Nem a crise que está levando quase metade das universidades federais a respirarem com a ajuda de aparelhos impediu a Incubadora Social da Universidade Federal de Santa Maria (IS-UFSM) de prosseguir.
Faltam recursos humanos e financeiros, bem como investimentos para aquisição de materiais e manutenção das atividades, pois a cada ano o orçamento fica mais enxuto. “O que não diminui é a vontade de continuar trabalhando por uma educação de qualidade, mesmo que tenhamos que fazer cortes e adaptações em nosso planejamento”, afirma Elisandra Della-Flora Weinitschke, técnica em Assuntos Educacionais na IS-UFSM.
A incubadora tem papel relevante na cidade gaúcha de Santa Maria, atingindo municípios da região central do Rio Grande do Sul e do entorno dos campi da UFSM, de Cachoeira do Sul, Palmeira das Missões e Frederico Westphalen. Sua bússola aponta para a responsabilidade em articular a execução de projetos concebidos a partir de demandas locais, visando a geração de trabalho e renda para grupos em situação de vulnerabilidade social e em processo de organização solidária; e/ou que envolvam empreendimentos com o propósito de solucionar problemas sociais existentes.
AOCS Coração do Rio Grande, grupo de agricultores da região central do Rio Grande do Sul, é um exemplo. A formação do coletivo existe desde 2014, com a ajuda da Pró-Reitoria de Extensão (PRE) da UFSM. A partir de 2016, na Incubadora Social, as cinco famílias de agricultores conseguiram certificar seus produtos e, consequentemente, tornaram-se certificadoras, aprovadas pelo Ministério da Agricultura.
Hoje, o grupo tem nove famílias, algumas de assentamentos, outras de cidades próximas à Santa Maria. Para isso, a Incubadora garantiu bolsistas, profissionais da área técnica para acompanhar pesquisas e parceiros, como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) do Estado.
“O recebimento desse apoio estrutural, financeiro e técnico, com material produzido pela universidade, foi crucial para que o grupo se consolidasse. Um impacto positivo imenso, com acolhimento e desenvolvimento dessas famílias na economia solidária e na geração de emprego e renda”, conta Ascísio Pereira, docente e coordenador na UFSM, que tem o papel de facilitar o diálogo entre o grupo e a instituição.
Há três anos, o Coração do Rio Grande realiza a Feira Ana Primavesi, 100% orgânica, em Santa Maria. A feira também funciona como um espaço de encontro e troca de saberes, com atividades e dinâmicas organizadas pelos próprios membros.
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A história da Incubadora Social
A Incubadora Social da UFSM foi implantada em 2012, como um programa piloto. Ela oferecia suporte, de modo a qualificar e melhorar seus produtos, com foco em sustentabilidade, geração de trabalho e renda para coletivos e grupos demandados.
Em 2015, a incubadora intermediou convênio firmado entre a UFSM e a Secretaria Nacional de Economia Solidária para apoio da Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop), anualmente realizada em Santa Maria. No mesmo ano, encerrou-se o primeiro ciclo de incubação e iniciou-se um período de reestruturação da proposta inicial.
Esse processo culminou, em 2016, na institucionalização da Incubadora Social da UFSM como Órgão de Apoio da Administração Superior, vinculado à PRE para fins de supervisão administrativa. Atualmente, sua equipe é formada por um docente, dois servidores técnico-administrativos e três bolsistas das áreas de Administração e Comunicação Social. Também é apoiada por projetos de extensão, coordenados por servidores da UFSM.
Assim, por meio do ensino, pesquisa e extensão, bem como o desenvolvimento de diversos projetos envolvendo tecnologia e inovação, a incubadora proporciona aos estudantes o contato com a práxis e leva o conhecimento até a comunidade externa.
Além da IS, a UFSM conta com outras duas incubadoras de base tecnológica: a Pulsar e a Incubadora Tecnológica de Santa Maria (ITSM), ambas geridas pela Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia (AGITTEC). Com isso, a universidade contribui para o desenvolvimento tecnológico por meio de projetos estratégicos, incubação de projetos de impacto social, incubação de empresas que geram inovação e empregos, além de diversas parcerias com os setores público e privado.
A jornada de incubação
O processo de incubação possui três etapas: pré-incubação, incubação e desincubação. Em 2021, ao iniciar um novo ciclo, a IS-UFSM também incluiu a etapa de mobilização e sensibilização, promovendo encontros on-line direcionados à comunidade acadêmica. O propósito foi apresentar a incubadora e incentivar ações extensionistas relacionadas à incubação social.
Os encontros tiveram participação de aproximadamente 200 docentes e técnicos administrativos em Educação. Posteriormente, foi lançado um edital de credenciamento de iniciativas e ações empreendedoras desenvolvidas nos territórios abrangidos pela UFSM, encaminhado diretamente às organizações públicas de apoio, lideranças de bairros e associações da sociedade civil.
Como resultado do trabalho de mobilização e sensibilização, tanto do público interno quanto do externo à universidade, o número de inscrições aumentou seis vezes em relação ao último edital de incubação. “Contabilizamos 60 inscrições de grupos e empreendedores individuais. Um índice histórico para a IS-UFSM”, comemora Elisandra.
Conheça algumas das iniciativas da IS-UFSM.
Conectados ao ecossistema
A PRE e a IS possuem alcance de suas ações no contexto local, regional, nacional e internacional. Especialmente pelos projetos que estão sendo desenvolvidos, voltados às metas da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas. A Universidade, por meio dessas ações, está sendo reconhecida por relevantes rankings de sustentabilidade, como Times Higher Education (THE) e Green Metrics.
A incubadora acompanha o ecossistema de impacto socioambiental em outras regiões do país, a partir da participação de fóruns da rede ITCPS (Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares) e outros encontros/eventos nos quais a temática é abordada.
“No edital de credenciamento recentemente homologado, procuramos incentivar projetos relacionados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e à Agenda 2030, da ONU, no qual a UFSM é a 14ª instituição brasileira no ranking do cumprimento das ações”, comenta Elisandra.
Tais temas marcam presença durante o processo de incubação. No trabalho feito com a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Palmeira Verde, no município de Palmeira das Missões, por exemplo, foram desenvolvidas ações voltadas para a coleta seletiva.
Uma das conquistas importantes do grupo, que fez parte do último ciclo de incubação, foi a substituição de veículos de tração animal por carrinhos, doados por meio da parceria entre a incubadora e a Sicredi (Sistema de Crédito Cooperativo) do município. O resultado atraiu outra doação fundamental: um terreno da Prefeitura para construção de um galpão destinado à guarda e à separação de materiais.
“A pandemia está sendo um processo complexo e desafiador. A Incubadora Social teve um processo de adaptação para se manter conectada aos empreendimentos, auxiliando na manutenção de suas atividades e na busca de oportunidades para geração de renda”, afirma Lucas Ávila, docente e chefe da Incubadora Social.
Ele destaca que as principais mudanças ocorreram no trabalho da equipe e dos empreendimentos, como desenvolvimento de reuniões on-line, mini cursos e formações, de planos estratégicos para os empreendimentos, de documentários dos grupos, além da mediação de parcerias entre os empreendimentos e organizações de apoio.
“Estamos atentos às inovações que ocorrem no segmento, no contexto mundial e na sociedade, com o objetivo de fomentar projetos na perspectiva da sustentabilidade socioambiental para a geração de trabalho e renda”, destaca o docente. “Se seguir esses propósitos, a incubadora passará de referência regional à nacional, especialmente pelo seu modelo de atuação e resultados eficazes”, acredita.
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