Em uma era de retrocesso de direitos e aumento do desemprego, qual o papel e os desafios do trabalhador hoje?
A recente reforma trabalhista e as mudanças no mundo do trabalho resultaram em menos acesso a direitos sociais pelos trabalhadores. Para além disso, a própria crise econômica e política do país se expressa no mercado de trabalho, e o acesso aos direitos conquistados no passado ficam mais difícil. A legalização do trabalho intermitente e a dificuldade de acessar a justiça do trabalho são exemplos dessa realidade. Sem alternativas, os trabalhadores estão adotando caminhos por conta própria em um processo brutal de individualização do trabalho. Os coletivos, os sindicatos ou outras organizações não conseguem mais proteger como antes e a precarização acaba minando os direitos sociais. A chamada digitalização do trabalho de plataforma e a uberização dão uma falsa sensação de segurança e as pessoas acabam se engajando de forma individual e sem proteção social. É fundamental olhar para esse fenômeno de individualização que o mundo digital vai provocando no mundo do trabalho para perceber como todas as desigualdades estão presentes nessas relações. As desigualdades raciais e de gênero fazem as bordas desse mundo onde vivem pessoas ainda mais desprotegidas e o momento de desemprego atual acaba empurrando os mais vulneráveis para trabalhos piores e com menores remunerações.
E como ficam os jovens e a perspectiva de futuro? Há alguma alternativa que produza mais sentido no mundo do trabalho?
A precarização do mundo do trabalho é, no final, a precarização da própria vida. Se você tem um trabalho precário, com remuneração baixa, você vai morar e viver em piores condições. Para os jovens isso é ainda mais desafiador. Eles têm maior dificuldade para acessar o ensino universitário e a entrada no mercado é mais difícil. Essa condição determina menores possibilidades de trajetórias profissionais que pudessem superar o passado e os próprios pais, uma questão geracional. O jovem vive essa crise de futuro. Uma crise também na questão ambiental e do próprio futuro do trabalho. O que estamos comunicando para os jovens? Que as tecnologias desempregam, precarizam e que não vamos gerar oportunidades para empregar a massa de desemprego estrutural que estamos produzindo. Mas também aparecem perspectivas otimistas dentro desse contexto. Existem trabalhos no campo da cultura em que as pessoas podem realizar uma produção de sentido para além da remuneração. Uma espécie de trabalho fora do trabalho, uma complementação subjetiva capaz de produzir sociabilidades mais relevantes. Uma vida mais forte em subjetividades e menos precária. Vejo o campo da cultura e da economia solidária, por exemplo, produzindo relações sociais e possibilidades de uma sociedade mais interessante para o mundo do trabalho e para o próprio futuro.