São Paulo é uma das cinco cidades mais populosas do mundo, com mais de 20 milhões de pessoas, sendo que só no município vivem 12 milhões de habitantes. Proporcionalmente são os seus problemas, desafios e contrastes. De acordo com o estudo realizado em conjunto pela prefeitura de São Paulo com a organização internacional Aliança de Cidades, em 2007, a capital paulista possuía 1.538 favelas, ocupando um território de 30 quilômetros quadrados. O Censo IBGE 2010 apontou que cerca de 2,1 milhões de pessoas na região metropolitana moram em favelas.

Sim, estamos diante de uma enorme desigualdade e, definitivamente, não dá para viver assim. Por isso, os próprios moradores das comunidades se mobilizam para transformar a realidade de seus territórios e muitas iniciativas e projetos começaram a surgir para dar voz e visibilidade ao que antes ficava somente nos extremos da cidade. Aqui contamos as histórias de quatro destas iniciativas. Hoje, especialmente, de Anderson Augustino, o Buiu, do Projeto Viela.

Volta por cima

Sorrisão colado no rosto, brilho nos olhos e jeitão de menino são características que definem bem Anderson Augustinho, mais conhecido como Buiu, 36 anos, morador da comunidade Jardim Ibirapuera, zona sul de São Paulo.

Ao longo de sua jornada, as maiores lições de vida vieram logo na infância e juventude, época em que suas escolhas não o levaram para o melhor caminho. Largou muito novo os estudos  para trabalhar, mais tarde se envolveu com  drogas e, aos 27 resolveu dar a volta por cima.

Participou de um programa de medida socioeducativa para adolescentes, onde teve a oportunidade de fazer alguns cursos, como o de pintura em tela, que o ajudou a desenvolver e investir em um de seus dons – desenhar e pintar. Hoje, ele tem a marca de roupas e bonés Viela  que leva seus traços.

Também foi lá que Buiu recebeu o maior incentivo para voltar a estudar. Fez supletivo e faculdade de Educação Física. “Todos esses impulsos me levaram a pensar em como fazer um projeto de educação na minha comunidade. O aprendizado era tanto que eu voltava para casa com vontade de dividir tudo o que estava aprendendo com os outros jovens. Foi aí que tive a ideia de juntar os conhecimentos que adquiri e criei o projeto Viela Letras e Livros, como chamava no início, que começou com ação de cinema nas vielas”, conta.

Sinta-se em casa

O que na época acontecia na rua, hoje tem um espaço construído especialmente para receber todos os que participam do Projeto Viela – a laje da casa do Buiu. Uma escada estreita  com degraus alternados leva até a sede do Viela.

Lá acontecem as aulas de jiu-jitsu (são duas turmas mistas e uma turma exclusiva de meninas), três turmas de aprendizado de inglês, curso profissionalizante na área de construção civil para adolescentes e pais de alunos e sessão aberta de cinema para toda a comunidade. “A novidade agora, em 2018, é o início do Educa Viela, que surge como complementação escolar por meio de uma metodologia bem lúdica, do aprender por intermédio da brincadeira”, revela com orgulho.

A única iniciativa que acontece fora da sede é o Futebol e Leitura, realizado em parceria com a escola Estadual Comendador Alfredo Vianello Gregório, que cedeu a quadra para as partidas de futebol. Hoje, são cerca de 80 crianças que participam dessa proposta de incentivo à leitura com auxílio da prática esportiva.

O ritual é o seguinte: antes do jogo começar, todos sentam em roda com textos em mãos para um bate-papo que é mediado por educadores. Ali é o momento de leitura e discussão sobre temas que são relevantes para eles.

Em comunidade

Essas atividades foram construídas com a própria comunidade, necessidades que eles trouxeram. No seu oitavo ano, o Projeto Viela vem transformando a realidade de crianças e jovens do Jardim Ibirapuera por meio da cultura e do esporte, acolhendo sonhos e estimulando potenciais.

Atualmente, beneficia cerca de 180 jovens diretamente e um número muito maior quando se pensa no impacto positivo no entorno entre familiares e a própria comunidade. “Ver os meninos do projeto subindo no pódio, ganhando medalha, indo viajar porque passaram no teste, é a concretização do que eu faço. É isso que me dá forças para continuar. Eu fico feliz em poder contribuir e vejo como vale a pena”, confirma.

Mas para chegar até aqui, Buiu contou com o apoio de muita gente. “Sempre falo das cinco mulheres da minha vida que, sem me conhecerem, estenderam a mão e, com isso, tive uma oportunidade. O mesmo eu quero fazer pelas outras pessoas. Tudo o que eu desenvolvi até hoje é fruto de relação”, reconhece.

Anderson continua se desenvolvendo como empreendedor e estreitando laços e parcerias em busca de novos meios para o crescimento e desenvolvimento do Projeto Viela, com o sonho de beneficiar ainda mais crianças e jovens do seu território. Este ano, está abrindo um canal de doação recorrente. “A busca é essa, ir atrás de oportunidades e ofertar isso para as crianças. Elas têm sonhos, mas, muitas vezes, não recebem o olhar cuidadoso para alcançá-los. Como nós temos rede e contatos, através do Projeto Viela, conseguimos abrir as portas para esses jovens”, finaliza Buiu.

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