O Legado das Água trata da primeira filial da empresa Reservas Votorantim Ltda, que, por sua vez, foi criada para gerir seus ativos ambientais. Com 31 mil hectares, o Legado das Águas foi constituído com aquisição de diversas áreas pela Votorantim, entre as décadas de 1920 e 1950. “Na época, a empresa pretendia conservar a cobertura vegetal para garantir, a longo prazo, a disponibilidade hídrica da região, onde estão sete usinas hidrelétricas, hoje operadas pela Votorantim Energia, que fornecem energia para a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA)”, explica David Canassa, diretor da Reservas Votorantim.
Segundo Canassa, essa visão foi ampliada e se materializou em um protocolo de intenções, firmado em 2012 entre o Governo do Estado de São Paulo e a Votorantim S.A.. O objetivo foi “a implantação de uma Reserva que oferecesse um legado positivo para a sociedade, desenvolvendo atividades de pesquisa, educação ambiental e turismo sustentável, além de possibilidades de negócios a partir dos recursos ambientais ali presentes”, detalha o executivo.
O território gerenciado pelo Legado das Águas corresponde a 1,5% dos 9% restantes da Mata Atlântica do estado de São Paulo. “Há seis anos, definimos e aprovamos o plano de negócios do Legado das Águas. Na época, sabíamos que era um projeto corajoso, ousado. Também tínhamos a consciência de que era algo inédito, inovador, principalmente porque, na iniciativa privada, ninguém havia feito nada semelhante”, comenta Canassa.
Desde então, a proposta tem sido utilizar uma imensa área de mata preservada como oportunidade de negócio para promover o desenvolvimento socioeconômico territorial e gerar valor compartilhado. Em entrevista para Aupa, Canassa conta como tem evoluído o plano de negócios da iniciativa e o que se aprendeu ao longo destas décadas.
Novas cadeias produtivas foram fomentadas, contribuindo com a população local e com o desenvolvimento econômico por meio da geração de valor compartilhado
AUPA | O Legado das Águas é a primeira filial da empresa Reservas Votorantim Ltda, tendo seu início nos anos 1970 para a produção de recursos de energia. Qual o valor que uma marca como o Legado traz a uma multinacional, como é o caso da Votorantim?
DAVID CANASSA | Pela natureza dos negócios desenvolvidos pela Votorantim, a empresa sempre optou pela aquisição de áreas que não se limitassem às necessidades do empreendimento. Isto resulta em uma significativa parcela dessas áreas mantida em alto grau de conservação, em dimensão muito superior aos requisitos legais. Diante deste panorama, a Votorantim criou uma nova empresa com a proposta de gerar negócios com a conservação de ativos ambientais. Consequentemente, novas cadeias produtivas foram fomentadas, contribuindo com a população local e com o desenvolvimento econômico por meio da geração de valor compartilhado.
AUPA | Como vocês enxergam e medem os impactos do Legado das Águas na população do Vale do Ribeira e na reserva de Mata Atlântica?
CANASSA | O Legado das Águas gera impacto positivo na sociedade ao desenvolver atividades de pesquisa, educação ambiental e turismo sustentável. Está em nossa visão a geração de valor compartilhado. Por isso, entendemos que a nossa responsabilidade com a população local vai além. O Legado das Águas está inserido em um dos territórios com menor IDH do Estado de São Paulo. Por isso, a Reserva é uma catalisadora de iniciativas sociais e econômicas que possam contribuir para o desenvolvimento dos municípios onde se insere, considerando que o desenvolvimento territorial é pré-requisito das atividades ali praticadas. As ações têm como foco melhoria da gestão pública nos municípios, estímulo ao empreendedorismo, educação e fomento ao turismo com o apoio de empresas parceiras e do Instituto Votorantim.
Nessa questão do turismo, estamos contribuindo para as cidades estruturarem seus Conselhos de Turismo e se tornem municípios de interesse turístico. Miracatu e Juquiá já conquistaram essa condição, por exemplo. Para o Legado das Águas, não basta olhar somente para o que acontece dentro de seus limites, é preciso olhar para fora e oferecer apoio, conhecimento e ferramentas para que os municípios parceiros cresçam e se desenvolvam.
Em 2017, os projetos sociais representaram 7,7% de todo o investimento realizado no Legado das Águas
AUPA | A pauta ambiental também é vista como um modelo de mercado. No caso do Legado das Águas, como funciona a geração de renda?
CANASSA| A geração de receita acontece por meio das atividades desenvolvidas no Legado das Águas. Algumas delas são o ecoturismo, a venda de plantas de nosso viveiro para projetos de florestas e paisagismo, a compensação de Reserva Legal e visitas escolares para Estudo do Meio. No ecoturismo, temos uma grande integração com a região. Nosso projeto de levar a Mata Atlântica para os grandes centros urbanos e desenvolver soluções ambientais de florestas tem gerado excelentes frutos. Para isso, utilizamos todo o potencial da mata conservada do Legado das Águas. Já vendemos projetos de paisagismo para diversos empreendimentos na cidade de São Paulo. Além disso, ajudamos empresas na reconstituição de florestas, com soluções inovadoras para suas demandas de compensação ambiental. Também desenvolvemos projetos em parceria com a Floresta de Bolso do paisagista Ricardo Cardim, fornecendo mudas para plantios voluntários na cidade de São Paulo.
A sede do Legado das Águas também é um local que recebe cursos diversos. Alguns deles são o da Escola de Botânica, do biólogo Anderson Santos e cursos de fotografia na floresta de nosso parceiro Luciano Candisani. E estamos abertos a outras parcerias. Em relação à regularização de proprietários rurais, nós nos propomos a ser uma empresa de soluções ambientais, ofertando soluções para compensação de Reserva Legal e apoio na recomposição de APP’s (Áreas de Proteção Permanente).
AUPA | Vocês fazem o trabalho de compensação de reserva legal no Legado das Águas. Como esse processo atua nos novos modelos de economia?
CANASSA | A compensação em áreas como o Legados das Águas e o Legado Verdes do Cerrado garante a proteção dos serviços ecossistêmicos e a manutenção da floresta em um corredor ecológico. Proprietários rurais têm a obrigação de se adequar às regras de ter 20% de reserva legal. Se realizam essa compensação em sua própria área, necessariamente, não formará um corredor florestal, pois o reflorestamento isolado perde riqueza de biodiversidade.
Como funciona: o proprietário rural que não tiver os 20% completos de Reserva Legal poderá compensar o déficit na área excedente das Reservas Votorantim. Como exemplo, tendo o proprietário rural apenas 10% de reserva legal, ele poderá utilizar a área excedente do Legado das Águas ou Legado Verdes do Cerrado para compensação dos 10% restantes.
A área equivalente necessária é alocada nos documentos do proprietário rural, de maneira a garantir o cumprimento da obrigação de manter a reserva legal com os seus atributos requeridos. O contrato tem validade de 15 anos, com pagamento de uma taxa anual por hectare. Além disso, o modelo proposto oferece garantia da manutenção da área compensada; apoio técnico com a colaboração dos CAR’s; relatórios anuais; e benefícios de se vincular a um negócio com apoio dos Governos dos Estados de São Paulo e de Goiás.
Parabéns pela iniciativa!! Parabéns Votorantim, parabéns David!! Acredito na gratidão da realização desse desafio.
Grande abraço
Jana Saito