Fazer acontecer modelos de negócios rentáveis que resolvam algum problema socioambiental. Este é o principal objetivo da Aliança pelos Investimentos Sociais e Negócios de Impacto, um grupo com 80 organizações articuladas pelo Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) que vem sendo formado desde 2013. Até 2018, o grupo era chamado e reconhecido como Força Tarefa de Finanças Sociais, mas passou a adotar o novo nome.

Para isso, o grupo tem definido princípios, preparado um plano de ação e usado de influência para articular com investidores, famílias de alta renda, instituições, empreendedores e governo. Mesmo ainda com pouco tempo de existência, a iniciativa tem observado importantes passos sendo dados. Uma delas a criação junto ao governo da Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (ENIMPACTO), que se for executada será um marco para o setor.

A ideia de uma Força Tarefa sempre foi ótima, mas não tanto original, até porque com a chegada da década de 2000 era anunciado o fim do milênio. E foi nesta ocasião que, no Reino Unido, pessoas começaram a se organizar e apresentar recomendações de implementação para garantir o avanço do  setor de negócios de impacto.

Entretanto, em 2013, outro grande avanço global aconteceu. Na época,  David Cameron, então primeiro-ministro britânico, anunciou a criação de uma força tarefa que incluía os países do G-8. Assim, Estados Unidos, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido e Austrália (embora este último não fosse integrante do G-8) começaram a desenvolver recomendações globais e específicas direcionadas aos países do mundo.  Uma das recomendações globais, por exemplo, que merecem destaque foi dirigida aos governos e bancos de desenvolvimento, para que criassem mecanismos financeiros direcionados aos investimentos de impacto. A pressão fez sentido.

 

 

Pode-se dizer que a partir da iniciativa do ex-primeiro-ministro do Reino Unido, a cena global ganhou força e, atualmente, representantes de 15 países e da União Europeia se reúnem sob a bandeira do Global Social Impact Investment Steering Group (GSG), criado em 2015. O Brasil, por sua vez, se faz  presente no GSG por integrar a Força Tarefa.

“O cenário global está se consolidando rapidamente. Neste momento, ainda é preciso de apoio de governos, dinheiro de fundações, mas se a onda pegar o capital privado investirá, e a atenção dos investidores será direcionada para esta agenda. A meta do GSG é de que até 2020 1 a cada 3 pessoas em situação de vulnerabilidade seja impactado por esses investimentos. É uma meta ousada”, conta Celia Cruz, diretora executiva do ICE.

No Brasil…

Após quase dois anos analisando demandas, desafios e oportunidades do ecossistema e sistematizando este conteúdo, a Aliança lançou, em outubro de 2015, uma carta com 15 recomendações para garantir: a ampliação da oferta de capital; o aumento do número de negócios de impacto; o fortalecimento das organizações intermediárias; e a promoção de um macroambiente favorável para as Finanças Sociais.

Algumas das recomendações são: uso do subcrédito social do BNDES para negócios de impacto, a inclusão de negócios de impacto nas compras governamentais e na cadeia de valor das empresas, a formação de empreendedores e fortalecimento das incubadoras e aceleradoras, a integração do Governo Federal na agenda de finanças sociais e o apoio do SEBRAE aos empreendedores de negócios de impacto.

A 15ª recomendação é para que os atores do ecossistema se utilizem da Carta de Princípios publicada pela Aliança, que define o que são Negócios de Impacto no Brasil e como eles se diferenciam das ONGs e das empresas tradicionais.

O documento, publicado em 2015, está baseado em quatro princípios. Negócios de impacto socioambiental devem ter um propósito de gerar impacto socioambiental positivo explícito na sua missão; conhecem, mensuram e avaliam o seu impacto periodicamente; têm uma lógica econômica que permite gerar receita própria; e possuem uma governança que leva em consideração os interesses de investidores, clientes e a comunidade.

Quais os avanços?

