A suspensão das aulas presenciais em todo o país, sem um prazo definido de retorno à normalidade, pegou de surpresa pais, professores e alunos. Medida preventiva para evitar a disseminação do Coronavírus (Covid-19), a decisão acendeu o sinal amarelo principalmente para quem está no ano de prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares. E, ao reconhecer essa situação, algumas empresas na área de Educação tomaram iniciativas para ajudar nos estudos.
A empresa de impacto social Geekie disponibilizou, de maneira gratuita desde o dia 30 de março, 20 mil bolsas para o Geekie Games, plataforma online de preparação para o Enem. A ferramenta, reconhecida pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), chegou a figurar como principal meio de estudo online para o Enem em 2016 e é voltada para estudantes de escolas públicas de todo o país. Intuitiva, ela traça uma análise sobre o desempenho do aluno, identifica as disciplinas que ele tem mais dificuldade e elabora um plano de estudos personalizado.
Claudio Sassaki, fundador da Geekie, espera, com a medida, beneficiar estudantes que se preparam para o Enem e vestibulares e que podem se sentir prejudicados pela suspensão das aulas.
“É a nossa forma, como negócio de impacto social, de fazer a nossa parte para que, como sociedade, possamos vencer esse grande desafio de saúde pública”,
afirma Claudio Sassaki.
A escola online Stoodi também resolveu liberar temporariamente o acesso gratuito a todas as suas videoaulas e bancos de exercícios. A medida, tomada no dia 13 de março, valeria por apenas 30 dias, porém o prazo foi prorrogado para dar “suporte àqueles que ainda não tiveram a oportunidade ou a condição de se adaptar a uma nova realidade”, como consta em nota divulgada pela escola.
Maíra Villamarin, coordenadora de comunicação da Stoodi, explica que a ideia inicial era de manter a ação “Stoodi de Portas Abertas” por 30 dias, mas com a prorrogação da quarentena, o prazo foi estendido também. “Já estamos há quase dois meses ‘de portas abertas’, recebendo alunos de todo o país, firmamos parcerias com Secretarias de Educação dos Estados de São Paulo e Ceará, para atender, sem custo, os alunos da rede pública e ainda manteremos nossa plataforma aberta ao público até o final do mês de maio“, detalha ela.
Acessibilidade desigual
Apesar de bons esforços de empresas como a Geekie e a Stoodi, o acesso à internet ainda é uma barreira para muitos brasileiros. Mesmo após um grande salto em um período de quase uma década, de 39% da população com acesso em 2009 para 70% em 2018 (dados da pesquisa TIC Domicílios 2018), esse número ainda representa uma grande disparidade para se pensar em uma educação online inclusiva. Ao trazer o recorte para escolas rurais, a desigualdade fica ainda mais evidente. A pesquisa TIC Educação realizada em 2018, com 1.433 diretores ou responsáveis por escolas rurais, apontou que 43% dessas escolas não possui acesso à internet por falta de estrutura na região.
Essa realidade apresentada está longe de poder propiciar aulas a distância, como foi anunciado pelos governos de alguns estados do país, como Rio Grande do Sul e São Paulo. E mesmo nos estados e municípios em que o ensino a distância foi adotado, outros problemas também entram na lista de desafios: conexão limitada em algumas regiões periféricas, celulares defasados, e a falta de interação dos alunos com os professores durante as aulas.
Por conta das desigualdades, entidades representativas dos estudantes como a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e a UNE (União Nacional dos Estudantes), assim como o Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), manifestaram sua posição contra a manutenção do calendário do Enem. O exame, por ora, segue com as datas marcadas para 1º e 8 de novembro para a prova impressa, e 22 e 29 de novembro para prova digital.
Para ler mais:
– O portal IDeA apresenta o Indicador de Desigualdades e Aprendizagem (IDeA), que revela o nível de aprendizagem para cada município brasileiro, assim como as respectivas desigualdades de aprendizagem entre grupos sociais por nível socioeconômico, racial ou de gênero. O portal é uma iniciativa da Fundação Tide Setubal e de diferentes grupos de pesquisa em Educação e Desigualdades.
– Segundo o portal IDeA, especificamente no Brasil, não há registro de “pesquisas sobre as consequências de longas interrupções das atividades escolares sobre as desigualdades de aprendizagem”. Porém, embasado em outras experiências, pesquisas e dados, propõe esta reflexão sobre a suspensão das aulas em meio ao Covid-19.
– A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) criou uma página exclusivamente para informações e dados sobre os impactos do Coronavírus na Educação no mundo todo.
– O GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas) também propõe reflexão acerca dos desafios da educação em meio à pandemia e lista a ação de algumas organizações sobre este tema.
– O projeto Universidade Emancipa (do movimento social pela educação Rede Emancipa) está com inscrições abertas até o dia 9 de maio para o curso on-line “Entender o mundo hoje: lições da pandemia para as periferias”. Os diálogos serão sobre impactos do Covid-19 e potenciais saídas considerando a experiência periférica. O curso é gratuito e será realizado entre 5 de maio a 7 de julho, às terças-feiras, das 19h às 21h. O apoio é feito por docentes da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP).