenho da Gestão de Impacto e Mensuração já encontra boas referências conceituais, como a ciclo sugerido pela European Venture Philanthropy Association. De maneira geral, esta gestão parte do due-diligence, no qual a propensão de impacto do negócio é observada, seguida pelo desenho da teoria de mudança em que a ambição de mudança social + ambiental ganha uma narrativa consistente. A conexão com os ODS é indispensável nestas etapas. A teoria de mudança cria a estrutura básica para o enquadre do negócio nas cinco dimensões propostas pelo Impact Management Project (o que, quem, quanto, contribuição e risco). Da plataforma IMP também se deriva a classificação dos ativos nas suas três dimensões de impacto pretendido, perspectiva que já se manifesta entre investidores brasileiros e foi abordada, talvez de maneira pioneira, no relatório da Mov Investimentos, de 2019[1].
A teoria de mudança orienta também a definição dos indicadores que devem ser preferencialmente articulados com as propostas do IRIS+, numa cadência que pode conjugar métricas significativas para o investidor com indicadores relevantes para o empreendedor.
Tem-se, então, o passo desafiador de distribuir a abordagem avaliativa e sua agregação de valor no ciclo de vida do próprio negócio, entendendo-se que cada momento da iniciativa exige formas especificas de avaliação.
Tal estruturação deixa claro o que deve ser avaliado diretamente pelo investidor, pelo empreendedor ou por agentes externos. Por fim, considera-se que a consolidação dos dados coletados em sistemas digitais é recomendada por facilitar o acesso, a leitura, a visualização e a publicação de informações.
A Vox Capital oferece um relatório que apresenta de maneira cristalina a sua lógica de gestão de impacto, na qual destaca-se a inovação do “Impactômetro”. Este painel plota os negócios de seu portfólio entre dois eixos: o estágio de maturidade do negócio na horizontal e o nível de acuracidade de avaliações e estudos para determinar o impacto na vertical, o que permite uma clara localização de cada investees num gradiente de evolução do negócio e nível de mensuração.
Esta criativa proposta pode funcionar como farol para iluminar decisões que integram evidências de impacto e questões financeiras dos negócios, enfrentando um dos conhecidos desafios do campo. Ao mesmo tempo a leitura permite discernir em que momentos diferentes tipos de avaliações podem ser utilizadas. Assim, conhecer este “impactômetro” já se faz fundamental.
A contribuição do PPA se faz pelo exemplo que traz ao campo. O relatório apresenta uma ótima articulação entre Teoria de Mudança, indicadores e dados, numa arquitetura interessante que informa sobre gestão do programa, o impacto do PPA nos negócios e impacto dos próprios negócios na transformação socioambiental das comunidades que atendem.
Há ainda enorme espaço para avanços para a consolidação e a divulgação de soluções de gestão de impacto e mensuração por iniciativas com e sem fins de lucro. Mas é motivo de celebração o movimento de publicação de experiências no Brasil, as quais contribuem para influenciar novas práticas e dinamizar uma indústria transparente de negócios de impacto social + ambiental. Inspirem-se e vamos adiante com ideias ainda mais ousadas.
[1] Para esclarecimento, a Move Social não tem relação com a Mov Investimento, apesar da proximidade dos nomes.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.
[…] O desenho da Gestão de Impacto e Mensuração já encontra boas referências conceituais, como a ciclo sugerido pela European Venture Philanthropy Association. De maneira geral, esta gestão parte do due-diligence, no qual a propensão de impacto do negócio é observada, seguida pelo desenho da teoria de mudança em que a ambição de mudança social + ambiental ganha uma narrativa consistente. A conexão com os ODS é indispensável nestas etapas. A teoria de mudança cria a estrutura básica para o enquadre do negócio nas cinco dimensões propostas pelo Impact Management Project (o que, quem, quanto, contribuição e risco). Da plataforma IMP também se deriva a classificação dos ativos nas suas três dimensões de impacto pretendido, perspectiva que já se manifesta entre investidores brasileiros e foi abordada, talvez de maneira pioneira, no relatório da Mov Investimentos, de 2019[1]. […]