Aupa cria projeto de inglês decolonial para British Council

Projeto editorial traz mais de 200 anos de história do ensino do idioma com abordagem inclusiva sobre a língua inglesa no país

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Muito mais que uma língua que marcou a história no Brasil Império, o inglês foi um idioma de lutas e superação no país. Uma língua que ajudou a emancipação de mulheres e lideranças negras e fomentou transformações sociais. A língua inglesa, por exemplo, permitiu o contato entre as primeiras feministas do país e as ideias modernas de democracia e igualdade em debate nos dois últimos séculos. Foi também o idioma que comunicou as revoluções do século XIX a intelectuais e ativistas brasileiros. Mais que isso, hoje se mantém como o idioma mais falado no mundo – e a maioria de falantes nem tem o inglês como primeira língua. O inglês, enquanto língua franca, pode abrir fronteiras e expandir a mobilidade social e internacional de pessoas e culturas. Uma história que o projeto Trajetórias da Língua Inglesa no Brasil busca contar.

 

O projeto nasce da iniciativa UK-Brazil Skills For Prosperity (UKBR-SFP), um consórcio formado pelo British Council e o governo britânico em conjunto com organizações do terceiro setor com experiência em educação: a Fundação Lemann, a associação Nova Escola e o Instituto Reúna. O projeto foi concebido por especialistas, professoras, professores e rede de educadores de língua inglesa no país e é apresentado em formato online e mapa impresso. O site traz uma área  com a linha do tempo de um recorte da história da língua inglesa no Brasil. A narrativa aqui apresentada buscou compreender a presença da língua inglesa no Brasil em uma perspectiva mais ampla e inclusiva, que não se restringe a uma visão eurocêntrica da história. São mais de 100 fatos históricos em textos curtos e didáticos, com hyperlinks que trazem metodologias de ensino, reformas educacionais, entre fatos e curiosidades. O objetivo é estimular a reflexão sobre os caminhos do ensino da língua inglesa no país e fornecer um panorama histórico sobre a trajetória do idioma no Brasil nos últimos 200 anos. A intenção é trazer o assunto para o debate em outros fóruns, seja na sala de aula ou fora dela.

Além da linha do tempo, o website traz ainda histórias sobre nove personagens, entre mulheres, negras e negros que ajudaram, de alguma forma, a fomentar o inglês no Brasil. Figuras históricas brasileiras romperam preconceitos e tiveram  obras publicadas na língua inglesa, contribuindo para a difusão da cultura nacional no mundo através da literatura, ciência e música. Por exemplo, sabia que Maria Firmina foi a primeira mulher romancista negra a tratar o abolicionismo e que sua obra Úrsula (1859), foi traduzida apenas em 2020? E que a ativista feminista brasileira Bertha Lutz se inspirou em tratados e movimentos em inglês pelo voto feminino para realizar as suas iniciativas no Brasil? Essas, e muitas outras narrativas estão presentes ao longo de mini biografias de 9 grandes personalidades da trajetória do idioma no Brasil. A história viva contada a partir da vida e das transformações históricas de mulheres, negras e negros.

O projeto traz, ainda, três entrevistas com lideranças atuantes e engajadas na promoção de um inglês em uma perspectiva decolonial. Um dos conteúdos traz o perfil de Janaína Cardoso sobre o potencial libertador do inglês, se usado em uma perspectiva de língua franca. Janaína é doutora e pesquisadora sobre a língua inglesa no Brasil. É a primeira mulher negra a ocupar o cargo de diretora da Faculdade de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), além de ter sido professora universitária de Anielle Franco, irmã de Marielle Franco e atual Ministra da Igualdade Racial. Outra entrevista traz o relato de duas jovens negras envolvidas no projeto #ElasNasEscolas, iniciativa com estudantes negras em Brasília e suas cidades satélites, que buscou democratizar saberes sobre como ter acesso às oportunidades de participação na sociedade para meninas negras de escolas públicas. O projeto foi apoiado por outra ação do UK-Brazil Skills for Prosperity, a chamada “Meninas que Vão Além”. Há ainda entrevista com a professora Marieli Pereira, educadora que leciona aulas de inglês antirracista na periferia de Salvador e escreveu livros didáticos para desconstruir estereótipos e inspirar estudantes a aprender inglês.

O conteúdo do site Trajetórias da Língua Inglesa no Brasil propõe compreender a presença do idioma no Brasil em um contexto social influenciado pelo processo de colonização e opressão. A linguagem é uma ferramenta importante que pode ser usada para perpetuar ou combater relações sociais opressivas, e a compreensão da presença do ensino do inglês no Brasil se faz necessária para a consciência da sociedade atual. A abordagem amplifica as vozes des grupos sociais historicamente oprimidos e invisibilizados, incluindo mulheres, negras, negros, população LGBTQIAP+, deficientes e outros grupos sociais minorizados.

O projeto ainda prevê a impressão e distribuição de um mapa em versão resumida da linha do tempo – e disponível em versão digital para download –  que pode ser colocado em salas de aula das escolas, estimulando o saber a respeito do inglês, em uma perspectiva decolonial. O objetivo é que pessoas, especialmente minorias de direitos, consigam se ver como parte da história do inglês no Brasil. Para além de impérios e para além dos ingleses e estadunidenses.

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