1) O dia a dia da escola pública te ensina a enfrentar pressão e dificuldades. Qual o maior aprendizado que você tira dessa situação de estresse? Como é ser uma diretora de escola na periferia?
A Educação é um espaço de construção e esperança. Situações de estresse são cotidianas no trabalho por se tratar de instituição com cidadãos em formação e no momento de maior fragilidade e potencialidade de seus corpos e vidas. Ser diretora na periferia é ter embrenhado o papel de educadora na integralidade e reconhecer o papel social da escola. A “competição” com o que acontece fora dos muros é desleal! Nos extremos da periferia a única instituição que tem capilaridade para todos é a escola, nenhum outro direito é garantido. Em especial com os adolescentes, o acesso à cultura, lazer e ao esporte fora do espaço escolar é praticamente inexistente. São mais suscetíveis a outros tipos de aliciamento pois ficam muito tempo na rua e sem supervisão. Os bairros são dormitórios e as famílias trabalhadoras passam boa parte do tempo no transporte público e trabalho. Estes são aspectos que não podem ser desconsiderados. Precisamos saber onde, para quem e por que oferecemos o nosso trabalho sempre com máximo de presteza num contexto em que o povo é acostumado a ser desrespeitado.
2) E sobre o trabalho com educação de crianças e adolescentes. Eles te ensinam algo? Como é essa relação de troca e como foi a pandemia
Penso que ser educadora é ter a capacidade de se realizar no outro. Todo professor é embalado por uma alegria imensa a cada pequena conquista: quando leem pela primeira vez, quando são protagonistas numa atividade externa, quando estão esplêndidos numa mostra cultural ou todos saudosos na formatura. Trabalhar com crianças e adolescentes é também sempre estar atualizado com gírias, músicas e personagens infantis e também é ter contato com diferentes realidades e vivências. A relação de troca e cuidado são constantes, até mesmo num momento difícil! Outro dia uma criança de 11 anos me procurou e relatou uma situação de violência sexual vivida em casa. Imagine a confiança e desespero que sentiu ao decidir contar isso para a diretora da escola? Muitos educadores são considerados pontos de confiança. Por eles não podemos falhar. A escola é um espaço que cabe a todo mundo e não podemos esquecer isso. A pandemia nos trouxe um sentimento da importância de valorizar o essencial, o que nos sustenta, o imprescindível. Ser modelo, educador em tempo integral e no contexto de precarização e desrespeito, inclusive por autoridades, não é algo fácil, mas precisa ser uma decisão. A precarização é tão presente no nosso cotidiano que aprendemos a agir com a tal criatividade desde a formação no magistério. Ser educador não é dom, é escolha. E não é qualquer escolha, pois traz consigo a militância por melhores condições de trabalho e de construção de um mundo melhor. Se isso ainda te move mesmo que precise de pausas para cuidar de si, a escola ainda é seu lugar. Juntos somos mais fortes!