Vale da Morte: existe mapa para vencê-lo?

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Este é o primeiro artigo de muitos que escreveremos, após o honroso convite da Aupa para assinarmos esta coluna. Trataremos da vida no “Vale da Morte” ­– o difícil período percorrido por uma startup para encontrar um modelo de negócio saudável. O objetivo é trazer pílulas de reflexão, provocação, sugestões e conhecimentos para apoiar aos que nele navegam ou desejam navegar.

Qualquer negócio passa por quatro etapas para atingir a “glória”: ideação, validação, desenvolvimento, escala. As quatro etapas de evolução de uma startup possuem características muito distintas, demandando competências, arranjos, estruturas, governança, capital, tecnologia, compreensão sistêmica e “tempos” diferentes para serem superadas.

Muitos empreendedores de negócios de impacto saem das aceleradoras e incubadoras com modelo de negócio idealizado e um primeiro MVP (minimum viable project) na mão, quase sempre em um estágio embrionário, em termos de validação.  Mas logo em seguida têm de se aventurar no mar aberto do mercado, na busca da realização dos seus sonhos de transformar a realidade gerando valor social, ambiental e econômico.

Nesta jornada recheada de incertezas, muito se tem falado sobre o “Vale da Morte”, com sua ânsia devoradora de sonhos, evidenciada pela elevadíssima taxa de mortalidade dos negócios que ousam enfrentá-lo. Reconhecido como estando entre as etapas de validação e desenvolvimento inicial, é impiedoso, pragmático, objetivo e muitas vezes cruel.

Exige dos navegantes a capacidade de pilotar em águas turvas e revoltas, com fronteiras e correntes dinâmicas, móveis e traiçoeiras. Infelizmente, muitos subestimam o que encontrarão ou superestimam a sua capacidade de confrontação com esse momento. O preço é alto: ver o seu sonho morrer.

Empreendedores que vivenciam essa experiência e sofrem das suas elevadas exigências serão capazes de reconhecer o que falamos. Para esses e para aqueles que são marinheiros de primeira viagem, esperamos que nossos textos iluminem algumas das sombras da jornada, como faróis em alto-mar.

Na nossa experiência, para elevar as chances de sucesso contra o “Vale da Morte”, a primeira ação necessária é reconhecer, compreender e respeitar profundamente três palavras que sintetizam a sua essência: escassez, volatilidade, nebulosidade.

Recursos

A escassez de recursos adequados é sempre elevada. E muitos se enganam ao pensar que falamos de capital, apenas. Não, estamos falando de recursos de toda a natureza. No “Vale da Morte”, quase não há oferta de capital com perfil aderente, talentos com senioridade, fornecedores preparados e interessados e tecnologia assertiva e afins.

Esses insumos faltam como o oxigênio em elevadas altitudes.

O contexto tem alta volatilidade. Na busca do cliente e do modelo que levará o projeto ao sucesso, tudo pode mudar em alta velocidade: dados, pessoas, decisões, recursos, metas, processos e dinâmicas. São típicas as mudanças contínuas, frequentes e com diferentes intensidades e causas. Muitas das vezes, podem inclusive ocorrer surpresas com grande potencial de destruição.

O horizonte é nebuloso. Como empreendedor, navegar rumo ao futuro idealizado é um ato de surfar a incerteza. Não há respostas certas nem rotas traçadas de antemão. Na maior parte do tempo, somos assolados por dúvidas, solidão, medo, desconhecimento, intuições e conjecturas.

Romper a arrebentação para navegar na imensidão reconfortante dos oceanos azuis é um desafio espetacular. Empreendedores capazes de desenvolver elevada maturidade emocional, forte autoestima e alto espírito de aprendizado, inovação e resiliência são candidatos ao êxito e a celebração merecida. Mas, claro, visão sistêmica, sangue frio, paixão, propósito claro e muita empatia também ajudam.

A partir do próximo artigo, trataremos de explorar mais profundamente as características e possibilidades de nos prepararmos melhor para avançar rumo ao futuro que desenhamos nas nossas mentes empreendedoras.

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