A vez do protagonismo da ZL

Confira tudo o que rolou no 1º Fórum de Negócios de Impacto da Periferia da Zona Leste

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Atitude e transformação social a partir da territorialidade. Foi com esta pauta que o 1º Fórum de Negócios de Impacto da Periferia ocorreu no sábado, dia 17 de agosto, no Galpão ZL, localizado no distrito de São Miguel Paulista. O evento contou com mesas e rodas de conversa com diferentes atores do ecossistema de impacto, trazendo a periferia como protagonista de ações e mudanças em seu entorno. Cerca de 200 pessoas estiveram no evento.

Ivan Zumalde (Bancadão e AUPA) foi o responsável pela abertura e as boas-vindas foram feitas pelos poetas e produtores culturais Andrio Candido e Nathielly Duarte, ambos moradores de São Miguel. “Para gente é mais difícil, mas a gente vai conseguir. A gente não pode parar no tempo; temos que continuar, temos que conseguir”, instigou Candido em sua rima. O DJ Bola (A Banca e ANIP) e Susanne Sassaki (Bancadão e AUPA) também deram seu recado na abertura. “Você sabe o que é negócio de impacto ou já ouviu falar sobre isso? Se não sabe, é bom correr atrás disso”, disse ele enfatizando a importância do protagonismo da base da pirâmide social. “Os processos são pontes e travessias. É preciso estarmos cada vez mais juntos; temos que parar de falar sobre dois lados. É preciso viver e não só sobreviver”, enfatizou Sassaki ao compartilhar sua trajetória enquanto mulher empreendedora nascida na periferia.

O painel de abertura “O que são negócios de impacto periférico” contou com a mediação de Greta Salvi (Fundação Tide Setubal) e a presença de Matheus Cardoso (Moradigna), Débora Luz (Clube da Preta) e Fabiana Ivo (A Banca e ANIP). “Transformar aquilo que a comunidade já via há tempos como potencial rentável em algo que, de fato, gere renda”, afirma Luz. Ela enfatiza que negócios de impacto não necessariamente trará renda e dignidade à comunidade, mas negócio de impacto da periferia, sim. “Dinheiro importa também no processo. Negócios da periferia geram renda dentro da comunidade, faz com que a roda ande. É diferente de um negócio de impacto genérico”, explica a representante do Clube da Preta sobre a importância de transformar vidas e gerar dignidade.

E não basta ter uma boa ideia para um negócio que possa agregar transformação socioambiental: os obstáculos para quem vem da base da pirâmide são uma realidade. “O empreendedor periférico tem que mostrar que é capaz antes de chegar à mesa de reunião. Uma baita barreira!”, realça Cardoso. “A maior revolução é consumir negócios de impacto da periferia. Coloque o dinheiro na mão destes negócios. Não quero doação, nem tapinha nas costas: quero contrato na minha mesa para o negócio acontecer”, ensina o fundador da Moradigna. Para que as micro revoluções ocorram, Ivo afirma que é necessário romper a zona de conforto. “É preciso juntar gente diferente para discutir os processos. É fundamental a construção de redes locais para expandir o ecossistema e pensar os espaços de formação. Afinal, quais são os empreendedores que estão no meu entorno?”, provoca Luz, que compartilha as experiências também da Zona Sul.

O evento foi um marco no fomento aos negócios de impacto na ZL. certamente temos um terreno fértil para criar uma grande rede de empreendedores capazes de gerar impacto no território.

Greta Salvi – FTS

A mesa 1 “Investimento e formação para fortalecer a ZL” contou com a mediação de Ednusa Ribeiro (Coletivo Meninas Mahin) e participação de Vivianne Naigeborin (Fundação Arymax), Natalia Menezes (Via Varejo) e Jane Marques (EACH/USP Leste), além do pitch da dupla Diogo Bezerra e Diego Ramos, da PLT4way. “É preciso um mecanismo de investimentos adaptado aos negócios de impacto na periferia, que tem um tempo próprio, diferente do negócio tradicional”, explica Naigeborin. “Caso contrário, os negócios de impacto se tornarão negócios tradicionais”, complementa. Na mesa, ressaltou-se ainda que o empreendedor da periferia costuma ter uma dimensão multifocal, pois, além de atender à demanda de sua comunidade, ele não tem capital inicial (e nem dinheiro para errar) e tem mais de um emprego (geralmente, uma empresa mais ao Centro).

