A Inteligência Artificial (IA) tem se mostrado fundamental para as estratégias de geração de novos modelos de negócios e sua presença tem aumentado nos últimos anos – este crescimento saltou de 32%, em 2018, para 48%, em 2020, na América Latina, segundo dados são do Índice de Nível de Inovação e Crescimento (Inicia). 

Essa tecnologia está presente em diversas áreas do cotidiano, como o setor industrial (protótipos de máquinas autônomas), o doméstico (robôs de limpeza), o de entretenimento (Netflix), de educação (realidade virtual), em projetos aeroespaciais e até na Medicina (chatbot). Inclusive, em aplicativos presentes no dia a dia. O Spotify usa IA para entender as preferências dos usuários e recomendar músicas, por exemplo.

Na pandemia, a aplicação da Inteligência Artificial também foi acelerada. Uma das áreas que se beneficiou com seu uso foi a Saúde. Dados de uma pesquisa sobre a familiaridade com a inteligência artificial na saúde divulgados recentemente pela Capterra, plataforma de busca e comparação de softwares, mostrou que quatro em cada dez pacientes já interagiram com um chatbot de inteligência artificial ou um assistente virtual pelo site de um médico, plano de saúde ou centro. No caso, esse chatbot ajuda no atendimento básico ao paciente, para tirar dúvidas, por exemplo. 

Mas, partindo da área da Saúde para o ecossistema de impacto, em geral: como o uso de tecnologias, como a inteligência artificial, pode contribuir? Nesta reportagem, conheça negócios que atestam esta importância e apontam soluções na modelagem de cenários complexos para Políticas Públicas efetivas.

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Pesquisa
O potencial da inteligência artificial aumentou e muitas empresas vêm investindo pesquisas nesta área. Um exemplo é a Kunumi, organização que integra conhecimento tecnológico ao conhecimento acadêmico e científico para trazer soluções para questões relacionadas a clima, saúde, desigualdade e sustentabilidade.

Gabriella Seiler, executiva da Kunumi, afirma que a organização é: “Um time interdisciplinar que hoje utiliza Inteligência Artificial para desbloquear novos pontos de vista e descobertas”. Para a executiva: “Ao mesmo tempo que a IA nos ensina sobre padrões atuais e passados, pode ser treinada para reproduzir comportamentos ou para nos apoiar na construção de um outro futuro”.

Gabriella Seiler, executiva da Kunumi. Crédito: Divulgação

A importância da Kunumi no ecossistema ocorre pois a organização desenvolve modelos para criação de novas empresas de base tecnológica, tendo o conceito de impacto como tese central, segundo Gabriella. Outro ponto destacado pela executiva é que: “A Kunumi quer inovar e desenvolver novas soluções que representem o público consumidor e nossos parceiros em sua diversidade”.

Ainda de acordo com Gabriella, é necessário estabelecer o Brasil como criador de tecnologias, e não apenas consumidor. E, isso, está relacionado à falta de um ecossistema eficiente de incentivo à inovação. “Exemplos de sucesso no mundo todo mostram que a inovação começa muito antes da criação de uma startup e seus produtos. Por isso, é fundamental ter investimentos não só em pesquisa, mas também em mecanismos que aproximem o ambiente acadêmico do mercado”, explica.

Na prática, muitas empresas que estão implementado a Inteligência Artificial notam um crescimento em algumas áreas. Por exemplo, a startup Vision Space,  voltada à IA, registrou um crescimento de 500% no seu faturamento usando a tecnologia em 2020. Com a pandemia, um dos serviços mais requisitados foi a utilização de câmeras de segurança para fazer contagem de fluxo na reabertura dos parques. Já, para 2021, haverá o lançamento de novos produtos, como o sensor de temperatura Wi-Fi.

Neste sentido, se vislumbra que a Inteligência Artificial não é apenas mais uma atividade que afeta somente o campo acadêmico e científico. Trata-se de uma tecnologia crítica para a transformação, de modo que sua disponibilidade ou falta afeta o bem-estar e a prosperidade da sociedade.

Inteligência artificial para um jornalismo eficiente e transparente

Bárbara Libório, gerente de projetos e jornalismo da Revista AzMina. Crédito: Divulgação

A IA também vem sendo aplicada no jornalismo. Bárbara Libório, gerente de projetos e jornalismo da Revista AzMina, destaca que “O uso dessa tecnologia pode ajudar no ecossistema de impacto, principalmente porque ajuda a maximizar tal impacto”.

Bárbara atua no Elas no Congresso, um projeto de monitoramento legislativo do direito das mulheres, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Este monitora a tramitação de projetos de leis que falam sobre gênero. A plataforma foi criada pela Revista AzMina.

