“Somos mais cooperativos e menos egoístas do que a maioria acha. A organização deveria ajudar todos a dar vazão a esse sentimento de colaboração”.
Yochai Benkler
A pandemia causada pelo Coronavírus fortaleceu movimentos sociais de ajuda e relacionais de negócios, com objetivo de assegurar as condições básicas da vida e da manutenção dos negócios. Observando tais movimentos, percebemos a verdade enunciada por Yochai Benkler (Professor de Direito da Universidade de Harvard), conforme expressão que introduz este artigo.
Num breve olhar para a História, podemos entender que o empreendedorismo sempre fez parte da vida humana. O termo francês entrepreneur (em português, empreendedor) é aplicado à pessoa que assume riscos e começa algo novo. Ao longo do tempo, o termo foi direcionado aos seguintes grupos:
– Aqueles que gerenciavam projetos (entre os séculos V e XV).
– Aqueles que que assumiam riscos (no século XVII).
– Aqueles com características comportamentais empreendedoras (entre os séculos XIX e XX).
Não há consenso sobre o conceito de empreendedorismo, tanto como área de estudo de negócios, quanto enquanto atividade desempenhada pelas pessoas. Contudo, a partir do contexto apresentado, é possível destacar três elementos fundamentais: a pessoa que empreende, fatores sociais e econômicos e inovação.
No Brasil, mais de 10 milhões de negócios são constituídos por microempreendedores individuais, micro e pequenas empresas. As micro e pequenas empresas têm atuação muito forte em atividades do comércio e dos serviços, correspondendo à participação de 30% do PIB nacional. Por isso, são fundamentais nos contextos sociais e econômicos do país.
A pandemia de Covid-19 acentuou os olhares de empresas e investidores brasileiros e estrangeiros às pessoas que empreendem e aos micros e pequenos negócios, em especial de territórios periféricos. Reuniões empresariais e de investidores, encontros de empreendedores, lives e fóruns foram realizados para discutir ações que pudessem ajudar pequenos empreendedores a se manterem vivos. Foram estabelecidas conexões entre grandes e pequenas empresas, bem como entre os próprios microempreendedores individuais, micros e pequenos negócios. Percebeu-se também que foram disponibilizadas recursos financeiros, espaços em plataformas para comércio on-line, além das estratégias de divulgação, em diversas mídias, de produtos e serviços dos pequenos empreendimentos.
Os olhares e as ações em socorro aos pequenos negócios tinham como premissa a possibilidade do fluxo econômico, com a sobrevivência da maior quantidade possível desses negócios – reconhecendo-se a possibilidade de falência de muitos empreendimentos. Conforme pesquisa realizada pelo IBGE e publicada em 16 de julho, 716.000 empresas fecharam as portas, sendo que 522.000 declararam que a situação foi provocada pela pandemia. Os setores mais impactados foram comércio (39,4%) e serviços (37%). A pesquisa mostrou ainda que 99,8% dos pequenos negócios não voltarão a abrir as portas após a pandemia.
Ajudar pequenas empresas é esforço que impacta positivamente a vida de muitas pessoas e, de alguma forma, colabora para o fluxo econômico e financeiro do país. Entender as pequenas empresas como custo é de uma ignorância horrível, sustentada por arrogância e prepotência.
Desse modo, reforço o entendimento de que o empreendedorismo é motor do desenvolvimento social e econômico.
Diante da amplitude dos contextos que atinge todos os empreendedores, torna-se fundamental conceber o interpreendedorismo, como a aplicação de ações de parcerias estratégicas entre empreendedores, com objetivos comuns, para manutenção, posicionamento e evolução dos negócios, possibilitando a geração de impactos positivos de sustentabilidade social, econômica e ambiental. Este termo foi criado a partir das observações da Emperifa, de modo a expressar a relação existente entre os empreendedores neste período da pandemia.
O interpreendedor é a pessoa física que empreende, seja ele microempreendedor individual, micro e pequeno empreendedor, ou ainda empreendedor de médio e grande porte interessado em estabelecer parcerias, em relação ganha-ganha. O intuito é elaborar, a partir da cooperação, ações estratégicas capazes de agregar valor aos negócios, com diferenciação ou inovação, gerando resultados sustentáveis social, econômica e ambientalmente.
A partir da experiência de atuação com pessoas que empreendem, principalmente nas periferias da cidade de São Paulo, ficou muito evidente o movimento interpreendedor. O Comitê de Negócios de Impacto da Zona Leste foi constituído sob as bases deste conceito, aliás.
Desse modo, destacam-se alguns fatores-chave de sucesso para o interpreendedorismo: como a valorização da pessoa que empreende, a relação ganha-ganha entre os interpreendedores, a aplicação dos princípios fundamentais de gestão de negócios e da criatividade e a relevância das ideias, ações e soluções criativas, além do espírito de liderança. Um conceito que pode contribuir com o desenvolvimento social e econômico, principalmente dos territórios periféricos do Brasil.
Referências:
BENKLER, Yochai. O gene altruísta. Harvard Business Review: julho 2011, p.41.
DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
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