Minas Gerais encanta. Tem riqueza cultural e natureza únicas. Mas o estado é grande e, olhando de perto, há diferenças gritantes entre as regiões. Enquanto cidades como Nova Lima, Lavras e Itajubá, por exemplo, têm um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alto, localidades no Vale do Jequitinhonha, ao Noroeste, e outras ao Norte de Minas, sofrem com os baixos indicadores sociais como Educação, Saúde e mortalidade.

É para esse chão, que sofre com questões socioeconômicas geográficas, clima semiárido e baixo desenvolvimento que, desde 2019, a Inemontes, incubadora da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes),olha com atenção.

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A Inemontes passou os primeiros dez anos de sua história prestando suporte a empreendedores docentes e discentes, além de suas empresas de base tecnológica. Em 2019, começou a atender a comunidade, incluindo pessoas que não têm vínculo com a universidade.

“A inserção do tema ‘negócios de impacto’ na Inemontes é bem recente. Em 2017, fomos selecionados para fazer um curso de Negócios de Impacto em Brasília, oferecido pelo Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas], pela ANPROTEC [Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores] e pelo ICE [Instituto de Cidadania Empresarial]. Foi a primeira vez que nós, da incubadora, ouvimos falar nesse tema. A partir daí, decidimos inserir também os negócios de impacto em nosso radar”, conta Sara Antunes, coordenadora da Inemontes e docente da Unimontes. 

Sara Antunes, coordenadora da Inemontes e docente da Unimontes.

Preparando o solo no entorno
Mais do que os negócios, a incubadora passou a divulgar o conceito negócios de impacto na região, com ajuda da participação no ecossistema Norte Valley — que agrega Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs), empresas e outras instituições do Norte de Minas Gerais.

“Percebemos que esse assunto não era estudado ou discutido. Além de cuidar dos incubados, hoje nosso trabalho também é dedicado a disseminar e impulsionar o empreendedorismo na região Norte de Minas Gerais, a partir da oferta de cursos, eventos e atividades que possam despertar o interesse de alunos, docentes e da comunidade em geral”, afirma Sara.

Por meio do projeto Vivência Universitária em Empreendedorismo e Inovação (VUEI), da Secretaria de Desenvolvimento de Minas Gerais (SEDE), para o qual foi selecionada, a Inemontes vem recebendo capacitação. “Com isso, desenvolvemos um plano de ação que tem nos ajudado imensamente a manter ações em prol do nosso objetivo enquanto incubadora, durante a pandemia”, explica a docente.

Observatório em territórios deprimidos
O olhar da Inemontes para as questões socioambientais da região Norte do estado rendeu frutos. Com a proposta “Ativação do Ecossistema em torno do tema Negócios de Impacto”, a incubadora desenvolveu a Caravana Cerrado Empreendedor (CCE) e, em 2020, foi premiada pela parceria entre ICE,  ANPROTEC e British Council. 

“Recebemos R$1.000, uma viagem para visitar ambientes de inovação e empreendedorismo na Inglaterra e a publicação de artigo sobre o nosso trabalho no livro do ICE”, conta a coordenadora. Acesse a publicação Boas Práticas de Incubação e Aceleração de Impacto – 1ª edição aqui.

Atuando como um observatório de negócios de impacto em territórios deprimidos — marcados por pobreza e baixo desenvolvimento socioeconômico —, voltado às comunidades vulneráveis que estão na área de abrangência da Unimontes, a Caravana desenvolve iniciativas para conscientizar e estimular as pessoas quanto à sua potência para empreender e, principalmente, criar soluções que impactem positivamente, transformando a realidade da sua comunidade e do entorno.

Parcerias de ouro
Muitos dos empreendedores locais não viam seu trabalho como negócio de impacto. As parcerias da incubadora com os cursos de pós-graduação e graduação da Unimontes, com o Sebrae e a Fundação de Desenvolvimento Científico, Tecnológico e Inovação do Norte Minas (Fundetec), foram fundamentais para divulgar, capacitar e despertar interesse, ou seja, criar um canal de comunicação com os atores internos e externos à universidade.

Por terem qualificação para auxiliar no desenvolvimento de diversas atividades e demandas dos negócios de impacto, os programas de pós-graduação representaram um impulso para a incubadora ir além-muros, possibilitando a participação e o acesso às comunidades.

Na sua atuação inicial, a Caravana Cerrado Empreendedor mapeou todos os negócios que tivessem impacto socioambiental na região. “Utilizamos os estudos e os trabalhos dos alunos de pós-graduação para apoiar comunidades ou entidades que atuam com negócios de impacto”, detalha Sara.

A incubadora deu suporte à Cooperativa de Apicultores e Agricultores Familiares do Norte de Minas (Coopemapi), com sede em Bocaiúva, que possui mais de 360 associados, em 22 cidades norte mineiras e mais duas situadas na região do Vale do Jequitinhonha: apoio na elaboração de manuais sobre exportação de regulamentações específicas relacionadas aos produtos; cursos sobre boas práticas de comercialização para os cooperados; estudo sobre qualidade de produtos, bem como sobre a cadeia do mel no mercado; elaboração e depósito da indicação geográfica do mel de aroeira e levantamento sobre a cooperativa e os cooperados (perfil e demandas).

Cooperativa de Apicultores e Agricultores Familiares do Norte de Minas (Coopemapi) e a produção de mel. Crédito: Divulgação/Emater

Para a Associação de Artesãos Sempre Viva, do distrito de Galheiros, em Diamantina, a Inemontes desenvolveu os procedimentos para Indicação Geográfica, cujo registro reconhece reputação, qualidades e características que estão vinculadas ao local. Também deu suporte para criação de uma logomarca como forma de contribuir para ampliar o acesso dos produtos ao mercado. “Os próximos passos estão voltados ao depósito da indicação geográfica, à gestão e outras demandas, como precificação e melhorias no processo produtivo”, acrescenta.

O dia da incubadora
Para a realização do trabalho, não há aporte financeiro, a não ser da Universidade e editais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). “Nossa atuação com parceiros é crucial. Sebrae, Fundetec e outras instituições do Norte Valley, além da Secretaria de Desenvolvimento do Estado de MG [SEDE], especialmente com o projeto VUEI, estão conosco”, explica Sara.

Ao todo, foram atendidos 18 empreendimentos, com três graduados, em várias áreas — Biotecnologia, Tecnologia da Informação (TI), Educação, Alimentos/Nutrição e Negócios de Impacto socioambiental. Atualmente, a Inemontes tem quatro incubados, sendo três de impacto socioambiental. A seguir, conheça dois deles.

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