Pedro Misnerovicz, gerente financeiro e comercial do Armazém do Campo São Paulo, é o convidado do nono episódio da série “O que não te contaram sobre impacto?”, do AupaCast.
Militante e filho de assentados do MST, sigla para Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, organização fundada em 1984 que luta pela reforma agrária no Brasil, Pedro tem formação em Técnico em Cooperativismo pela escola do próprio movimento. Através do curso, no final de 2016, foi estagiário da experimentação que originou o Armazém do Campo anos depois. “Foi meu primeiro estágio e também fui o primeiro estagiário da experiência. Hoje, existem vários outros (Armazém do Campo) que, em conjunto com o movimento, formam novos militantes e técnicos no país”, explica.
O negócio
Fundado em 2016 e atualmente presente em 13 estados do Brasil, o Armazém do Campo tem como objetivo principal comercializar e divulgar os produtos da Reforma Agrária, boa parte produzida nos assentamentos do movimento. Para apresentar uma variedade de mercadorias aos clientes, as lojas agregam também produtos vindos da agricultura familiar e de marcas famosas no segmento de orgânicos.
Além das lojas físicas, o Armazém inaugurou, em julho de 2020, sua versão digital. “Desde o início da loja, em 2016, queríamos abrir um e-commerce. Criar um canal de escoamento on-line para os nossos produtos, o que demandaria muita força de trabalho e um número de clientes que não tínhamos na época”, relembra. Com a chegada da pandemia e as restrições de isolamento social, Pedro e sua equipe novamente viram uma oportunidade para apostar no digital. “Uma grande onda de e-commerce surgiu na pandemia, entendemos que era o momento certo para apostar. Consolidamos o modelo, enfrentamos algumas dificuldades, mas, com a dedicação de toda equipe, inauguramos nossa loja virtual”, comenta.
Pedro analisa o perfil dos clientes do negócio: “entre 60% e 70% dos clientes adquirem os produtos como forma de ajudar o movimento. A outra parte são clientes acostumados a comprar produtos orgânicos, principalmente em São Paulo, onde cresceu bastante esse nicho”. Segundo ele, o aumento do preço do arroz, em 2020, não trouxe impactos negativos nas vendas, como em outros lojistas. “Foi o mês que tivemos mais saídas (vendas). Para nós, a razão seria a visão (que os clientes têm) que somos uma resistência ao modelo do agronegócio e aos modelos capitalistas”, acrescenta.
O desafio e as soluções
A falta de Políticas Públicas e investimentos do Governo na agricultura familiar traz alguns desafios indiretos ao negócio. “O Estado hoje destina 80% do seu orçamento para o financiamento do agronegócio, o que dificulta a produção de orgânicos ganhar uma escala e impacta diretamente no preço final, mais caro do que os produtos do agronegócio”, contextualiza. Outro obstáculo destacado por Pedro é a logística, o caminho dos produtos feitos nos assentamentos até chegarem às lojas espalhadas pelo território brasileiro. “Na pandemia, criamos uma estratégia bem definida para atender as demandas (dos Armazéns). Ela tem mostrado resultados positivos, porém ainda há muito a melhorar. Nossa meta é abastecer 100% das nossas lojas com as produções dos assentamentos, assim não precisaríamos recorrer às outras marcas (de orgânicos) que possuem uma logística mais consolidada”, revela.
Apesar dos efeitos econômicos negativos da pandemia em alguns setores, o Armazém do Campo viu seu crescimento ganhar força no último ano. “Tivemos uma alta bem acentuada nas demandas, o fator do e-commerce e o cuidado com os alimentos, sem veneno, influenciou bastante”, observa. O negócio também tornou-se uma plataforma para as ações do MST, gerando visibilidade às causas da organização, cujas ações foram paralisadas em 2020.
Confira o episódio completo.
Serviço
Nome do empreendedor: Pedro Misnerovicz.
Negócio: Armazém do Campo São Paulo.
O que (o negócio) faz: comercializa produtos da Reforma Agrária.
De onde é: possui 34 pontos de comercialização espalhados por 13 estados brasileiros.
Quando começou: 2016.
Principal tema da conversa: como ampliar a agenda da agricultura familiar.
Soluções buscadas: incentivos em Políticas Públicas e investimentos, por parte do Governo, na agricultura familiar.
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