Atuando em inúmeras formações e em programas de aceleração para micros e pequenos empreendedores nos territórios periféricos na cidade de São Paulo, tenho procurado aprofundar o meu olhar para as dores das e dos empreendedores. Neste artigo abordo três necessidades elementares desses empreendedores: desenvolvimento de competências empreendedoras, relação interpreendedora e dinheiro.

Inúmeras pessoas que empreendem têm buscado se capacitar, acessando programas de formação de empreendedores, lives, além de diversos conteúdos sobre empreendedorismo e gestão de negócios distribuídos na internet. Elas entenderam, diante de tantas dificuldades e desafios, que para empreender o conhecimento é fundamental, de modo a aplicarem os fundamentos de gestão de negócios, marketing digital, vendas e finanças nos negócios.  Para além das abordagens técnicas e operacionais, empreendedores reconhecem a importância do desenvolvimento das atitudes empreendedoras, elevando a autoestima e protagonizando a volta por cima, isto é, superando as dificuldades pessoais e profissionais.

Tem ficado cada vez mais evidente, para empreendedoras e empreendedores periféricos, que empreender requer acesso às informações, capacidade para aplicar os conhecimentos, competência criativa para solucionar problemas, gerar e entregar valor aos clientes.

Recentemente em programa de aceleração na Zona Leste da cidade de São Paulo,  tivemos a oportunidade de incentivar as e os empreendedores a estabelecerem relações interpreendedoras, para tornarem reais e efetivas as ações estratégicas para evolução dos empreendimentos. Durante esse estágio, diversas parcerias foram realizadas, possibilitando o fortalecimento da cadeia de valor das empresas no território, além da criação de diferenciais e vantagem competitiva aos negócios.

Os participantes do programa de aceleração foram estimulados a observarem que as relações interpreendedoras acontecessem dentro de abordagens amplas entre as quais: valorização da pessoa que empreende, tendo em vista seus princípios, valores e crenças; as relações existentes entre os negócios envolvidos; e sustentabilidade econômica, social e ambiental, com vistas às características do território. As e os empreendedores compreenderam a relevância da rede de contato alinhada com as potencialidades do território, definindo ações estratégicas de diferenciação de produtos e serviços, para aproveitamento das novas oportunidades de mercado identificadas.

Dois aspectos contemplam todas as empresas: econômico e social.Todas as pessoas que empreendem, especialmente micros e pequenos negócios, têm necessidade de dinheiro para a viabilização e a evolução dos seus negócios.

É incontestável que todas as empresas precisam captar e aplicar dinheiro, e gerar lucro – afinal, sem isso os negócios são inviabilizados.

Infelizmente, muitas e muitos empreendedores passaram anos sem planejamento financeiro pessoal e profissional, sem, minimamente, um controle de fluxo de caixa. Quando a abordagem vai para precificação, a situação fica pior, porque voltavam o olhar para a prática da concorrência, não considerando outros fatores de mercado como: perfil do cliente, custos operacionais, margem de ganho, entre outros.

Diante da necessidade de dinheiro e, por vezes, do desconhecimento em gestão financeira , acrescenta-se o fato de que os investimentos nem sempre tem chegado aos empreendedores dos territórios periféricos, para promover a evolução pessoal e profissional das pessoas. Isso diz muito sobre a existência e a disponibilidade de recursos financeiros com a finalidade de estimular o empreendedorismo e dar melhores condições para os negócios periféricos. No entanto, do discurso à prática há certa distância. 

O pensamento de alguns investidores, ainda que dentro do contexto do impacto social, considera a riqueza como o acúmulo de dinheiro e se limita à manutenção do status quo, sem interesse da promoção da transformação econômica e social das periferias. O acesso ao dinheiro, por vezes, é caro, têm exigências específicas e, em larga medida, nem sempre está orientado para promover o impacto econômico e social das regiões periféricas. Muitos investidores ainda mantém a mentalidade do dinheiro ser direcionado aos negócios prontos para a obtenção de resultados rápidos e crescentes no curto e médio prazos, o que tem causado desestímulos e frustrações em muitas e muitos empreendedores periféricos.

Na incessante busca para entender as necessidades das pessoas que empreendem nos territórios periféricos, observo as pessoas que empreendem reconhecendo a importância de se firmar parcerias estratégicas sustentáveis e de relação ganha-ganha, com firme interesse de se ajudarem mutuamente. Entendo que, quanto mais fortalecidas as relações interpreendedoras, gerando mais e mais negócios diferenciados e atrativos, tanto melhor para o protagonismo do empreendedorismo periférico nas exigências e nas transformações sociais e econômicas territoriais.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.

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