2P: Afinal, o que tem a Amazônia?

Marcos é coordenador do ISA - Instituto Socioambiental, mora em São Paulo e ajudou a construir o Plano de visitação.

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A abertura para o turismo em terra indígena é dos Yanomamis ou é uma reparação?

Os Yanomamis não endossaram o plano de turismo Yaripo em seu território. Eles são protagonistas na elaboração desse plano. Eles pediram a aprovação dos órgãos como ICMBIO e FUNAI. Foram eles que endossaram um plano estratégico que tem como objetivo a geração de renda, mas não somente isso. Também promove a proteção territorial na medida que é uma alternativa ao garimpo. Na medida que o turismo sustentável substitui o garimpo e isso também é proteger o território. Não vejo como ação de reparação dos brancos por que é uma ação dos Yanomami. É um protagonismo que revela muito mais do que uma intenção ou desejo, revela também uma generosidade de abrir o seu território para os brancos. Esse é um caso onde os Yanomamis estão convidando e dando essa oportunidade de abrir suas terras para serem visitadas. Eles não aceitaram e sim fizeram essa proposta, são os agentes dessa atividade. É uma primeira startup de turismo indígena onde eles estão sendo os empreendedores e promotores de uma ação que tem como vocação econômica duas principais riquezas: os povos indígenas e a floresta amazônica. E aqui há um impacto socioambiental importante que vai além da atividade turística. Os serviços socioambientais que a floresta desses povos prestam para toda a humanidade do planeta.
 

E como enxerga o choque cultural entre turistas e os Yanomamis?

O choque cultural entre o Yanomami e os não Yanomami já existe e infelizmente da maneira mais desregrada possível. Principalmente quando a gente fala de invasão de território por  garimpeiros, pescadores, caçadores ou nessa relação preconceituosa que existe com os militares, que estão no pelotão de fronteira na região. O preconceito ainda existe quando os Yanomamis estão na cidade. Em contraponto, a vantagem que eu vejo nessa atividade de turismo é por ela ser uma atividade de protagonismo dos Yanomamis, onde eles podem dizer como eles querem ou não querem que seja. O que eles permitem aos visitantes e o que eles não permitem. É claro, vai ter sempre uma pressão e uma demanda que é crescente e os Yanomamis vão ter que saber se preparar para reagir a isso. Ao mesmo tempo, pode parecer desejável para os Yanomamis que a demanda cresça porque vai gerar mais renda, mas eles tem que estar conscientes das limitações e das violências que podem vir com isso. Por que o turismo não é bom nem ruim, ele pode ser benéfico, mas ele pode ser maléfico. Não acho que a demanda por serviços na trilha irá descaracterizar o projeto por que eles mantém o protagonismo Yanomami. Existe o dinamismo próprio dessa atividade como qualquer outra e acontecerão mudanças, se eles continuarem daqui 10 anos, e vão fazer de maneira diferente e espero que seja para melhor.

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