O tempo não para…
Como empreendedor, muitas vezes eu bem que gostaria que o tempo parasse. Perguntas sem respostas, recursos escassos, lacunas de informação e dados relevantes, dúvidas em relação ao que fazer ou como fazer e, claro, qual decisão tomar! Diversas são as questões que podem colocar o empreendedor contra a parede e testá-lo. Dependendo da natureza, preparo, capacidade, experiência e serenidade de cada um, o risco é paralisar ou retardar o desenvolvimento do negócio, comprometendo, inclusive, a sua existência ou, na melhor das hipóteses, a sua atratividade.
Na maioria das vezes, os empreendedores subestimam o tempo de desenvolvimento e maturação do modelo. Essa é uma evidência que colho da minha jornada empreendendo e apoiando empreendedores. Não importa se por otimismo em excesso ou por “atritos na pista” de diversas naturezas, o fato é que não é verdade que aprendemos a domesticar o tempo a nosso favor.
Qual a relevância disso para nossa chance de sucesso?
Aqueles que estão olhando para o saldo diário em conta-corrente sendo reduzido, sem o avanço desejado na trilha do negócio, podem responder com maestria.
Para startups em estágio inicial, essa é a principal questão para a sua sobrevivência e evolução. Como já escrevi em outro artigo aqui, o único indicador realmente relevante para esse estágio do negócio é o runway. Em outras palavras, o tempo de vida que a startup tem, calculado pela divisão entre o caixa total em conta-corrente e o valor mensal das saídas líquidas (ingressos menos saídas para pagar custos e despesas), também conhecido como cashburn.
A cultura do projetar versus a do experimentar
A forma mais adequada para lidar com essa armadilha do tempo é fortalecer uma cultura agnóstica, orientada para a experimentação e para o aprendizado veloz, baseado em fatos.
O que isso significa na prática do dia a dia?
Quando estamos na fase de buscar o modelo de negócios, só existem hipóteses. Adotamos premissas sobre diversas particularidades do cliente-alvo, do produto, do preço, dos canais de venda, da comunicação e afins. Ser agnóstico, nessa etapa, significa tratar uma hipótese como o que ela é. Ou seja, algo não comprovado, uma suposição. Hipóteses são o resultado de um exercício de laboratório que todo empreendedor faz quando se debruça sobre mesas de reuniões, post-its, canvas etc.
Como sabemos, não basta estruturar hipóteses robustas para obter êxito. Ter a honestidade e o desapego necessários para lidar com as evidências que emergem do campo de testes, onde a realidade acontece, é essencial para a evolução consistente da busca. Nessa trilha, a verdade não está no laboratório e nem existe a priori. A verdade é uma conquista obtida no campo de jogo, na interação com o possível cliente, com os parceiros e aliados do projeto que estamos construindo.
Quando projetamos o futuro desejado em fluxos de caixa e teimamos em tentar encaixar o pitch e a realidade nas planilhas, temos uma atitude oposta a essa cultura empírica. A cultura de projeções pode ser útil para empresas consolidadas e com elevada previsibilidade de modelo. Não serve para startups. Para elas, a planilha é apoio apenas, dinâmica, em constante evolução à medida que os fatos consolidam aprendizados, validando as hipóteses assumidas ou exigindo um movimento de pivot.
O desafio das escolhas e renúncias
Diante desse contexto e nesse estágio inicial, a capacidade de aprender rápido é o maior ativo que o empreendedor pode ter. E arrisco afirmar e destacar que, para essa capacidade estar presente, dada a complexidade e a volatilidade da nossa realidade, a competência essencial que precisa existir no time estratégico é aprender a aprender.
Por isso, viabilizar o engajamento e o desenvolvimento de um time agnóstico, empírico, competente para aprender a aprender o que for necessário e de forma veloz é o foco número um do empreendedor que está na fase de busca de um modelo de negócios exitoso. Quanto mais fortalecida for essa competência no time, maior será a sua capacidade de fazer escolhas e renúncias assertivas, tomar decisões na velocidade adequada e, com isso, ampliar as chances de superação dessa etapa na jornada empreendedora.