O questionamento acerca se ESG é moda tem circulado muito no campo de impacto socioambiental. Além disso, é frequente ouvir de várias organizações pedidos de ajuda para “adequar os projetos delas às práticas de ESG”. Essa pergunta é intrigante. Muito.
Antes de discutir porque é tão intrigante, façamos uma breve recapitulação sobre a construção do campo de impacto socioambiental desde o meio do século passado.
Após a II Guerra Mundial, foi publicada a Declaração dos Direitos Humanos e as temáticas envolvendo o apartheid e a segunda onda feminista estavam emergindo. Já nos anos 1970, o termo “responsabilidade social empresarial” passou a ser usado pelas empresas; temas relacionados ao estado de bem-estar social e a constituição do PNUMA deram a tônica da década.
Nos anos 1980, o termo “responsabilidade ambiental empresarial” foi incorporada aos discursos. NA mesma década, crises financeiras e humanitárias na América Latina se aprofundaram. A discussão sobre “sustentabilidade” nasceu nos anos 1990, quando foram lançados o Índice de Desenvolvimento Humano e o SROI, e a Dow Jones criou seu índice de sustentabilidade.
“Triple Bottom Line”, nos anos 2000, era o termo usado quando se falava sobre o campo de impacto social, ambiental e econômico. A Agenda 21 e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (os ODMs, hoje substituídos pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODSs) foram lançados e, por fim, nos 2010s, a discussão em torno das práticas de valor compartilhado, setor 2.5 e o Movimento das Empresas B dominaram o campo.
Com essa recapitulação, é importante trazer dois conceitos: “moda” é uma prática, atividade ou conceito que é incorporada de forma consciente na rotina diária, não acarreta em mudanças de comportamentos e tem um impacto relativamente instantâneo. “Tendência” é o resultado de uma mudança de comportamento. A tendência começa de forma mais tímida que a moda, mas sua duração é grande e com impactos profundos. Passa a ser assumida como uma mentalidade emergente e dominante.
Voltando ao início do texto, no questionamento sobre se ESG é moda, a resposta deveria ser “sim!”. Assim, não se deve confundir o termo ESG, com sua prática real. A construção histórica apresentada anteriormente evidencia que as práticas de ESG não são uma moda, mas, sim, uma tendência de todo o último século. No entanto, chamá-las de ESG, nos parece uma moda. Vale dizer que ela já foi batizada de muitas coisas nesse processo.
As organizações e os atores que desenvolvem projetos em todo o campo socioambiental, aqueles que pautam a discussão sobre os direitos, as minorias, a importância de retardar os desastres ambientais e tantos outros temas, sempre foram os que mobilizaram a sociedade. As organizações de impacto são as que tratam, cuidam e garantem que a sociedade não se esqueça de tudo isso e insistem na necessidade de encontrar soluções.
O termo ESG é moda. Mas essa prática, que hoje tomou conta do campo corporativo, das revistas de negócios e até mesmo das organizações sociais, vem sendo construída, insistida, organizada, pautada e feita por todo o campo.
Aos gestores de organizações da sociedade civil, um chamado: pouco (ou nada!) do que vocês já fazem é necessário “ser adequado” às práticas de ESG. Já “fazemos ESG” desde nossas concepções. Quem construiu o tema, tijolinho por tijolinho, – e quem tem representatividade e domínio para falar sobre – somos nós.
Este texto é de responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.
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