É possível ser ativista e empreendedor ao mesmo tempo? O conceito de ativismo é bastante antigo. Basicamente, é a busca por uma mudança social e/ou ambiental. O ativista social tem algumas características parecidas com as do empreendedor social, como inspiração, criatividade, coragem e força moral*.

Em geral, a diferença entre um ativista social e um empreendedor social é a forma de atuação. O ativista social almeja as transformações por meio de mudanças em Políticas Públicas, no comportamento das pessoas ou nas estratégias empresariais. Já o empreendedor social busca as melhorias sociais a partir da criação de novos negócios.

Vejo, no entanto, muitos ativistas tentando montar negócios como forma de sobrevivência e muitos empreendedores que queriam ser mais ativistas. E a pergunta que fica é se é possível ser ativista e empreendedor ao mesmo tempo.

Em uma resposta simples, podemos dizer que, ao promover mudanças sociais, os empreendedores não deixam de ser ativistas. No entanto, essa lógica nem sempre é tão simples. Muitas vezes, os empreendedores têm que fazer concessões para manterem seus negócios financeiramente sustentáveis. O caminho não é linear. Ao tentar vender seus produtos e serviços, nem sempre são os mais vulneráveis que são atendidos ou a escala não é a desejada ou o serviço deve ser adaptado para oferecer uma proposta de valor mais apropriada.

Vejo que, durante a jornada empreendedora, nos momentos mais iniciais dos negócios, a discussão está muito mais voltada ao impacto social gerado e à mudança que se pretende provocar. Ao longo do tempo, a discussão se envereda para o modelo de negócio e como se manter sustentável. Isso não quer dizer que o impacto foi esquecido ou negligenciado, mas a sustentabilidade do negócio suga muita energia dos empreendedores. A questão é como não ter um “mission drift” (uma derivação da missão) para uma visão muito mais financeira do que social.

Por outro lado, os ativistas sociais, muitas vezes, também sofrem com o esforço de se manterem financeiramente com dificuldade de captação de recursos. A busca pela manutenção de suas atividades não é uma jornada simples. Por isso, começar a vender alguns produtos e/ou serviços torna-se uma alternativa que, depois de algum tempo, pode se transformar em um negócio. Isso não quer dizer que todo ativista social deve se tornar um negócio social. Muito pelo contrário. A questão é como manter a veia ativista sem ser dominado pelos mecanismos de mercado.

Como manter sua independência em uma sociedade com alto grau de concentração de renda e de poder?

Tanto ativistas como empreendedores sofrem sérios dilemas em suas atuações. Não há um formato melhor do que o outro. Há uma necessidade de não perder de vista os objetivos individuais, sem comprometer seus próprios valores. Coletivos, associações, OSCIPs, negócios de impacto – cada um tem sua forma de impactar e promover mudanças sociais. Os empreendedores podem ser ativistas e os ativistas podem se transformar em empreendedores. Mas é importante entender os limites de cada opção e que a pluralidade de possibilidades é positiva para a sociedade.

Referência: 
* Fonte: Martin, R. L., & Osberg, S. (2007). Social entrepreneurship: The case for definition. Stanford Social Innovation Review.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.

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