O ecossistema de impacto socioambiental tem se tornado pauta também em grandes empresas, que vêem no segmento oportunidades de inovação em modelos de negócio e em formas de sustentar seus braços de responsabilidade social. Esta é a conclusão que ficou de um dos encontros do Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, realizado nos dias 6 e 7 de junho, em São Paulo.
Mudança de Cultura
Com o tema Grandes Empresas, uma série de painéis do Fórum tentou dar conta de como a ponte entre o campo e corporações tradicionais pode ocorrer. Para Andreas Ufer, sócio-fundador da Sense Lab e um dos integrantes dos painéis, o começo da mudança de mentalidade destas empresas poderá vir de suas próprias equipes.
“A busca de propósito da juventude e a crise de governança vieram como fator que influencia o ambiente de negócios. E a gente sente que o interesse das grandes empresas tem crescido nessa temática. São jovens adultos que saem das corporações para buscar propósito, e encontram o setor de impacto”, comentou Andreas. “Uma dor nossa é que não existem muitos canais de oportunidade para as pessoas do campo. Existe uma oportunidade de empresas em se conectar com isso e atrair grandes talentos.”
A professora e pesquisadora Graziella Comini, da FEA-USP, deu um relato semelhante ao comentar sobre a demanda de alunos por conhecimentos do setor. “A pressão na academia por impacto vem muito mais dos estudantes, dos jovens. O problema é a absorção dessas pessoas”, contou Comini. “O jovem encontra startups, mas não encontra grandes corporações. Os alunos não acham que o engajamento social pode ser um tema transversal nas empresas. Na medida que não se identificar isso, haverá uma vazão desse jovem.”
Todavia, Comini também destaca a importância de uma orientação verticalizada na consolidação desse movimento em uma empresa. “Deve haver um comprometimento da liderança. De baixo pode vir pessoas que abracem. Mas a alta liderança nas empresas precisa ver formas de mesclar resultados financeiros com resultados sociais no seu core business. Esse valor pode vir de cima para baixo. Se for jogado para uma área separada, estará condenado a uma condição periférica”, concluiu.
O desafio de vender impacto
Engendrar impacto social no core business das empresas ainda é grande desafio. Isto é, fazer com que o impacto possa gerar valor e retorno financeiro nos principais negócios das corporações. Para Luciano Gurgel, da diretor da Yunus Brasil.
“O CEO da [investidora americana] BlackRock, Larry Fink, orientou em carta a outros CEOs dizendo que as empresas que não tivessem um âmbito de impacto social no seus negócios, deixariam de ser investidas pela BlackRock“, recorda Gurgel. “O investidor começou a contextualizar de maneira um pouco diferente o que compõe o retorno. Há uma força que move os negócios para entenderem qual o seu papel de verdade, um papel mais importante e significativo na sociedade.”
Aprendendo na prática
Os painéis também trouxeram alguns cases de empresas, grandes e tradicionais, que estão implementando em seus negócios centrais modelos que engendrem impacto social ou ambiental. Estiveram lá André Schaeffer, da InterCement; Denise Hills, do Itaú, e Luciana Vila Nova, da Natura.
Denise compartilhou um pouco da experiência do Itaú com o segmento de impacto. “Falar de um banco é falar de como considerar o impacto na forma como eu concedo crédito e investimento em todas as atividades bancárias”, explicou Denise. “Ao conceder um crédito a uma empresa eu procuro entender se ela tem a sensibilidade de entender que a atividade dela causa impacto social, e o seu crescimento depende dessa clareza. Isso já é prática. O impacto não é opcional. Hoje, se você não gere esse impacto, provavelmente irá causar e será uma vitima circunstancial dele, o que é ruim.”
Nesse sentido, os negócios de impacto aparecem como uma oportunidade, mas é preciso “educar o investidor” para esse campo. “Negócios de impacto já nascem com essa mentalidade. O impacto não é opcional, o que eu preciso é pensar nele como modelo de negócio”, esclarece Denise. “E nem tudo que é importante é monetizável. Todo dinheiro de longo prazo pensa em mais tranquilidade sobre isso, você refletir que o retorno pode vir de uma nova economia é uma coisa interessante de fazer. Não tem nenhuma razão para um bom negócio não gerar um bom impacto. E um negócio que deixa impacto negativo, não será um bom negócio.”
Já na InterCement, André descreveu para o auditório como a atuação do Instituto foi sendo incorporado nos negócios da empresa. A InterCement é uma holding criada pela Camargo Corrêa para fornecimento de cimento na construção civil. “Fazer cimento é basicamente jogar gás carbônico na atmosfera. A gente sabe desse impacto”, confessou André.
Ao longo de 10 anos, o instituto vem na atuação de alinhar as preocupações sociais e ambientais aos da empresa, e deixar de “passar o chapéu”, segundo André. Para isso, identificou-se oportunidades em toda a cadeia de cimento. Por exemplo, fomentou a produção de alimentos nas cidades onde há fábricas, para alimentar seus funcionários. “Estamos caminhando para um lugar em que não seja necessário ter mais instituto. Que esse viés esteja em toda cadeia. O alinhamento com o negócio é a coisa mais importante que tem para fazer isso de um jeito mais fácil”, argumentou.
A InterCement também anunciou o lançamento da iniciativa Housingpact, que atuará na busca de soluções para questões de moradia em toda a cadeia, fomentando novos negócios de impacto. A Aupa está de olho na iniciativa e trará uma reportagem especial detalhando sobre este projeto.