Quando o assunto é câncer, é comum associá-lo a adultos. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), esta é a doença que mais mata entre crianças e adolescentes (entre 0 e 19 anos). A cada hora há um novo caso da doença neste público. A estimativa para 2020 é de 8.460 novos casos, ainda segundo o INCA. Não por acaso, fevereiro é um mês de conscientização e informação sobre a doença: nele há os dias Mundial do Câncer (4) e Internacional da Luta contra o Câncer na Infância (15).
A atuação de organizações e o surgimento de novos negócios que possam prestar serviços e assistências aos pacientes oncológicos e suas famílias estão dentro das premissas que se espera das soluções socioambientais. E a própria Constituição Federal assegura a saúde, por um todo, enquanto um direito de todos, além de ser dever do Estado, “Garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (Art. 196). Para saber mais sobre os direitos do cidadão acerca da saúde na Constituição Federal, leia aqui.
O Instituto Ronald McDonald (IRM) atua há mais de 20 anos para aproximar famílias da cura do câncer infanto-juvenil para, assim, aumentar as chances de cura da doença. O objetivo é aproximar os patamares dos países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) bem alto, que ultrapassam 85% das chances de cura. Hoje, no Brasil, este número gira em torno de 64%. Para tanto, a organização investe no Programa Diagnóstico Precoce, para que crianças e jovens possam chegar ao hospital ainda na fase inicial da doença, de modo a diminuir os custos para o tratamento e aumentar as chances de cura.
O Programa Diagnóstico Precoce foi implementado em 2008 e já alcançou 204 municípios brasileiros. São 26 mil profissionais de saúde capacitados e 10 milhões de pessoas impactadas indiretamente por intermédio de 93 projetos executados.
E a sociedade civil também pode contribuir. “Para que possamos avançar é fundamental divulgar, cada vez mais,a causa da oncologia pediátrica”,
explica Francisco Neves, Superintendente do Instituto Ronald McDonald.
“É possível fazer parcerias e doações de pessoas físicas e jurídicas através de sites, aplicativos e apoio a eventos”, completa.
O Instituto ainda atua em outros programas para promover a estruturação de hospitais especializados, a hospedagem para as famílias que residem longe dos hospitais e também a capacitação de profissionais de saúde para realizarem o diagnóstico precoce. “Incentivamos a adesão a protocolos clínicos de tratamento, além de promover a disseminação de conhecimento sobre a causa. Identificar precocemente o câncer infanto-juvenil é determinante para que o tratamento tenha mais chances de apresentar resultados positivos”, comenta Neves.
Os tumores em crianças e adolescentes são diferentes daqueles presentes em adultos. E há outras particularidades, segundo o INCA: por exemplo, os fatores de risco relacionados ao estilo de vida (como o tabagismo) não influenciam o risco de uma criança desenvolver câncer. “Além do tipo de tumor, o desenvolvimento do câncer depende muito da evolução do comportamento clínico, como ele evolui no paciente e a localização primária também”, explica a pediatra de emergência Mariana de Araújo Patrocínio.
De uma maneira geral, na escala de cânceres, são mais comuns na infância e na adolescência as leucemias, os linfomas e os tumores de sistema nervoso central. Contudo, a pediatra alerta: “Os sintomas, na verdade, são muito inespecíficos e essa é a maior dificuldade no diagnóstico, já que os sinais podem se assemelhar a outras doenças comuns na infância”. Dentre os sintomas que demandam atenção estão: prostração, aparência de fadiga, alteração na marcha ao se locomover, além de qualquer tipo de alteração no comportamento. Por isso é importante o acompanhamento de um médico pediatra de ambulatório desde os primeiros dias de vida, com a frequência variando de acordo com a faixa etária. É a partir da avaliação deste médico, que pode demandar solicitação de exames, que o paciente pode ser encaminhado a um centro de oncologia ou para um especialista, que é o oncologista e hematologista pediátrico.
O hospital público (Sistema Único de Saúde – SUS) e a especialização de Saúde da Família são de extrema relevância para o diagnóstico e o tratamento do câncer infanto-juvenil. O médico especialista em Saúde da Família conhece o histórico inteiro da criança e de sua família, assim como a história social destas pessoas. “Tanto o médico de ambulatório quanto o médico da família são de suma importância, pois são a base da investigação. São eles quem primeiro tem o contato com estes pacientes, acerca da primeira suspeição da criança ou do adolescente com câncer”, enfatiza Patrocínio. Vale ressaltar que tanto os aportes financeiros quanto emocionais são essenciais para a família do paciente com câncer, sobretudo quando este paciente é uma criança ou um jovem. “Muitos pais precisam deixar seus empregos para que o filho possa realizar o tratamento. Por isso que programas que amparem as famílias são importantes. Afinal, é uma situação que desestabiliza e desestrutura a família toda e que requer atenção e amparo”, completa a pediatra.