“Inovação” é o hype de todos os setores. No campo do desenvolvimento social, quem ainda não ouviu falar de “inovação social”? No mundo das startups, das fintechs, dos desenvolvedores de tecnologias: inovação é mandatório. O pensamento “Lean” e os princípios da agilidade são os norteadores da implementação dos processos de inovação nos setores mais tradicionais da Economia, mas pouco se ouve sobre eles nas organizações de impacto.
O manifesto ágil e seus desdobramentos são muito conhecidos entre profissionais que trabalham com gestão de dados, tecnologia da informação e sistemas. Quando o conheci, fiz um paralelo com aspectos que discutimos na gestão de projetos em organizações que buscam impacto social, e me perguntei: por que a discussão sobre a gestão ágil e o pensamento enxuto ainda é tão reduzida no campo social?
Especialmente neste momento de pandemia mundial, mais do que nunca, as organizações e as respectivas equipes que desenvolverem a habilidade de atender necessidades rapidamente, transformando de maneira muito ágil seus planejamentos e suas entregas, terão especial condição para sobreviver e atender às populações apoiam.
(Coincidentemente, ou não) tenho tido a felicidade de trabalhar, por meio da Tekoha, com a Alexandra Meira. Além de consultora independente, também é diretora de projetos da Aliança Empreendedora. Ela compartilhou comigo que, há dois anos, a Aliança vem passando por um processo de reflexão e análise institucional sobre em quais processos internos eles mais perdiam energia de trabalho. Com a colaboração de alguns consultores especialistas, eles entenderam que, para o caso deles, a implementação de uma cultura de gestão de projetos ágil poderia sanar estas perdas.
Nestes dois anos, diariamente, eles têm passado por um processo de aprendizado e de transformação na comunicação interna: no uso e na implementação de ferramentas que apoiam essas novas formas de se comunicar, de coletar e de usar dados – da maneira mais precisa e rápida. Além disso, têm entregado os resultados para os financiadores dos projetos em ciclos mais curtos e, desta forma, têm conseguido fazer avaliações mais rápidas – possibilitando correções de rotas em ciclos mais curtos.
Quando escuto os relatos da transformação da Aliança Empreendedora, me chama a atenção a importância e o cuidado tomado para que cada um da equipe se desprenda das suas soluções pré-concebidas. As formações e as atividades com a equipe têm a intenção de torná-la mais versátil, resiliente e desprendida emocionalmente das suas próprias soluções. Há um grande foco em tornar cada um capaz de avançar agarrado aos aprendizados passados, mas com uma visão flexível o suficiente para se reinventar radicalmente para os passos futuros, focado na solução do problema.
Grandes mudanças não nascem a partir de uma ideia mirabolante que vem pronta. São pequenas mudanças diárias, que testamos e checamos diligentemente se estamos trabalhando na direção da solução do problema social identificado. Um dos legados que a cultura ágil pode emprestar ao campo social é justamente o foco na solução e não no produto. Parece uma mudança sutil demais, mas, quando o foco é encontrar a solução dos problemas que a instituição se propõe a resolver, a forma de trabalho se transforma, bem como o objetivo das equipes. A urgência diária em caminhar na direção da solução passa a ser o mais importante.
Este artigo é fruto de diálogos entre Andressa Trivelli e Alexandra Meira.
Este texto é de responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.