Existe dinheiro para os povos originários e a Amazônia?
Infelizmente, os agentes do mercado estão preocupados em dar um “check” no ESG e na Amazônia. É um tema relevante mais do que efetivamente uma questão ambiental. Eu não vejo eles, salvo uma ou outra exceção, protegendo os povos originários. Nas minhas conversas com eles nunca vi verdade nisso. Eventualmente, um ou outro tem um cunho interessante que ajuda, mas eu não vejo esse desejo genuíno do que o ESG deve ser. Na minha opinião, não há desejo ou uma preocupação genuína com os povos originários e com a preservação da Amazônia. Os critérios de investimentos são outros. Eles analisam como é a empresa e se tem algo que a empresa já cumpre. Dentro do que a empresa já faz ou que ela mude o mínimo. Via de regra, muitas operações se enquadram em réguas que estão adequadas à elas e não necessariamente às necessidades da sociedade. É mais o que é adequado do que é necessário. A questão humana, os valores humanos não estão em jogo em grande parte dos negócios e, um valor muito forte que não é olhado, que é muito negligenciado, é a questão do S do ESG. Especialmente a questão da desigualdade social. Isso não é olhado de maneira nenhuma. A gente tem que pôr em xeque esse modelo, pois estão tirando a credibilidade do que é sério. Não estão causando nenhum impacto, os problemas continuam cada vez maiores e os caras continuam emitindo título como se estivessem resolvendo alguma coisa.
Será que falta amor e afeto no mercado e no mundo dos investimentos?
O mercado passou a não valorizar os valores internos, que é o que mais importa na vida, e passou a olhar tudo como meio de produção. O que vale mesmo é acumulação de riqueza. Infelizmente essa é a realidade do que acontece. Essa busca desenfreada pela acumulação, acreditando que a vida é um jogo finito onde um ganha e outro perde, traz esse mundo caótico que a gente vive, onde cada vez menos gente tem mais e mais gente tem menos. Se continuarmos com essa sociedade materialista e sem consciência, vai continuar esse caos social e ambiental. Para mim, quando você amplia a consciência não tem outro caminho que não olhar para o próximo. É preciso olhar para as próximas gerações. E quando você tira esse olhar egocêntrico materialista que te deixa infeliz, você sai da bolha. Eu fiz isso. Vendi todo o negócio tradicional da Gaia e quero fazer só coisas de impacto porque é o que faz sentido. O que mais me faz feliz. O que coloca sentido no trabalho e me faz acordar todos os dias. E todo o dinheiro da venda estou revertendo para o impacto. Abrindo mão de um capital muito maior do que eu tenho em prol do impacto. O mercado é formado por várias pessoas tóxicas e materialistas que fomentam essa sociedade cada vez mais desigual. O que falta é amor no coração dessas pessoas. Porque quando você está em paz e deseja o bem para o próximo, não tem como você ser mais ganancioso.