Dado a relevância de fazer jornalismo com informações precisas, Bárbara destaca que “A rotina jornalística é feita de vários processos. E, se eu conseguir acelerar alguns desses processos, eu consigo focar o meu tempo em melhor apuração, redação, contextualização e até mesmo comunicação de dados, por exemplo”. Ou seja, de certo modo, permite melhorar o trabalho jornalístico, pois possibilita tarefas automatizadas, de modo a focar em outras questões que são mais importantes.

A gerente de projeto ainda comenta que o monitoramento de Políticas Públicas também pode ganhar com o uso da IA, como as diretrizes orçamentárias e a execução desses projetos. “Quando conseguimos monitorar isso de maneira automatizada, monitorando a transparência, conseguimos inclusive serviços mais eficientes”, destaca.

Em relação à atuação das mulheres na bancada parlamentar, Bárbara explica que “As mulheres parlamentares são as que mais propõem projetos de lei que têm a ver com o tema de Direito das Mulheres”. Ela também afirma que, para que esses temas sejam levados ao Congresso, e de maneira favorável, mais mulheres devem chegar a esses espaços políticos.

A plataforma Elas no Congresso apresenta propostas e votações das senadora(e)s e deputada(o)s em uma lista estilo ranking. Por exemplo, no ranking das propostas das deputadas, Rejane Dias (deputada do Partido dos Trabalhadores) encontra-se em primeiro lugar. É autora de 29 projetos, dos 649 voltados para as mulheres. Além disso, o site ainda analisa as propostas, destacando a avaliação e a relevância da pauta. Já no ranking das propostas do senado, Rose de Freitas (senadora do PODE) conta com 21 projetos de autorias sobre o tema.  

No entanto, mesmo com a atuação das parlamentares propondo mais projetos para o direitos das mulheres,  uma análise do Elas no Congresso mostrou que projetos de lei que tratam de temas como aborto ou violência sexual cresceu 77% e 56%, entre 2019 e 2020, mas maioria dos PLs é desfavorável. Isso acende a discussão sobre a importância de monitorar os direitos das mulheres no legislativo e a sua atuação.

Outro caso é o InfoAmazonia, veículo independente que utiliza dados, mapas e reportagens geolocalizadas para contar histórias sobre a maior floresta tropical contínua do planeta. O site cobre o universo da Amazônia e tem dois projetos que podem ser destacados pela utilização da IA para o bem público: Amazônia Sufocada e Amazônia Minada. O primeiro monitora os focos de calor na Amazônia. Já o segundo mapeia os requerimentos minerários em unidades de conservação e terras indígenas. Além dos robôs no Twitter, é possível acompanhar os dados pelos mapas no site.

Juliana Mori, diretora editorial do InfoAmazonia, conta que a atividade é realizada a partir do jornalismo de dados – dados públicos e abertos. Ela destaca a relevância do trabalho em equipe: “No caso desses projetos, do monitoramento constante, eles ajudam as pessoas a entenderem o que acontece diariamente, e assim, se conscientizarem sobre o assunto”.

Juliana Mori, diretora editorial do InfoAmazonia. Crédito: Divulgação

Ainda sobre a importância da Amazônia no cenário global, é comum o debate e as críticas sobre o crescimento das queimadas e o afrouxamento das políticas ambientais do Governo Federal, que impulsionam a destruição da floresta. É possível dimensionar esses números através de bots. Por exemplo, o bot da Amazônia Minada aponta que há atualmente 2.539 requerimentos minerários em terras indígenas e 1.186 em unidades de conservação de proteção integral ativos na Amazônia. Já no caso do bot da Amazônia Sufocada, os dados revelam que nos últimos sete dias de março, 23% das queimadas aconteceram dentro de terras indígenas e 2% aconteceram em unidades de conservação. Ao acessar esses bots, o cidadão consegue visualizar dados oficiais do crescimento do desmatamento e das queimadas. E, em relação ao afrouxamento das políticas ambientais, Juliana salienta que “Não é só uma questão de lei. No Governo, há afrouxamento com Ministro que trabalha mais contra, do que há favor”.

Juliana também pontua que para esse cenário, o que agrava ainda é um afrouxamento da fiscalização, ou seja, um conjunto de ações: “Em 2020 a quantidade de multas foi muito baixa. Se por um lado existe um decreto que proíbe queimadas, por outro lado, um grupo que estimula recursos de forma criminosa, uma não fiscalização”, explica.

Na prática, mesmo com o avanço de IA, ainda são necessários longos passos. Um desafio final diz respeito à maioria das implementações desta tecnologia altamente especializada, o que, de certo modo, exige investimento em profissionais qualificados. É o que também revela um estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), que aponta a grande quantidade de vagas disponíveis, mas falta mão de obra qualificada para essa área.

Mesmo que esse investimento ajude a reduzir custos, melhorar a eficiência e resolver novos problemas, há ainda um caminho a ser percorrido. E, certamente, exige um esforço contínuo de todos os setores do ecossistema de impacto.

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