“A dúvida não é uma condição agradável, mas a certeza é absurda.” (Voltaire)
O pensamento do filósofo Voltaire pode ser entendido como uma provocação para todos, sejam empreendedores ou não. Como escrevo para pessoas que empreendem, é importante assumir nossa parte na história e no pensamento filosófico, afinal uma das características comportamentais dos empreendedores é assumir riscos. Empreender é arriscar.
Quem busca certeza para empreender, simplesmente não empreende. Fica planejando e esperando o momento certo, o país certo, a situação certa… e por aí vai. Quer dizer, não vai.
“Voltar não é opção”. Diante das incertezas presentes na vida de todo mundo, insistir em velhas ideias, em rotineiras propostas, em viciados olhares não é opção.
Nas pesquisas e trabalhos sobre gestão da criatividade, elaborei o acrônimo CRIATIVA, no qual a letra C corresponde à capacidade de adaptação em um mundo em rápida mudança, marcado por incerteza, competição crescente, além de turbulências. Faço, portanto, as seguintes provocações:
Como as pessoas que empreendem se adaptam?
O que é preciso fazer para se adaptar?
Aprendi sobre a necessidade de se ter uma cultura organizacional voltada à criatividade e, hoje, enquanto empreendedor, atuando com tantas pessoas que empreendem, trago a gestão da criatividade como fator fundamental para geração de resultados superiores e sustentáveis para os negócios, na criação de diferenciais e inovações para produtos e serviços, para entrega de valores significativos e percebidos por consumidores e clientes.
Um dos aspectos considerados para o estímulo da criatividade aplicada aos negócios é a existência de certo grau de tensão proporcionada por uma crise, ou pela escassez de recursos, ou pela acirrada competição entre as empresas, ou, ainda, pela necessidade da inovação de produtos e serviços.
A atual crise nos negócios, também uma conseqüência da pandemia causada pela Covid-19, provocou um rebuliço nas empresas, fazendo com que muitos empreendedores repensassem seus negócios, migrassem suas operações físicas para o on-line, definissem novos canais de relacionamentos e vendas aos clientes.
Certamente, o processo não foi simples. Diante das dores provocadas pela crise, houve a necessidade de buscar novos conhecimentos, além de formação de novas parcerias (ou redefinição das parcerias existentes) e adoção de ações estratégicas criativas.
Já que empreender é um processo de assumir riscos pensados em meio às incertezas, entender como os empreendedores se adaptam nesse mundo fluido se torna fundamental.
Identifiquei comportamentos de adaptação significativos, os quais todos podemos adotar:
(a) Disposição para aprender: mergulhar nos aprendizados necessários, com a disposição de descobrir o que tem que ser feito, faz com que as pessoas que empreendem possam superar as dificuldades surgidas diante de situações difíceis. Com novos aprendizados, tenho visto empreendedores obtendo ideias muito criativas e conquistando resultados que, confesso, nem mesmo eles acreditavam.
(b) Repensar e replanejar: não adianta insistir nos mesmos pensamentos e persistir nas ações que não estão dando resultado. Diante de fatos, situações novas, inusitadas e de crise é necessário ter a coragem de repensar princípios, valores e crenças. Por favor, não estou dizendo em agir com falta de ética. Todos temos uma vontade tão forte em buscar o porto seguro que insistimos nos velhos conceitos que foram muito importantes em outras eras.
(c) Assumir riscos: pessoas que empreendem têm coragem de assumir riscos. Encaram os novos desafios de frente, pensam em novas possibilidades, observando os recursos que têm. Constroem novas parcerias, definem novas relações em busca de novos objetivos. Os empreendedores continuam correndo os seus riscos, aprendendo, repensando e replanejando. Utilizam da criatividade e ganham em escala, prospectam novos públicos, convertem novos clientes.
Nada é certo. Não existe verdade absoluta.
O mundo está cheio de possibilidades e novas oportunidades abrem caminho para quem se dispõe a aprender. Com novos aprendizados, valores adquiridos, combinações criativas, os empreendedores inovam no jeito de fazer e entregar produtos e serviços, assim como no conceito de negócio.
Tudo escorre pelas mãos. Portanto, é preciso assumir que somos especuladores da vida e na vida, que estamos em constante processo de aprendizado e experimentação.
Para melhorar a capacidade de adaptação, enquanto empreendedor(a), pense fortemente nos três comportamentos trazidos neste artigo. Mas vá também para a prática. Arrisque. Estabeleça novas relações com pessoas, parceiros, com a natureza, com todas as coisas. Pense e repense nos seus conceitos e, se for preciso, adote novos.
Importante destacar que a gestão da criatividade está fundamentada em princípios que contribuem muito com as pessoas que empreendem, para a superação de crises e o alcance de objetivos significativos para os negócios. Entre os princípios, olhando aos comportamentos citados, estão: (a) a capacidade de adaptação em um mundo em rápida mudança marcado pela incerteza, competição crescente e turbulências; (b) a incorporação criativa de novos procedimentos, políticas e experiências; e (c) a valorização de ideias e ações criativas.
O Comitê de Negócios de Impacto da Zona Leste, em São Paulo, é um exemplo de aplicação dos fundamentos da gestão da criatividade. No período estabelecido do início da quarentena, 17 de março, micros e pequenas empresas declaravam não estarem preparadas para tal situação. Empreendedores diziam não ter planejamento do negócio, nem gestão financeira. Com os negócios operando apenas fisicamente, desconheciam os processos de comercialização nos meios digitais.
Foi neste contexto que as organizações Back to Basics, Aupa – Jornalismo de Impacto, Emperifa e o coletivo Meninas Mahin se reuniram para pensar em propostas de soluções. As ações foram voltadas à manutenção dos negócios, à oferta informações e aos apoios necessários para a migração dos negócios físicos para a internet. O trabalho conjunto pensou ainda em comunicação, planejamento e organização de conteúdo, formações e mentorias para micros e pequenos empreendedores, além de captação de recursos por meio de crowdfunding e capacitação das empreendedoras do coletivo para o e-commerce.
Por isso, não há dúvida de que a gestão da criatividade é fundamental às pessoas empreendedoras. Afinal, possibilita a aplicação da criatividade para atingir objetivos significativos aos negócios – para solucionar problemas inéditos, possibilitando a geração e a entrega de valores aos clientes, a partir, é claro, da adoção de comportamentos que favoreçam o processo criativo.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.