Impacto pra lá,
impacto pra cá
e a sensação de estarmos nos apegando, cada vez mais,
a ferramentas e formas sofisticadas de se fazer impacto.

Crowds, métricas, teorias de mudança e um monte de termos em inglês
e o campo parece avançar, rapidamente.

Mais atores, diversidade e capilaridade,
mas não se sabe, porém, para qual direção todos vamos.

Este tipo de discussão,
de fundo,
infelizmente, é pouco comum no campo.

Afinal,
não há tempo a perder…

Parece haver plena clareza entre todos os tripulantes deste barco:
para qual direção remar.

Será?

Um incômodo tem me perseguido, de uns tempos para cá:
sobre porquê reflexões deste tipo seguem incipientes nas agendas, eventos e conversas oficiais do setor.

[Na rádio-corredor, elas seguem vibrantes. Viva!]

Será que, de fato, as escolhas que temos feito
no campo do ‘impacto’
guardam estreita relação com o propósito maior que almejamos neste campo?
Será que estamos nos perdendo em algumas destas escolhas?
Será que este barco mudou de direção e não nos demos conta?

Embora exista muita gente comprometida neste campo,
o termo ‘impacto’ vem sendo apropriado por muita gente,
de forma oportunista e ‘caronística’.

Alguns do campo celebram:
‘impacto está se tornando mainstream’.

Já outros coçam a cabeça.
E a narrativa predominante segue seu curso:

“Impacto veio para ficar, tem $ sobrando, faltam bons projetos, modelos de negócio são ótimas maneiras de escalarmos soluções para resolvermos problemas socioambientais, é preciso mensurar impacto, blá, blá, blá”.

Mas faltam reflexões críticas sobre os rumos do campo
e sobre a nossa incapacidade de melhor nos organizarmos,
melhor cooperarmos entre nós neste ‘barco’
e melhor assumirmos a dimensão política e transformadora
que este tal de ‘impacto’ traz consigo.

Afinal:
‘Impacto pra quem, cara pálida?’

 

*Créditos da colagem: Murilo Mendes.

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