Por Leonardo Letelier e Fernanda Dativo
Na SITAWI Finanças do Bem, a todo momento estamos em contato com organizações, e várias vezes surge a discussão sobre se aquela organização é um “negócio de impacto” ou não. A Força-Tarefa de Finanças Sociais (atual Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto) lançou há alguns anos uma Carta de Princípios para Negócios de Impacto na qual foram identificadas quatro dimensões-chave para avaliar essa questão: (i) Compromisso com a Missão Social e Ambiental, (ii) Compromisso com o Impacto Social e Ambiental Monitorado, (iii) Compromisso com a Lógica Econômica e (iv) Compromisso com a Governança Efetiva.
Uma forma adicional de ver essa questão, em um nível um pouco mais profundo de detalhe, é avaliar os fluxos operacionais e decisórios da organização para entender “o que está por trás” daquele negócio. O framework que utilizamos na SITAWI passa também pelas seguintes dimensões e perguntas:
Entrada:
- O que compra?
Quando existem alternativas em termos de insumos a ser adquiridos, existe a possibilidade de fazer escolhas com maior ou menor impacto. No caso de negócios de da confecção de produtos, a dimensão ambiental é a mais evidente. - De quem compra?
Quanto maior a aderência entre o fornecedor e a causa, ou quanto mais os fornecedores representarem populações vulneráveis ou excluídas, maior o impacto. - Quanto/como paga?
Especialmente quando comprando de pequenos produtores ou de populações vulneráveis, quanto mais aderente o prazo de pagamento (e maior o valor unitário) às restrições enfrentadas por esses fornecedores (por exemplo, falta de capital de giro ou custos elevados devido a produção artesanal), maior será seu impacto.
Saída:
- O que vende?
Quanto mais diretamente o produto/serviço final buscar resolver um problema social (ou ambiental), maior será seu impacto. - Para quem vende?
Quanto mais vulnerável for o público-alvo (destinatário final ou intermediário) ou menos opções de acesso ele tiver, maior o impacto. - A quanto vende?
Precificação é uma alavanca importante para gerar acesso a produtos e serviços que trazem impacto para populações vulneráveis e/ou margem para negócios cujo impacto está em outro elo da cadeia.
Gestão/Governança
- Como são os processos produtivos?
As escolhas em torno de quem o negócio emprega, suas práticas trabalhistas e o nível de sustentabilidade de seus processos internos – e aqueles ao longo da cadeia que este influencia – têm impacto relevante no dia a dia do negócio e ajudam a mostrar se este também cumpre o que prega. - Quem são os acionistas e como o lucro é dividido?
Com quem fica a maior parte do resultado econômico do negócio tem profundo impacto no longo prazo. Investidores próximos ou distantes da realidade local, empreendedores, colaboradores, mas também a comunidade devem ser recompensados pelos ativos que aportam ao negócio. Afinal de contas, este não existiria sem a parceria dos diversos atores. - Quem participa da governança?
Processos de tomada de decisão são um “locus de poder” evidente em qualquer estrutura. Nos casos em que existe uma população-alvo específica, idealmente representantes desta deveriam fazer parte desses processos. - Como a organização gerencia seu impacto?
Em um negócio de impacto, o impacto é intencional. Para isso, quanto melhor ele for acompanhado, analisado e quanto mais profundamente seus resultados alimentarem a estratégia e as operações, maior será o impacto ao longo do tempo.
Como se pode ver, acreditamos que o formato jurídico (com ou sem fins lucrativos) não é determinante na “qualificação” de um negócio de impacto, e esse impacto pode estar em qualquer uma das nove primeiras dimensões. E, para fins de avaliação para empréstimo ou investimento, cada uma delas tem várias subdimensões ou subperguntas, como, por exemplo: O modelo de negócio (por quanto compra + gestão + por quanto vende) “para de pé”? A equipe de gestão está capacitada para executar o plano apresentado? Os “donos” do negócio apresentam fibra ética?
É importante notar que em cada uma das dimensões pode-se ter níveis de profundidade distintos, o que permitiria pensar em um score de impacto e que as escolhas – e, portanto, o impacto – variam ao longo do tempo e podem ser influenciadas por atores externos (como quando a SITAWI investe num negócio e apoia a melhoria de algumas dimensões).
No dia a dia, vários negócios podem ser considerados (ou se considerar “de impacto”). Acreditamos que um framework simples como o mencionado acima pode ajudar a organizar essa discussão – mesmo que seu objetivo não seja “certificar” os negócios de impacto. Julgamos que, na prática, as decisões tomadas – especialmente em momentos quando as coisas não vão bem – iluminam de forma mais clara quando o impacto é central na organização, e quando não o é.
Gostei muito da matéria, que esclarece o processo que a Sitawi utiliza na avaliação dos seus clientes. Gostaria de perguntar quais são os indicadores de que o cliente não necessita mais de financiamentos da Sitawi por ter se tornado robusto o suficiente para ingressar no mundo das empresas normais.
Fernando
[…] As dez alavancas de impacto – um framework simples para apoiar a discussão […]