Quanto vale uma floresta?

O fogo na Amazônia traz consequências ecológicas, políticas e econômicas – e os negócios e as iniciativas de impacto podem participar efetivamente para pensar o futuro da região

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Vista aérea do rio Amazonas (foto 2019) crédito: wikimedia

Quanto vale uma floresta? Esta provocação vai além do valor em dinheiro e do jogo político: foca nos recursos naturais, seus impactos nas comunidades e seres ao redor e equidistantes das matas, bem como no projeto de futuro para as gerações posteriores. Os impactos e suas transformações socioambientais são o coração dos negócios com propósito, podendo ser o caminho para soluções e intermediações de assunto que causam consequências ao coletivo, sobretudo grupos vulneráveis. Dessa forma, as queimadas e suas consequências na região da Amazônia em muito importam e afetam as comunidades, o bioma, os negócios, a política, a saúde e os fatores socioeconômicos. No Brasil e no mundo.

Propor negócios de impacto é também apresentar novas maneiras de trazer dignidade, bem-estar, preservar os recursos naturais, gerar lucros e transformações em determinado grupo ou território. Quando a temática são as florestas, o desafio é a formulação de soluções que respeitem o ecossistema e suas particularidades. E tais negócios podem ser a articulação para a vida após o fogo controlado. Se a chama arrasa o bioma, as iniciativas locais, os saberes territorializados, a cobrança e o diálogo com o poder público e a geração de renda e possibilidades à população atingida podem, juntas, ser a solução e pensar o amanhã.

Estar atento aos desdobramentos de acordos comerciais e políticos, como o Fundo Amazônia e o Acordo UE-MERCOSUL, diz respeito às possibilidades dos negócios locais e globais e, sobretudo, uma dinâmica de sociedade que preserve e não apenas degrade recursos. Não é gratuito o interesse de outros países na floresta, ao mesmo passo que também é ao acaso que escolhas políticas alinhem o tratamento da região ao agrobusiness. Há política e poder sob as copas das árvores tropicais, cujo interesse da negociação vai muito além da pureza do ar e da preservação da biodiversidade. Ao Poder Público e seus órgãos competentes espera-se diálogo, além de soluções práticas e urgentes, que contemplem a complexidade da Floresta Amazônica e aqueles que vivem sua territorialidade.

Painel do 1º Fórum de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia (FIINSA), realizado nos final dd 2018

A realização do 1º Fórum de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia revelam a importância da pauta que alinha a biodiversidade e negócios. A Amazônia é múltipla vida e também é marca, investir nela e fazer o dinheiro girar na região é dar voto de confiança em sua preservação e em seu desenvolvimento consciente. A Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) é uma iniciativa que reúne negócios com propósito para a construção de soluções inovadoras para o desenvolvimento sustentável, conservação da biodiversidade, florestas e dos recursos naturais da região. O Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável pela Amazônia (Idesam) também é um protagonista na região, além dos diversos empreendimentos de impacto, de pequeno e grande portes.

Há ainda o SERVIR-Amazônia, liderado pelo Centro de Agricultura Tropical (CIAT). A iniciativa é um dos cinco centros regionais do SERVIR Global, iniciativa conjunta de desenvolvimento da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA) dos Estados Unidos e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O SERVIR-Amazônia une forças de pesquisadores, técnicos e parceiros regionais para compreender necessidades e desenvolver ferramentas, produtos e serviços que atinjam os países da Bacia Amazônica, dando protagonismo a mulheres, povos indígenas e suas comunidades nas tomadas de decisões. Outros atores do ecossistema de impacto localizados na Amazônia que se destacam advêm do investimento social privado, como o Instituto Humanize e o Fundo Vale.

Atua também na região o projeto Integração de Áreas Protegidas da Amazônia (IAPA), liderado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO). A iniciativa apoia a comunidade de gerentes de parques na América Latina e Caribe de áreas protegidas da Amazônia (RedParques) e também garante supervisão eficaz e colaboração entre estas áreas.

Contudo, não escapa aquilo que é fato. Afinal, as queimadas na região da Amazônia registraram um aumento de 82%, entre janeiro e agosto, se comparados os focos no período entre 2018 e 2019, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Do total de queimadas desde primeiro de janeiro de 2019, 52% dos incidentes está na Amazônia. Até o dia 23 de agosto, mais de 30 mil focos de incêndios, durante o mês de agosto, foram registrados em Rondônia, Roraima, Tocantins, Pará, Mato Grosso, Maranhão, Amazonas, Amapá e Acre – estados que compõem a Amazônia Legal.

Registram-se mais de 20 mil hectares de vegetações como a Amazônia, sobretudo, e parte do Pantanal consumidos pelo fogo incontrolado desde o início de agosto. A tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Paraguai também foi atingida pelos incêndios. O fogo, evidente ano após ano, nos registros de satélite da NASA, ocorre também pela associação de múltiplos fatores, como inverno seco, devastação de florestas para pecuária, monocultura ou mesmo venda do terreno, fontes de ignição, como cigarros. Não é por acaso que terras desmatadas registram mais queimadas, porém a fiscalização do desmatamento e dos incêndios ilegais faz-se necessária – ação possível com investimento na Educação (do ensino básico às pesquisas) e atuação do Poder Público.

No dia 19 de agosto São Paulo escureceu durante o dia em razão das queimadas

Quando fauna e flora são arrasadas, a dinâmica de comunidades ribeirinhas, indígenas e de pequenos agricultores entra em colapso. Consequências evidentes também em longa distância: as cinzas da floresta tropical foram carregadas pelos ventos até o estado de São Paulo, perceptível na chuva e na “noite” formada às 15h, do dia 19 de agosto.

Não há dúvidas de que é preciso pensar novas formas de tratar nossas florestas. Afinal, elas são vitalidade essencial para o futuro da humanidade e também das relações de negócios. A longo prazo, lucrar às custas do empobrecimento dos recursos da natureza tem se provado uma afronta às possibilidades de projetar um futuro menos degradante. Respeito à biodiversidade, investimento local (e aqui entra o fôlego aos negócios de impacto) e políticas públicas efetivas parecem ser uma tríade a ser considerada conjuntamente.

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