Empreender-se: O empreendedor social na essência

É preciso questionar-se: a quem ou a que impacto com minhas ações empreendedoras? O que faço com meus ativos empreendedores?

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No último artigo, escrevi sobre como nosso mundo precisa de mais empreendedores utópicos. Empreendedores sociais autênticos são movidos pela utopia de um mundo mais digno, justo, equânime, sustentável, sempre. Cada um ao seu modo, agarra-se a essa “corda” que nos mantém atados ao ponto do futuro que desejamos criar, apesar das intempéries, das distrações, dos obstáculos, dos “nãos”, da ignorância sobre o caminho.

Ao observar a maioria dos livros, eventos e debates sobre empreendedorismo, percebo que muito se fala sobre empreendedores serem protagonistas da história e construírem o futuro. Falamos também sobre formas para encontrar modelos de negócios saudáveis, sobre quais competências devemos ter no time e sobre como nossa empresa deve estar organizada para permitir que o modelo funcione em todo o seu potencial. E claro, sobre como financiar todo esse processo.

Entretanto, pouco se trata do pilar central dessa jornada, pois raramente mergulhamos no exercício de destrinchar aquele que é alma que dá luz ao processo. Me refiro ao empreendedor. Quem é o Ser Humano que empreende a sua utopia social? Qual a sua essência e a sua identidade? Qual é a sua história? Quais crenças e valores o levam a essa jornada empreendedora? Como elas foram formadas? Quais os seus medos e angústias? O que o faz feliz e realizado no dia a dia desafiador de construir mercados para atender a quem de fato precisa? O que o levou a fazer essa escolha de vida diante de tantas outras possibilidades? O que o mantém no caminho e na busca?

Nossa vida é um reflexo da natureza dos nossos sonhos e da nossa vontade, no âmago, a essência de quem de fato somos. Para o mundo, somos o que fazemos. É na transformação gerada pela nossa ação empreendedora que imprimimos pegadas e modelamos o mundo que nos cerca. Se queremos mais empreendedores utópicos, é essencial desbravarmos essas questões. Como diz sabiamente meu querido amigo Fernando Dolabela, há que se falar do criador e não apenas da criatura.

Conhece-te a ti mesmo

Nesta busca, aprendi que há cinco grandes perguntas que precisamos responder para mergulhar nessa rica compreensão do criador – o Ser Humano empreendedor.

1. Quem sou – minha identidade e autenticidade? A resposta a essa pergunta está na base da minha intenção de futuro;

2. A que “sirvo” – o que de fato importa na minha vida? A resposta a essa pergunta espelha meus valores, princípios, propósito;

3. Qual minha vontade e firmeza para sustentar as minhas escolhas? A resposta a essa pergunta reflete a coerência e consistência dos meus atos;

4. O que faço – minhas atitudes, escolhas, renúncias e omissões? A resposta a essa pergunta nos fala sobre a integridade dos meus atos frente às respostas anteriores;

5. A quem / ao que impacto – as consequências dos meus atos? A resposta a esta pergunta define nosso campo de ação empreendedora.

A qualidade das respostas a essas cinco perguntas define a essência da nossa alma de empreendedores sociais. É uma busca contínua. Não é uma resposta fechada. A pergunta está sempre aberta e em criação.  E aprendi pela experiencia, lidando com centenas de empreendedores, que quanto mais profundidade e seriedade há na jornada de trabalho sobre essas perguntas grandes, maior qualidade tende a existir na formação da cultura empreendedora do time que levará adiante o desafio de encontrar um modelo de negócio sustentável e construir uma empresa saudável.

Uma boa dica para responder a essas perguntas é começar de traz para frente. De fora para dentro. A quem ou a que impacto com minhas ações empreendedoras? O que faço com meus ativos empreendedores – meu tempo, meu recurso, minha inteligência, etc? E assim adiante. Deixamos rastros e pegadas de quem somos. Para podermos nos conhecer mais, podemos começar por ai.

Fácil? Jamais. Muito desafiador. Nos deparamos com rastros que não gostaríamos, incoerências, arrependimentos e afins. Mas, e aqui é um grande MAS, a atitude aqui deve ser a mesma atitude empreendedora que utilizamos no desenvolvimento do nosso modelo de negócios. Abertura para a descoberta, evidencias sobre o que lidamos, velocidade de aprendizado, desapego ao que não gera valor real.

Quanto mais avançamos na jornada empreendedora, mais descobrimos que empreender-se é parte essencial dessa vida. Afinal, qual a graça do caminho se não sentirmos que podemos nos tornar pessoas melhores ao percorrê-lo?

Boa busca!

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