Investimento de impacto: vamos começar pelos princípios

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Caso você ainda não tenha percebido, foi aberta a temporada de divulgação de princípios do Investimento de Impacto. Pelo mundo, não há uma cartilha única e universal sobre quais são os critérios que determinam se um investimento é, de fato, de impacto, ou não. Diferentes organizações lançam seus princípios, na tentativa de comunicar com o ecossistema como propõem esse discernimento.

Lembrando que, segundo o Global Impact Investing Network (GIIN), investimentos de impactos são aqueles feitos em empresas, organizações e fundos com intenção de gerar impacto social ou ambiental positivo. Isso sem abrir mão do retorno financeiro. Temos, portanto, uma definição do que são esses investimentos bem estabelecida. O que se discute inicialmente era “o quê”, e mais, recentemente o “como” os investimentos são feitos para gerar impacto.

Vamos dar um passo para trás. Já há no mundo de finanças “tradicionais” alguns princípios conhecidos ajudam a dar diretrizes aos investimentos de impacto. Entre eles, há os Princípios do Equador. Lançados em 2003 sob liderança do International Finance Corporation (IFC), eles oferecem critérios mínimos para a concessão de crédito – com foco em Project Finance –, que buscam assegurar que os projetos financiados sejam desenvolvidos de forma socialmente e ambientalmente responsável.

Também há os Princípios para o Investimento Responsável, criados em 2006, sob liderança da Iniciativa de Finanças do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP-FI). Estes últimos buscam incorporar aspectos ambientais, sociais e de governança nos processos decisórios de investimento.

Não são os únicos, mas se você está interessado ou faz parte do ecossistema de impacto, não faz nenhum mal conhecer e entendê-los.

Falando em impacto

Já no mundo do Investimento de Impacto, em específico, os primeiros princípios com os quais me deparei foram os da Transform Finance, que, desde 2013, coordena uma rede de investidores da qual a SITAWI Finanças do Bem faz parte. Os princípios são bem concisos:

(1) Os projetos são prioritariamente idealizados, geridos e, quando possível, de propriedade das comunidades;

(2) Os investimentos agregam mais valor do que extraem;

(3) A relação financeira equilibra de forma justa os riscos e retornos entre todas as partes interessadas.*

No Brasil, a Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, antiga Força Tarefa de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, lançou em 2015 uma Carta de Princípios para Negócios de Impacto no país.

A SITAWI foi convidada para o Fórum Europeu de Alpbach, realizado entre 30 e 31 de agosto, onde seria criada uma Declaração sobre Investimento de Impacto. O resultado acabou se materializando em uma discussão de preceitos fundamentais, mais do que em uma declaração de princípios. O resultado da discussão está em inglês e é possível conhecê-lo melhor neste link.

Na saída do evento, o IFC anunciou que estava trabalhando em sua lista de princípios sobre Investimento de Impacto lançada na Reunião Anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial na Indonésia. O GIIN também lançou um roadmap, onde o primeira ação indicada é o fortalecimento da identidade do Investimento de Impacto através do estabelecimento de princípios e padrões de conduta claros.

E não acredito que pare por aí: eu não ficaria surpreso que nos próximos meses surjam mais algumas versões de listas de princípios geradas por diferentes atores.

Um efeito desse excesso de “oferta” de princípios, para nós na SITAWI, foi reforçar a importância de termos claros os nossos princípios (no nosso caso, os da Transform Finance) e a busca contínua para atuar com o maior alinhamento possível com estes.

Tentar sintetizar o que é convergente e o que é complementar pode ser um exercício interessante, mas será mais intelectual do que prático. O importante é que investidores de impacto tenham e divulguem seus princípios e que a sociedade cobre coerência cada vez mais da prática com o discurso.

*Na versão original: (1) Projects are primarily designed, governed, and where feasible owned by communities; (2) Investments add more value than they extract e (3) The financial relationship fairly balances risks and returns among all stakeholders.

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