Atuando como mobilizadora dos atores estratégicos, o ICE, por meio da Aliança, criou, em 2016, o primeiro Laboratório de Inovação em Finanças Sociais, que reuniu lideranças de diferentes organizações para cocriar protótipos de ação para implementar as recomendações.

Entre maio e novembro de 2016, 57 organizações participaram da criação de sete protótipos. Um destaque foi o nascimento do FIIMP (Fundações e Institutos de Impacto), um fundo de investimento que reuniu 22 institutos e fundações. O fundo investiu, ao todo, 703 mil reais em negócios de impacto e estão, atualmente, colhendo informações e seguir para a segunda rodada de investimentos.

A experiência se repetiu em 2017 e resultou em sete outros protótipos igualmente interessantes ainda que em fase incipiente. Um deles é o Fundo Éditodos, um fundo de capital gerido por empreendedores de periferia, que deve ser lançado em junho com objetivo de captar 300 mil reais no segundo semestre de 2018.

Embora, no Brasil, haja avanços nos investimentos em negócios de impacto, o contexto não é tão animador como se imagina.  “O setor está crescendo. A infraestrutura está sendo construída tão rapidamente quanto necessária? Não.  Os bancos ainda não têm produtos suficientes, para isso a oferta de negócios precisa aumentar. E por causa disso,  as aceleradoras morrem na praia… Mas o cenário está evoluindo”, afirma Celia Cruz.

Contudo, um estudo realizado pela Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE), em parceria com a Latin American Private Equity & Venture Capital Association (LAVCA) e LGT Impact Ventures mostrou que, apesar da instabilidade político-econômica vivida entre 2014 e 2016, no Brasil, os recursos administrados por investidores em negócios de impacto subiu de 177 milhões para 186 milhões de dólares. O número, mesmo expressivo, não é suficiente. O México com PIB cerca de 50% menor que o Brasil, por exemplo, somou 392 milhões de dólares em investimento. 

Leonardo Letelier

 

“Em termos de volume de transações, se for olhar para trás está bom, mas se olhar comparativamente, nem tanto. Proporcionalmente, o setor no México é muito maior. Em relação à estrutura, o Brasil  tem, no momento, uma estratégia nacional de investimento de impacto. Se pensar na infraestrutura, estamos potencialmente muito bem”, revela Leonardo Letelier, Diretor Executivo da Sitawi e participante da Aliança.

A Aliança publicou seu relatório de ações no ano de 2017. Saiba mais sobre neste link.

A criação da ENIMPACTO

Uma importante conquista foi a assinatura presidencial, em dezembro de 2017, do decreto que cria a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (ENIMPACTO) e torna o Brasil a ser o primeiro país com uma estratégia de ação interministerial.

Esta estratégia foi resultado de um plano de ação de oito meses elaborado a partir de um Grupo de Trabalho Interministerial coordenado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e que envolveu a participação da Aliança e de agentes de diversos setores, como por exemplo, PNUD, BID, SEBRAE, Caixa Econômica Federal, Anprotec, além do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação.

O decreto aprovado tem as mesmas bases que fundamentaram a publicação das Recomendações da Aliança, que se transformaram em Grupos de Trabalho. Este decreto determinou também eleições de lideranças que ajudarão na implementação do cenário proposto.

O ICE, por exemplo, foi eleito para ampliar a oferta de capital por meio da Aliança. Já o aumento do número de negócios de impacto é gerenciado pelo Sebrae. Entretanto, quando se fala no fortalecimento das organizações intermediárias, a administração é da Anprotec. E quanto à promoção de um macroambiente favorável para as Finanças Sociais quem coordena é o Sistema B.

“Este é um trabalho que, na verdade, só começa” arremata Leonardo Letelier, que participa dos Grupos de Trabalho. “A criação só mostra que o governo definiu algumas prioridades, mas não é que esteja tudo resolvido”, completa Leonardo.

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