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O SmartSíndico olhou para onde ninguém havia olhado ao criar uma solução de gestão para condomínios de habitação social. Mas o app ficou muito tempo na prancheta até ser lançado.
Texto Tiago Mota | Fotos agência Ophelia | Vídeo Ação Luz
“Tentamos atingir uma perfeição que não valia a pena. Era uma ideia que só existia na nossa cabeça, mas não focava no usuário final.” Depois de conhecer o SmartSíndico é estranho ouvir Guilherme Ribeiro lançar uma frase assim. Trata-se de um aplicativo para smartphone completo para gestão de condomínios de interesse social, como CDHU, no estado de São Paulo, ou Cohab. A solução junta soluções para gestão financeira e canal de comunicação entre moradores e administradores. Porém levou muito tempo para chegar até um produto tão completo. É aí que mora o arrependimento de Guilherme: “Se eu tivesse lançado antes, hoje eu teria um software muito mais maduro e teria muito mais clientes”.
A Empresa
A SmartSíndico existe apenas desde 2017, mas o caminho que levou ao seu desenvolvimento já tem mais de uma década. Em 2004, Guilherme foi convidado para realizar uma consultoria para o Banco Internacional de Desenvolvimento (BID), que então estava envolvido nos investimentos para um projeto de revitalização – como foi chamado na época – do centro da cidade de São Paulo. Guilherme já tinha acumulados dez anos de experiência com administração de condomínios trabalhando na empresa de sua família. Como o projeto do BID envolveria construção de habitações populares, ele e outros profissionais foram chamados para pesquisar e pensar sobre as peculiaridades de gerir um condomínio com esse perfil.
Foi durante a consultoria que conheceu seus sócios na SmartSíndico, Cássio Thut e Laerte Temple. Até então os três criavam cursos de formação para gestores de condomínios sociais em parceria com a prefeitura de São Paulo. Em 2010 eles começaram a participar de licitações do governo do estado para administrar esses condomínios. A partir disso, passaram sete anos qualificando gestores, e os resultados foram ficando claros: a manutenção dos condomínios melhorou, a inadimplência caiu e o cuidado geral com a propriedade aumentou.
Mas foi no final de 2016 que os três se juntaram novamente para ter a ideia do que viria ser a SmartSíndico. “Pensamos em fazer isso de forma digital”, recorda-se Guilherme. “A gente sabia que o governo não tinha condições de atingir uma quantidade grande de condomínios. E criamos um modelo para digitalizar os processos e conseguir criar escala no estado inteiro e em qualquer lugar do Brasil.”
De lá para cá, a SmartSíndico venceu o programa PicthGov, em 2017, e se tornou a primeira startup de impacto em habitação homologada pelo estado de São Paulo, o que facilitaria sua contratação pelo governo. Em seguida, participou da Estação Hack, o programa de aceleração do Facebook e da Artemísia, além de outras acelerações importantes.
Hoje, a SmartSíndico já possui clientes em 22 estados brasileiros – todos condomínios que a contrataram diretamente, e não por meio de governos ou prefeituras – e fatura, em média, R$ 80 mil mensais. Porém, mesmo estando no ar, a plataforma só foi oficialmente lançada e divulgada a partir de março de 2019. Os preços para contratar a solução serão revelados a partir do lançamento. Até aqui, Guilherme e sua equipe passaram o tempo testando e atualizando a plataforma. E essa demora foi um problema.
O Erro
Guilherme e seus sócios já acumulavam muita experiência quando decidiram empreender com a SmartSíndico. Mas essa seria a primeira startup deles. Logo, o trio começou a planejar a plataforma sem a agilidade tão familiar de quem participa do ecossistema de inovação. Pelo contrário: aplicando as metodologias tradicionais de formulação de um plano de negócios, os três levaram um ano até chegar na primeira versão do aplicativo.
“Nós percebemos que não havia uma ferramenta de gestão financeira completa para condomínios no mercado, muito menos para baixa renda. E fazer uma solução dessas é maravilhoso”, conta Guilherme. “Mas a gente começou pela parte mais difícil, que era pensar nessa plataforma financeira. Se tivéssemos criado funcionalidades simples, divertidas, e as lançado antes, teríamos crescido mais rápido no começo.”
No início, o aplicativo da SmartSíndico foi pensado mais para ajudar os gestores. Por isso mesmo, Guilherme dedicou um ano tentando levar para o digital toda experiência que tinha com processos delicados, como a própria gestão financeira. “Só que nesse tempo demos muitas cabeçadas. Cada atualização do aplicativo levava ciclos de tempo longos. O pior é que, ao olhar para o síndico, não atentamos para o que de fato os moradores queriam do aplicativo, e eles buscavam algo mais simples do que estávamos fazendo.”
Quando se trata de uma solução tecnológica, o tempo é precioso. Planejar rapidamente para lançar e testar logo vale mais a pena do que levar meses na prancheta para lançar, só então testar e acabar tendo de atualizar a plataforma de qualquer jeito. Pelo menos essa foi a avaliação de Guilherme: “Um ano é muito tempo para uma startup. Se fosse mais ágil, hoje eu teria uma base maior e já teria testado a plataforma várias vezes.”
A Solução
Em um caso como esse, o primeiro passo é tentar compensar o tempo perdido. “A necessidade de testar, errar e corrigir com velocidade se dá pela necessidade de capital que vai sendo queimado nesse processo”, comenta Marina Ramos, analista da Artemísia responsável pela aceleração da SmartSíndico.
O importante, porém, foi mudar o foco e atentar para as necessidades do usuário. “Sim, o planejamento é importante. A falta dele pode ser tão perigosa quanto o perfeccionismo. Mas só é possível saber onde é essencial melhorar com o público usando sua solução”, ensina Marina. “Esse usuário precisa de fato da sua solução? Ele vê valor e está disposto a pagar por isso? São respostas que só vêm de quem realmente usará o produto.”
O que Guilherme e a SmartSíndico fizeram, então, foi abrir o leque, percebendo, ainda que tardiamente, que sua solução não poderia ser só para síndicos, mas também para moradores. E o que eles queriam era mesmo um canal de comunicação. Com isso, a plataforma possui a complexa gestão financeira, mas se tornou muito mais uma gestora de comunidade.
Depois disso foi possível recuperar um pouco do tempo (e dinheiro) perdido. “Com isso a gente trouxe uma massa enorme de usuários e fazer as coisas bem mais rápido”, explica Guilherme.
Os Desafios
Finalmente, a plataforma está mais madura e a empresa está pronta para lançá-la no varejo. Com isso, Guilherme pretende investir pesado em marketing e propaganda, com o objetivo de aumentar o número de usuários alcançados. E, é claro, continuar evoluindo. “É preciso estar aberto para revisar suas certezas, levantar dúvidas e incorporar mudanças no meio do caminho. Uma ideia que vale o empreendedor aplicar em suas rotinas é se perguntar: ‘O que eu aprendi com meus clientes esta semana?’”, conclui Marina Ramos.
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