Em meio à pandemia, a quantidade de cursos on-line, lives e webinários explodiu. Parece que a solução para todos os problemas de gestão das organizações sociais pode estar nos cursos.

Num esforço legítimo de atender às demandas, nós, organizações-meio, perguntamos qual é a necessidade. A dificuldade é preencher um edital para acessar recurso? Toma curso sobre preenchimento de edital. Dificuldade na prestação de conta? Live sobre boas práticas na prestação de contas! E entupimos a internet com esses conteúdos…

Acontece que a gestão de projetos não é nenhuma “física quântica”. No que se refere ao conteúdo técnico, engloba assuntos conhecidos e acessíveis: bastante discutidos e de domínio praticamente público. O que está escrito em guias de gestão de projetos pensados para o campo social, como o Project DPro, o ProgramDPro (da PM4NGOS), o PM4R ou ainda o PM4R Agile (do BID), também pode ser encontrado, ainda que em formatos distintos, em outros manuais e livros destinados a gestores de projetos. 

O intrigante é que, mesmo os gestores de organizações que já tiveram acesso abundante a conteúdos, ainda têm dificuldades para lidar com várias questões sobre gestão de projetos. E este é um forte indício de que o mero acesso ao conteúdo não basta para resolver os problemas que a gestão traz.

Quais seriam os outros fatores que poderiam ajudar gestores a responder seus questionamentos sobre a gestão e melhorar a tomada de decisão?

Convivo com gestores e gestoras de projetos do campo que são incríveis! E aqueles que têm mais facilidade para responder suas próprias dúvidas, que desenham projetos que fazem mais sentido para os beneficiários e que mantêm suas equipes mais alinhadas apresentam três atitudes comuns:  

(i) Aumentam continuamente suas experiências sobre gestão de projetos de impacto – se não praticando, ao menos, conhecendo a fundo as experiências de outros gestores.

(ii) Fazem perguntas sobre o que está acontecendo – questionamentos baseados em conhecimento prévio e dados concretos; e não só em achismos.

(iii) Reconhecem que seu comportamento influencia na gestão, na sua equipe, nos resultados dos projetos e procurar mudá-los quando necessário. 

Não é uma jornada fácil!

É um desafio enorme para o campo de impacto socioambiental investir na qualificação da sua equipe. Seja porque este conhecimento específico é escasso, seja porque os recursos destinados são enxutos, seja porque sempre há trabalho demais e resta pouco tempo para dedicar à formação. Além disso, estamos pouco auto-disciplinados, especialmente em ambientes organizacionais, a incorporar nossas experiências e práticas diárias como um dos possíveis processos de aprendizado: esquecemos que somos capazes de aprender de muitas maneiras!

Há tantos gestores de projetos sofrendo porque trabalham incansavelmente e ainda não encontraram respostas para perguntas complexas e profundas sobre o gerir projetos no campo. Perguntas que se espera que tenham as respostas como num piscar de olhos: como atender às demandas dos beneficiários sem perder de vista os interesses do financiador? Como gerenciar um portfólio com uma quantidade grande de projetos sem uma estruturação de programas bem definida? Como abordar novos modelos de gestão e como aplicar na vida cotidiana? Como garantir no dia a dia que o projeto tenha relação com o impacto esperado?

E esse texto é um convite! Se você também acha que responder a essas perguntas é ainda mais difícil do que desenhar um cronograma bem feito, venha conversar! Estamos buscando meios novos de pensar e fazer gestão de projetos no campo de impacto. A utilização de ferramentas técnicas é uma etapa importante do processo, mas elas sozinhas não têm dado conta da complexidade do campo: nas organizações de base, nas grandes fundações e também nos negócios sociais. Quem também sente as dores no dia a dia da gestão de projetos está mais do que convidado a se juntar a essas reflexões, tentativas e erros de desenho. 🙂  

Este texto é de responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.

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