A mesa 2 “Criatividade como fator estratégico nos negócios periféricos” teve a mediação feita por Márcio Cardoso (Emperifa). Como convidados para compartilhar suas experiências estavam Flavia Viana (Oi Futuro), Edson Leite (Gastronomia Periférica), Klaibert Miranda (EmpreendeCasa) e Daniel Manjarres (British Council). “Criatividade é enxergar o óbvio que está na nossa frente, de outra maneira. Muitas vezes, não falta criatividade, mas, sim, coragem”, ensina Miranda. O pitch da mesa ficou por conta de Pedro Barreto Elias, da empresa Parabéns, te odeio.

O Forum ZL mostrou o quanto a periferia é potente, criativa, empreendedora e colaborativa.

João Guedes – Emperifa

A mesa 3 “Oficina de comunicação de impacto na (e para) quebrada” contou com a participação de Fábio Ranzani (Zine Filmes), Cacau Ras (Portal Cultura Leste), Regiany Silva (Nós, mulheres da periferia) e Léu Britto (Dicampana Fotocoletivo). A mesa, com a mediação de Zumalde, teve a exibição do web documentário Perimpacto: onde a periferia e os negócios de impacto se encontram (AUPA/Instituto Sabin/Zine Filmes). “Há um desafio de ser um negócio de impacto e encontrar um modelo de negócio viável”, comenta Silva. “A vontade de empreender nasce do desejo de fazer algo pela sua quebrada, pela necessidade evidente. Isso poderia ser a minha renda – e eu não precisaria ir trabalhar lá em Pinheiros todos os dias”, expõe a fundadora do “Nós, mulheres da Periferia”, que nasceu na Cidade Tiradentes e hoje reside na Cohab 2, em Itaquera. “É preciso dialogar com o preto e com o pobre”, finaliza ela. Sobre a mudança de postura para se enxergar como empreendedor, Ranzani comenta: “É a mudança de se ver como protagonista. E como nos vendemos, indo além das histórias que contamos, como fazemos? A gente faz fazendo”, ensina ele.

“Possibilidades de rever conceitos,um encontro de sonhadores,visionários e realizadores de possibilidades.”

Cacau Ras – CULTURA LESTE

O encerramento ficou por conta de Ana Paula Nascimento (A Preta Produções) e Priscila Novaes (Kitanda das Minas), com apontamentos sobre empreender para o futuro. “Nós não nos vemos como empreendedores na periferia, principalmente as mulheres negras. É preciso mudar isso. A periferia precisa se autovalorizar”, aponta Nascimento. Enquanto o Projeto Sou do Samba ZL subia ao palco, era possível ‘trocar figurinhas” reforçar a rede de contatos depois de tantos diálogos – e também saciar a fome com empreendedores locais e iniciativas que buscavam oferecer produtos alimentícios. Valéria Lopes vendia feijoada para angariar fundos para a igreja Arca da Aliança. Representando a Bonatelli Doces e Salgados, Fátima Carmo Santos Bonatelli vendia salgados, que também podiam ser encomendados, numa iniciativa que acontece desde março. Funcionando desde 2017, o afrobuffet Kitanda das Minas vendia acarajé, cocada e dadinhos de tapioca – sustentável, o acarajé era servido na folha de mamona. O Pokazideia, em parceria com o Gastronomia Periférica, vendia a cerveja Azedinha, feita de PANCs (Plantas Alimentícias não convencionais). Artesanato e vestuário ficou por conta do Coletivo Meninas Mahin e do Bazar Arteiras do Artesanato. Para os que queriam livros, Candido e Duarte garantiam exemplares sobre literatura periférica e a editora MyMag publicações sobre negócios de impacto. Trocas e diálogos com a periferia sendo protagonista, ensinamentos e aprendizados de quem se propõe à coletividade e à transformação social. Como diz o pagode tocado pelo Sou do Samba, de autoria Xande de Pilares (do grupo Revelação): “Basta acreditar que um novo dia vai raiar, sua hora vai chegar”.

 

 

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