No Jardim Ângela, região Sul da capital de São Paulo, pesquisadores da Universidade Loughborough (Londres) se reuniram para conversar e trocar conhecimentos sobre empreendedorismo social, principalmente dentro das periferias. Os anfitriões do encontro foram DJ Bola e Fabiana Ivo, da ANIP (Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia), referência no ecossistema que fomenta empreendimentos sociais e de impacto nas regiões periféricas. Este diálogo foi fruto de uma ponte feita entre Aupa e as organizações envolvidas.

Mapa de São Paulo indicando Jardim Ângela. Créditos: Equipe de Arte da Aupa - Jornalismo em Negócios de Impacto Social.

Ao longo do dia, Bola e Fabiana guiaram os pesquisadores pela história do distrito e como os contextos de violência, vivido pelos integrantes na década de 1990, influenciaram a criação da produtora A Banca e, posteriormente, a ANIP.

Para entender esse contexto: Em 1996, a Organização das Nações Unidas considerou a região do Jardim Ângela, um dos lugares mais perigosos do mundo. Devido aos altos índices de criminalidade e baixos indicadores de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) entre os moradores. Na última década, a região, que abriga 317 mil habitantes – dados do último Censo IBGE -, vem tendo um cenário melhor. Porém, os desníveis sociais ainda persistem e são trabalhados ou amenizados com iniciativas, como a da A Banca.

Fabiana Ivo vê que todas as ações desenvolvidas (por organizações e coletivos), nos últimos vinte anos, contribuíram para essa melhoria no local. No caso da A Banca, utilizar da cultura Hip-Hop – muito popular e forte nas periferias – criou um diálogo direto com aquela juventude. “A gente fez da música uma ponte, inclusive, para fazer com que as pessoas se encontrassem na própria periferia. Algo próprio na época, nossos encontros em praças públicas permitiram essas misturas e, delas, criou-se a consciência de que eram iguais, independentemente do lugar. Rompeu com as práticas de violência que existiam no território”, diz Fabiana. Os membros da A Banca formam a banda Abôrigens.

O que agrega para ambos os lados?
Ana Cristina Suzina, pesquisadora na área de Mídia e Democracia da Universidade Loughborough e guia da expedição pelo Brasil, acredita que conexões como essa visita ao Jardim Ângela, permite entender quais são as reais questões de desenvolvimento que as periferias enfrentam, indo além de problemas estruturais e financeiros. “Se nós queremos falar sobre desenvolvimento ou conhecimento social, precisamos estar com os olhos mais abertos e os ouvidos atentos para se aproximar a essas realidades e dialogar com elas”, ela comenta.

Para Fabiana, espaços como esse provocam um auto-reconhecimento de privilégios e uma reflexão em cima das práticas no dia a dia: conversar com pessoas fora da sua realidade (econômica, racial ou gênero). “Receber pessoas da ‘gringa’ ou brasileiros que são de relações sociais diferente das nossas, mostrou, para nós, a potência que temos e qual inovação desenvolvemos. Entendemos que intercâmbios, trocas e redes, que vamos construindo e nos conectando, impactam a mudança de uma vírgula no processo histórico e é uma vírgula no processo histórico”, afirma Fabiana.

*Conteúdo apurado antes da pandemia e das medidas de segurança com isolamento social.

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