São Paulo é uma das cinco cidades mais populosas do mundo, com mais de 20 milhões de pessoas, sendo que só no município vivem 12 milhões de habitantes. Proporcionalmente são os seus problemas, desafios e contrastes. De acordo com o estudo realizado em conjunto pela prefeitura de São Paulo com a organização internacional Aliança de Cidades, em 2007, a capital paulista possuía 1.538 favelas, ocupando um território de 30 quilômetros quadrados. O Censo IBGE 2010 apontou que cerca de 2,1 milhões de pessoas na região metropolitana moram em favelas.
Sim, estamos diante de uma enorme desigualdade e, definitivamente, não dá para viver assim. Por isso, os próprios moradores das comunidades se mobilizam para transformar a realidade de seus territórios e muitas iniciativas e projetos começaram a surgir para dar voz e visibilidade ao que antes ficava somente nos extremos da cidade. Aqui contamos as histórias de quatro destas iniciativas. Hoje, especialmente, de André Luiz, da TV Doc.
Um talento, uma oportunidade
Luz, câmera e ação – a TV Doc está no ar! A primeira televisão do Capão Redondo foi criada por André Luiz. “Uma iniciativa para dar voz aos jovens da região e desenvolvê-los por meio dos meios de comunicação multimídia, tornando-os protagonistas da narração de suas histórias”, explica.
Durante o ensino médio, André teve a oportunidade de dirigir o programa de rádio da escola. Foi quando ele descobriu seu talento e resolveu pensar no seu próprio programa de televisão – em 2012 criou a TV Doc Capão. Com a ajuda de amigos e um pouco de improviso, André montou um estúdio no próprio quarto e, de lá, aos poucos, tudo começou a ganhar forma e ser visto não só pela comunidade, mas por todo o Brasil.
Em várias frentes
O projeto de mídia independente é fruto de quatro iniciativas pensadas para impactar a comunidade de alguma maneira: TV Doc, Doc Inclui e a produtora Prodoc. A ideia com a TV Doc é tornar visível as histórias positivas das pessoas e iniciativas do território. O conteúdo é exibido no canal do Youtube em uma grade mensal de três programas e na página do Facebook. “Este ano tivemos mais uma conquista, inauguramos a TV Doc Butantã na Liga Solidária”, acrescenta com orgulho.
André conta que o Doc Inclui veio para abraçar mais meninos e meninas, então começou a realizar oficinas itinerantes de audiovisual alcançando outros jovens da região. Já a produtora Prodoc desenvolve serviços audiovisuais e foi idealizada com o intuito de gerar sustentação financeira aos outros projetos.
Por fim, o Centro Jovem de Comunicação (CJC) é um projeto que está sendo construído pelos comunicadores do Capão Redondo e oferecerá para 30 jovens, durante nove meses, cursos de jornalismo, publicidade e propaganda e rádio. “A importância de dar esse passo para um curso livre-técnico eleva a posição dos jovens que sonham em trabalhar com comunicação e traz uma bagagem que antes não existia na comunidade”, explica André.
Tímido, jamais!
Além de persistência, resiliência e colaboração, André também conta com ousadia. Sim, ousadia. Em 2013, ele foi aprovado pelo Programa de Valorização de Iniciativas Culturais, da prefeitura de São Paulo. Com isso, acabou cruzando o caminho de Fernando Haddad, prefeito na época, e de outras figuras públicas, como ex-senador Eduardo Suplicy. O que ele fez? Ligou a câmera e, sem hesitar, começou a entrevistá-los.
Foi com a mesma espontaneidade que André encarou a ex-presidente Dilma Rousseff, durante um encontro de jovens empreendedores do país. O garoto que saiu do Capão Redondo e chegou até Brasília não perdeu tempo. Com uma câmera na mão, pediu licença e dirigiu-se até Dilma já fazendo um convite: visitar a juventude do Campo Limpo/Capão Redondo. Apesar de ela ter aceitado, isso nunca aconteceu, mas a entrevista foi exibida em um dos programas da TV Doc chamado Correndo Atrás de Quem Manda e virilizou na internet.
Ele não para!
Em 2017, ele lançou o Doc Show, um programa independente com plateia para o público jovem. “O objetivo é possibilitar a interação entre o público e os convidados, como um talk show que a gente vê na televisão, mas a diferença é que somos nós, pretos periféricos, fazendo”, explica André.
Hoje, com 21 anos e cursando comunicação, André borbulha de ideias. Além de todas essas iniciativas, ele ainda promove cultura na periferia, dá algumas consultorias e está envolvido em diversos projetos, como o Festival do Capão, por exemplo, que no ano passado reuniu 300 pessoas. “Um dia cheio de oficinas, rodas de conversa e atividades que aconteceram em dois espaços simultâneos lá na comunidade”, conta.
Tem mais: ele é um dos influenciadores do Pense Grande, programa da Fundação Telefônica Vivo, que apoia empreendedorismo social. Se com 21 anos ele já fez tudo isso, imagina o que vem por aí!