A vulnerabilidade econômica e territorial está diretamente ligada ao desafio de acesso à internet. Segundo dados da pesquisa TIC Domicílios 2020, 75% das pessoas que ganham até um salário mínimo não possuem acesso à internet por achar muito caro e 34% por falta de disponibilidade na região.
A desigualdade digital também acompanha as periferias do Brasil, que abrigam 13,6 milhões de pessoas e movimentam R$ 119,8 bilhões por ano. No caso de São Paulo, a maior cidade do país, a população periférica concentra o acesso à internet realizado com conexão de baixa velocidade (56%) e com uso exclusivo de celulares (67%), de acordo com o levantamento da Fundação Seade e do Cetic.
Porém, para muitos negócios periféricos, a conexão é uma ferramenta de educação e de retomada econômica desses territórios. Afinal, inúmeras iniciativas destacam o potencial criativo advindo das periferias.
Um exemplo dessa potência criativa que surgiu na periferia é a plataforma e-Bairro. Fundada por Naiara Padial Corso, a plataforma busca reunir vários pontos relacionados à Economia Criativa da Zona Sul de São Paulo. Funciona da seguinte forma: dentro da plataforma, cada empreendedor pode criar uma loja e cadastrar os seus produtos gratuitamente. Assim, neste marketplace há o cadastro de artistas plásticos, artesãos e escritores desse território. O foco é fortalecer a economia local da região, fazer a divulgação e a venda de produtos e serviços, e ajudar na criação de uma comunidade.
Por se tratar de um marketplace, o acesso à internet ainda é um desafio para muitos moradores da região, segundo Naiara: “Nas periferias, o acesso à internet ainda é um grande problema que vai desde a dificuldade financeira para aquisição de aparelhos como celulares, computadores, contratação a planos de dados e wi-fi até a disponibilidade dos serviços das operadoras em alguns bairros”, explica a fundadora do e-Bairros.
Este cenário revela que há desafios nos municípios periféricos e nas regiões rurais com infraestruturas degradadas, baixa capacidade digital e alto grau de desigualdade. Inclusive, o acesso à internet foi o grande desafio na aprendizagem dos alunos de escolas públicas em 2020, segundo pesquisa da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). Quase 80% dos municípios pesquisados relataram grau de dificuldade médio e alto sobre acessar a internet.
Para mudar esse cenário desigual e ampliar o protagonismo das periferias, Naiara defende os investimentos público e privado: “A periferia precisa deixar de ser vista como subserviente e deve ser encarada como geradora, criadora e potência”.
Vale lembrar que o direito do acesso à internet para todos é previsto no Marco Civil da Internet (MCI) – ou Constituição da Internet Brasileira. Portanto, os desafios de acesso nas periferias representam uma violação de direitos humanos e impactam a possibilidade de surgimento de novos negócios digitais para esses públicos, como o e-Bairro e o TrazFavela.
_________________________________________________________________________________