Entre a universidade e a incubação: desafios territoriais, com foco nas soluções socioambientais

Arca Multincubadora busca alavancar o empreendedorismo na região Centro-Oeste ao apoiar negócios de impacto

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A região Centro-Oeste é a segunda maior do Brasil em extensão territorial, ao mesmo tempo que é a menos populosa. Composta pelos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, além do Distrito Federal, a agricultura é uma das atividades de maior destaque nesta região: dos 213 milhões de toneladas de grãos projetados para a safra de 2016/2017, o Centro-Oeste liderou a produção brasileira com 90,6 milhões de toneladas, em 2017. 

Considerando as complexidades desta extensão e da atividade agrícola, bem como os impactos socioambientais, a Arca Multincubadora atua para mostrar que o empreendedorismo pode ser a solução. Trata-se de uma  incubadora que contribui com os negócios de impacto, de modo a apoiar a gestão e o planejamento destes empreendimentos, qualificando pessoas e organizações. 

Celso Kiyoshi Hazama, presidente da Arca. Crédito: Arquivo Pessoal

“Em nosso Estado, as organizações de base comunitária, normalmente, cooperativas e associações, são negócios que nascem com propósito de mitigar os problemas locais – contudo, sem planejamento e, sobretudo, sem nenhuma estrutura física ou financeira”, comenta Celso Kiyoshi Hazama, presidente da Arca. A organização capta recursos para apoiar e estruturar os negócios. Porém,  a incubadora está mudando a estratégia, agora com foco na prestação de serviços e assessoria para as organizações. 

 

A Arca Multincubadora tem atuado em frentes como: desenvolvimento comunitário, disseminação do conhecimento, empoderamento social, participação em fóruns e conselhos, assistência técnica social, promoção do extrativismo, produção agroecológica e formalização de uma rede de Agricultores Familiares no Bioma Pantanal. 

Durante a pandemia, a incubadora fez parceria com a AMAGGI, empresa de produção agrícola, para distribuir 630 cestas básicas para famílias da zona rural na baixada cuiabana. A Arca iniciou a ideia do Fundo “Um Por Todos E Todos Contra a COVID-19”, rede de incentivo para estimular a doação para organizações sociais que estão na linha de frente, junto às famílias que precisam de assistência. Ao todo, a Arca Multincubadora já impactou 29 empreendimentos.

“Nosso trabalho busca promover negócios verdes com base em agroecologia e extrativismo. Contudo, as atuais políticas têm prejudicado o nosso trabalho por diversos fatores, entre eles, a dificuldade de regularização ambiental e a falta de editais e recursos para assistência técnica”, comenta Celso Hazama.

Ruiter Pinto de Araújo, vice-presidente secretário da Arca. Crédito: Arquivo Pessoal

Ruiter Pinto de Araújo, vice-presidente secretário da Arca, conta que a incubadora surgiu com a necessidade dos professores-pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) colocarem em prática suas pesquisas. “Além da UFMT, a Arca tem bom relacionamento com os professores do Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT) e da Universidade do Mato Grosso (UNEMAT)”, destaca Araújo.

 

 

Empreendedorismo na região
A Arca Multincubadora foi fundada em 2001, com a iniciativa de pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso, que estavam incomodados com as dificuldades para fazer com que os resultados de suas pesquisas fossem aplicados nas soluções de problemas regionais. A nova forma proposta, denominada posteriormente de “Pesquisador Cooperado”, teve como ponto de virada a participação de pesquisadores da UFMT, que se tornaram associados da Cooperativa de Pescadores e Artesãos do Pai André e Bonsucesso – Coorimbatá, que havia alterado seu estatuto, incluindo a pesquisa científica como um dos seus objetivos.

Embora a Arca tenha sido criada na UFMT, Araújo explica que, após o falecimento de um dos fundadores, Nicolau Priante Filho, em 2018, a direção da universidade não renovou o contrato com a incubadora. “Quando havia o convênio com a faculdade, os trabalhos dos alunos eram utilizados sob forma de estágios de suas respectivas áreas”, descreve o vice-presidente.

Por sua vez, Hazama destaca que a Arca Multincubadora tem como objetivo o desenvolvimento econômico, financeiro, social e ambiental de negócios de impacto social. “Nossos principais beneficiados são associações e cooperativas de base comunitária que tenham um propósito de impacto social ou ambiental.”

Elisângela Oliveira é presidente da Associação de Mulheres Agricultoras Familiares Pérolas do Cerrado. Crédito: Arquivo Pessoal

Elisângela Oliveira é presidente da Associação de Mulheres Agricultoras Familiares Pérolas do Cerrado, uma das organizações beneficiadas pela Arca Multincubadora. “Produzimos ovos e galinha caipira, melancia, mandioca, abóbora, mamão e extraímos castanha de baru. A associação é composta por mulheres e a parceria com a Arca busca a comercialização”, comenta.

 

 

 

A associação tem trabalhado na forma de assistência familiar através das mulheres,  tornando-as um provedor de recursos por intermédio da produção. Assim, a organização consegue fortalecer o seio familiar e combater o êxodo rural, fomentando a conscientização de produção agroecológica e sustentável. “A comunidade fortalece a economia local, as famílias geram emprego e levam aos consumidores o melhor das produções”, explica Oliveira. 

A Associação de Mulheres Agricultoras Familiares Pérolas do Cerrado surgiu em um momento em que faltavam atividades direcionadas a apoiar mulheres. “A Arca Multincubadora foi fundamental no início desta caminhada. Os treinamentos e cursos despertaram e fortaleceram as ideias das pérolas”, comenta Elisângela.

Entre os projetos da associação, há a cozinha multifuncional que, para funcionar,  incentiva diretamente pequenos projetos de cultivos e extrativismo. A organização ainda valoriza a produção da região para colocar no mercado os produtos embalados e a vácuo. 

Parceiros
Celso Kiyoshi Hazama destaca o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi) e o Sindicato Rural de Cuiabá como as novas parcerias da Arca. “O Sicredi nos ajuda em cursos de gestão financeira e o Sindicato Rural de Cuiabá com a cessão de uso da atual sede. Apesar de já termos atingido 29 empreendimentos, devido à falta de recursos, esses negócios não conseguem ser mensurados – e mal conseguem manter o funcionamento. Temos um público que precisa profissionalizar o negócio e há ainda muitas dificuldades que precisam ser superadas”, relata o presidente da incubadora.

Vale ressaltar, que Políticas Públicas impactam a atuação da incubadora. “Nós atuamos à luz da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Política Nacional de Crédito Fundiário, Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, Política Nacional de Economia Solidária, Política Nacional de Desenvolvimento Regional, dentre outras”, elenca Hazama. “Por sermos uma incubadora com CNPJ próprio, tínhamos um termo de parceria que poderíamos utilizar um espaço no Escritório de Inovação Tecnológica da Universidade, porém este termo venceu e não foi renovado”, completa. 

As ações da Arca têm suas raízes nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas. Um dos destaques é o ODS 2, que planeja dobrar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores de alimentos, particularmente de mulheres, povos indígenas, agricultores familiares, pastores e pescadores. A incubadora alinha-se também ao ODS 12, que busca implementar o Plano Decenal de Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis e alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais.

 

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