“A sétima arte que gera impacto” seria um bom título para o trabalho da Maria Farinha Filmes, uma produtora e do núcleo de negócios do Alana, que usa a contação de histórias para propor ideias ou “lembretes” nas pessoas e também, no ecossistema. Um exemplo é a série Aruanas – co-produzida pela Globoplay e está em cartaz na TV aberta -, que mostra como funcionam e trabalham as ONGs em defesa do meio ambiente na Amazônia.
Ao longo dos dez episódios, a ficção – nas entrelinhas – mostra (e relembra) para o telespectador a importância da Floresta Amazônia, das reservas, dos índios e dos outros moradores que vivem lá. Na vida real, a mesma região sofre com altos índices de desmatamento, antes e durante a pandemia.
A Aupa conversou com Estela Renner e Marcos Nisti, criadores da série e sócio-fundadores na produtora, sobre a chegada de Aruanas ao público geral, a aceitação pelos atores do campo e da temática ambiental e os planos futuros para a série. Confira:
AUPA: Aruanas aborda várias feridas do Brasil, como o desmatamento. Chegando à TV aberta e ao público geral, o que o projeto acrescenta às discussões sobre o tema? Qual é a responsabilidade?
Estela e Marcos: Sempre sonhamos com esse momento. Escrevemos essa série para a TV aberta sonhando que o meio ambiente poderia ser assunto do dia a dia das famílias. Levar a todos os brasileiros a oportunidade de conhecer o dia a dia dos ativistas no Brasil. Suas vidas, suas dores, seus amores. Aruanas acrescenta pessoas ao tema, que é justamente o que a causa ambiental mais precisa.
AUPA: A série teve boa aceitação das organizações (nacionais e internacionais) que lutam pelo meio ambiente. Como vocês avaliam essa recepção? A intenção sempre foi ampliar as vozes desse movimento?
Estela e Marcos: Sim, essa sempre foi a intenção. Muita gente conhece o que faz um perito criminal por causa do CSI; outros, o dia a dia de uma Sala de Emergência de um hospital por causa do ER ou Grey’s Anatomy. Por que não mostrarmos o dia a dia de pessoas que dão suas vidas pela vida de todos e a rotina de ativistas e seus trabalhos em uma ONG? As organizações receberam a série no mundo inteiro de maneira muito carinhosa e a grande prova disso é como elas se manifestam nas redes durante a exibição dos episódios, interagindo com sua base sobre o que está acontecendo e fazendo um paralelo entre ficção e vida real.
AUPA: O que agregou ter filmagens na região amazônica? Reforçou o objetivo da série?
Estela e Marcos: Muito. Começar a filmar por lá, além de integrar o elenco de uma maneira única, levou toda a equipe para o coração das questões de que estávamos tratando. A convivência com os talentos locais também foi de extrema importância para a obra.
AUPA: Com a segunda temporada no forno, quais os próximos caminhos do projeto? Como estão os trabalhos durante a pandemia?
Estela e Marcos: Suspendemos as gravações no dia 13/5 e estávamos filmando há duas semanas. Na segunda temporada, abordaremos a poluição do ar, mais um tema super importante.
AUPA: Nos bastidores, 47% da produção foi feita por mulheres e são quatro mulheres protagonistas. Qual é o impacto de trazer essa diversidade?
Estela e Marcos: Essa é uma atitude extremamente desejada e lutamos por esses números. Na segunda temporada, já temos 53% de mulheres na equipe. Vamos sempre buscar números assim, é uma atitude política. A nossa Maria Farinha é a primeira produtora certificada pelo Sistema B na América Latina. A gente precisa mostrar que dá para fazer, criar esses cases, para as pessoas fazerem. Esse é um dos nossos papéis.
Na sequência da entrevista com a Estela Renner e o Marcos Nisti, a Aupa conversa sobre a trajetória da produtora, as inspirações e os próximos lançamentos. Confira abaixo:
AUPA: O que move os projetos da Maria Farinha? É com propósito trazer causas nas telas?
Estela e Marcos: Sim. Queremos produzir conteúdo de qualidade com informação também de qualidade para o maior número de pessoas. Sempre com assuntos que valorizem a vida e o ser humano. Já falamos de consumismo e obesidade infantil, meio ambiente, importância do brincar, do começo da vida, da criatividade, da empatia, enfim, documentários que ajudaram de alguma forma na evolução de agendas nessas causas e, agora, com o mundo da ficção.
AUPA: Como vocês acreditam que os trabalhos da produtora impactam positivamente a sociedade?
Estela e Marcos: A gente consegue materializar em imagens, palavras e sentimentos, assuntos que talvez ainda não tenham sido tratados dessa forma. É um jeito de democratizar a informação e dar condições para as pessoas pensarem de forma livre sobre os temas. Pessoas que fazem leis, administram empresas, julgam e, principalmente, consomem. As pessoas precisam saber o custo em vidas da extração ilegal do ouro na Amazônia. A gente tem que se importar com isso. São crimes cometidos diariamente e totalmente impunes – e tem morrido muitos ativistas que lutam contra eles.
AUPA: Depois de produções como Nunca me sonharam, o que podemos esperar da produtora? Existe algo não abordado que desejam retratar ainda?
Estela e Marcos: Muita coisa. Estamos lançando um filme, Um Crime Entre Nós, que trata de uma aberração com que a nossa sociedade convive e parece que não tem muito estômago para falar sobre ela, que é a exploração sexual na infância. Filmaço. Temos um outro documentário sendo finalizado que é a continuação de O Começo da Vida, agora com o foco na relação da criança com a natureza. E com vários outros temas em produção e desenvolvimento.
AUPA: Quais os principais obstáculos em trabalhar com produção audiovisual e ativismo?
Estela e Marcos: Trabalhar no audiovisual já é uma corrida de obstáculos e, juntando isso ao ativismo, criamos uma tempestade perfeita [risos]. Mas, ao mesmo tempo, é um lugar que, geralmente, envolve um grupo de pessoas muito especiais. As pessoas do audiovisual são ativistas por natureza. Trabalham por amor mais do que por qualquer outra coisa e é neste lugar, do amor, que as profissões, os desafios e as oportunidades podem se fundir.
AUPA: Quais são suas referências? Em quem vocês se inspiram para as produções?
Estela e Marcos: Acreditamos que, na forma de estar do mundo, a Maria Farinha tem um posicionamento muito parecido com uma produtora americana, a Participant Media. Procuramos a mesma trajetória desde o começo, mesmo sem conhecer um ao outro. Hoje, eles são uma super referência para nós.