A pandemia de Covid-19 causou uma grave crise econômica na grande maioria das empresas. Mas toda crise também gera oportunidades. E, neste caso, era esperado que negócios ligados à saúde tivessem algum benefício. Magnamed e TNH Health são exemplos de empresas que cresceram durante a pandemia. E ambas mostram o tamanho do impacto que a tecnologia causa na saúde atualmente. Afinal, até inteligência artificial está ganhando espaço nesse setor.

Mas não é um processo tão natural. A tecnologia sempre foi vista com desconfiança na área da saúde. Nem todos os pacientes se sentem protegidos à distância. E muitos médicos acreditam que podem perder espaço por causa de sistemas automáticos. “As pessoas falam que preferem o contato humano. Mas, muitas vezes, você terá que ficar em casa. E a tecnologia é criada por humanos, as pessoas estão vendo isso. A tecnologia salvou vidas sem necessariamente tirar o trabalho dos profissionais. Vimos maior liberação da telemedicina e da teleterapia”, destaca Michael Kapps, CEO da TNH Health.

Termos técnicos. Créditos: Equipe de Arte da Aupa.

“Robôs” em prol da saúde
A TNH Health é uma empresa que implanta um sistema de chatbots, mais conhecidos como “robôs”, para monitorar pacientes de risco. Atualmente, é possível encontrar essa tecnologia em diversos serviços de saúde, como em clínicas, hospitais e farmácias. E, durante a pandemia, com o aumento da demanda e a diminuição dos funcionários, isso se tornou ainda mais comum e necessário.

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Em março, assim que começaram os atendimentos por causa de Covid-19, a TNH Health recebeu muitos pedidos para ajudar na triagem de pacientes. Afinal, a sociedade tinha muitas dúvidas sobre a doença. E a principal recomendação era evitar a ida aos hospitais. Então, a empresa trabalhou, inclusive com o Ministério da Saúde, para facilitar o atendimento inicial aos possíveis infectados.

“Além do Ministério da Saúde, também trabalhamos com os governos do Amazonas, de Roraima e as Secretarias de Saúde de várias prefeituras. E os planos de saúde continuaram conosco. Cada um pediu um protocolo. Conseguimos fazer quase dois milhões de atendimentos. E, em muitos casos, prevenimos de alguém ir ao hospital sem motivo, o que é importante”, explica Michael.

Uma grande dificuldade para a TNH foi a mudança frequente de informações sobre Covid-19. Afinal, é uma doença nova, com informações reveladas a cada semana. “Cada vez surgia um protocolo diferente. Não sabíamos bem o que fazer, o que poderíamos usar ou não. Por isso, precisamos ficar sempre olhando e mudando o protocolo”, lembra Michael.

Apesar da dificuldade relatada, a TNH Health teve aumento no faturamento. Durante um mês de 2020, foi possível arrecadar valores obtidos em seis meses de 2019. A expectativa é que o lucro total do ano seja, pelo menos, o dobro do ano anterior. Por isso, a empresa já faz novos planos de investimento, para que o crescimento não seja pontual e se torne sustentável.

Wataru Ueda, CEO da Magnamed. Crédito: Arquivo pessoal.
Michael Kapps, CEO da TNH Health. Crédito: Arquivo pessoal.

Magnamed: o crescimento que surgiu de uma amizade
A Magnamed produz respiradores no Brasil desde 2005, mas nunca passou por nada parecido com a pandemia. Em pouco tempo, a empresa teve que produzir 10 vezes mais aparelhos do que o habitual. Era necessário conseguir investidores, pois o mundo inteiro estava atrás das mesmas peças. Era uma disputa internacional. A solução da Magnamed surgiu de uma amizade antiga.

“Houve uma consulta do Ministério da Saúde solicitando para ver se conseguiríamos fazer de 5 a 10 mil respiradores rapidamente. Eu tenho um grupo de WhatsApp com amigos do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), onde fui formado. Então, postei perguntando quem podia me ajudar. O Walter Schalka, presidente da Suzano Papel e Celulose, se prontificou no mesmo minuto. É uma amizade de 40 anos” conta Wataru Ueda, CEO da Magnamed.

