Um sinal de que os tempos estavam e ainda estão mudando foi quando as propagandas na TV pararam de ser só de produtos e começaram a divulgar também as máquinas de pagamento de cartão. De todos os tamanhos, tipos e cores, elas oferecem para o então consumidor a possibilidade de produzir e comercializar e se tornar também uma pessoa de negócios.
A história dos bairros periféricos de São Paulo esteve sempre associada com a necessidade de mão de obra operária para a economia da cidade. Inicialmente, a expansão aconteceu devido ao forte processo de industrialização, trazendo muitos imigrantes para o país, em detrimento dos negros escravizados recentemente alforriados, que foram e continuam marginalizados desde então. Dessa forma, essa população precisou criar alternativas para suas subsistências e sobrevivências.
Em um segundo momento, principalmente a partir da década de 50 do século 20 , a ocupação aconteceu com a migração de retirantes nordestinos fugindo da miséria dos sertões para trabalhar nas fábricas paulistanas em um momento de expansão e crescimento da cidade. A época era promissora e conseguir um trabalho, com registro em carteira, não era tão difícil quanto hoje. Essa é a história da geração de muitos de nossos avós, pais, mães, tios, tias.
Com o avanço das tecnologias, os tipos de ocupações profissionais nas cidades também foram se adaptando e os postos de trabalho se voltaram mais para o setor de serviços. As formas de trabalho foram se modificando e, consequentemente, os tipos de contratações. A população se adaptou como era possível. Toda essa viagem histórica até chegar às maquininhas de débito e crédito para demonstrar que estamos diante de uma nova fase histórica de transformações econômicas que impactam o modo de vida das pessoas, dentro e fora da periferia.
Hoje, é muito frequente considerar o empreendedorismo das periferias como inovador e surpreendente, mas é preciso não esquecer que, muitas vezes, ele só acontece porque é a única alternativa que o povo preto e pobre tem para sua sobrevivência. Uma pesquisa recente da Fundação Perseu Abramo evidenciou a característica do empreendedorismo na periferia como necessidade devido ao desemprego. Muitas pessoas da época em que havia trabalhos estáveis nas indústrias tiveram se adaptar a fases com altos índices de desemprego, e as novas gerações já se viram diante de um contexto em que a mão de obra preta, pobre e periférica, ainda que qualificada, está cada dia mais precarizada.
É importante valorizar o nosso empreendedorismo periférico, porém, sem romantizar as condições desiguais que ainda vivenciamos. Esperamos que a criatividade e a inovação nos negócios aconteçam em situações menos dificultosa, como as que ainda enfrentamos diariamente e que, por exemplo, o acesso às maquininhas e meios e modo de produção não sejam só novas estratégias de “exploração”.
Referências: