Filantropia baseada na confiança: redistribuição de poder

GIFE lança guias sobre confiança na filantropia e reforça importância de novas relações entre doadores e donatários

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Por: PAMELA RIBEIRO / conteúdo publicado em parceria com GIFE

Projeto — com guias traduzidos e lançados pelo GIFE [Grupo de Institutos, Fundações e Empresas] — busca inverter lógica que coloca doador como protagonista de ações filantrópicas, qualificando relacionamento entre doadores e donatários

 

A filantropia no Brasil está, cada vez mais, aberta para mudanças internas que a qualifiquem e, por consequência, gerem melhores resultados e mais impacto. Em especial após a pandemia da Covid-19, observa-se a preocupação de investidores sociais privados por rever suas estratégias e práticas em busca de uma filantropia mais transformadora. Nesse sentido, a filantropia baseada na confiança tem se mostrado um caminho promissor.

Em sua essência, esta abordagem da filantropia busca lidar com os desequilíbiros de poder inerentes a doadores e donatários, construindo relações mais equitativas e longevas. Para ampliar esse debate, o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) acaba de traduzir e lançar quatro guias do “Trust Based Philanthropy Project” [“Projeto de Filantropia Baseado em Confiança”].

A iniciativa nasceu nos Estados Unidos e busca exatamente qualificar o relacionamento entre doadores e donatários. Por meio de uma abordagem holística, investidores sociais privados são convidados a refletir sobre seus valores e a reavaliar quatro dimensões da organização: cultura, estruturas, lideranças e práticas. Parte-se da premissa de que qualquer mudança externa demanda transformações internas; por isso, a importância de se trabalhar cada uma destas quatro dimensões de forma honesta e autêntica.

O objetivo do GIFE com esta iniciativa é contribuir para a qualificação de estratégias e práticas do grantmaking [“doações] no Brasil. Nesse sentido, a filantropia baseada em confiança é uma importante abordagem para o desenvolvimento de uma filantropia mais transformadora, na medida em que busca inverter uma lógica que coloca o doador como protagonista das decisões e não reconhece os saberes dos donatários: aqueles que vivem nos territórios e detém o verdadeiro conhecimento para as transformações necessárias.

Apesar do recente espaço que vem ganhando, o debate sobre a filantropia baseada em confiança se mostra atemporal devido à sua importância organizacional. Hoje, mais do que nunca, precisamos de uma filantropia capaz de fortalecer organizações e iniciativas da sociedade civil. Para isso, são necessários mais recursos filantrópicos e com destinação e aplicação mais flexíveis, para que as instituições — em especial, àquelas que estão nos territórios e nas periferias — possam escolher a melhor forma de aplicá-lo em benefício à coletividade.

* Pamela Ribeiro é coordenadora de programas do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE)

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