Depois desse contato, surgiram outras parcerias da Magnamed com instituições privadas, como Positivo Tecnologia, Klabin, Flex, Embraer, Fiat e White Martins. Assim, aos poucos, a produção cresceu. E surgiram mais dificuldades, como a proteção dos funcionários, que passaram a fazer home office ou a usar novos equipamentos de proteção. Assim como no caso da TNH Health, os empresários também tiveram que passar madrugadas acordados, para negociar com chineses. E, novamente, o resultado disso será traduzido no faturamento.

Wataru Ueda estima que o ganho da empresa será de aproximadamente R$150 milhões.

Mas nem tudo são flores: a Magnamed esteve envolvida em problemas judiciais recentemente. A Prefeitura do Rio de Janeiro brigou pelo direito de receber 80 aparelhos, que tinham sido adquiridos em dezembro do ano passado. A Magnamed não entregou os respiradores, alegando que o prazo previsto no edital, de no máximo 60 dias, tinha sido ultrapassado. A empresa venceu a disputa na Justiça e acredita que não sofreu nenhum prejuízo. Os respiradores foram entregues ao Governo Federal.

O próximo impacto da tecnologia na saúde: inteligência artificial
Crescer durante a pandemia pode ser perigoso. Afinal, em algum momento, a crise vai passar. A demanda por chatbots deve diminuir. A necessidade de respiradores também cairá. Por isso, para manter o crescimento em um ritmo sustentável, TNH Health e Magnamed já estão desenvolvendo novos projetos, que têm algo em comum: o uso da inteligência artificial.

A TNH Health investirá na área de teleterapia. “Percebemos que grande parte do nosso trabalho, seja com gestantes ou com doentes crônicos, tinha um problema: a raiz da doença era mental. E precisamos ir, justamente, à raiz do problema. A falta de saúde mental leva as pessoas a não conseguirem controlar a saúde e terem diabetes, por exemplo. Então, vamos reforçar a importância da estratégia de saúde mental”, explica Michael.

Para conseguir isso, a empresa desenvolveu um novo tipo de “robô”: um sistema híbrido, com humanos e chatbots, que interage com pacientes para acompanhar possíveis problemas psicológicos. “Um psicólogo prescreve uma terapia para você fazer junto com o chatbot. Ele vai passando dicas e lembretes na semana. Assim, o psicólogo não gasta tanto tempo. Durante a pandemia, cerca de 200 mil usuários falaram com o chatbot sobre ansiedade, depressão e luto. Eles viram que o robô não julga e está on-line 24 horas por dia, sete dias por semana”, explica Michael, ressaltando que a inteligência artificial utiliza os dados coletados para ganhar mais eficiência nas terapias.

Focar na teleterapia também é uma estratégia financeira da TNH Health. Afinal, antes da pandemia, a empresa dependia de projetos sazonais, então a receita variava muito. Agora, por estar focada em um problema que existe o tempo todo, a falta de saúde mental, o orçamento passará a ser mais fixo. A empresa diz que a teleterapia será melhor e mais barata do que a terapia tradicional. E não perderá totalmente a participação de humanos, que é tão requisitada pelas pessoas.

A Magnamed não preparou uma mudança tão radical, mas também apostará nos avanços da tecnologia. “Vamos retomar nosso plano original. Temos investimentos contínuos nessa área de dispositivos médicos. E agora temos projetos interessantes usando inteligência artificial para facilitar o dia a dia de quem opera a máquina. E, com isso, vamos ter redução de permanência do paciente no ventilador pulmonar”, prometeu Wataru Ueda.

Telemedicina, “robôs” e inteligência artificial sempre foram vistos como parte importante do futuro da medicina. Mas, antes da pandemia causada pela Covid-19, a presença desses serviços era bem menos comum no Brasil. A pandemia deve acelerar o processo de aceitação da tecnologia na saúde. Chegou a hora das empresas provarem que isso realmente será benéfico à sociedade. 

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