Anna Luisa Frimm é psicológa e atende em São Paulo

1) O Brasil é o país com mais pessoas que apresentam sintomas de ansiedade no mundo. Como isso se reflete no consultório?

Sim, e se reflete no aumento do número de pessoas que buscam a terapia para cuidar de uma ansiedade excessiva que as fazem sofrer, e chega a prejudicar diversas áreas da vida. É diferente de se sentir ansioso eventualmente. Essas pessoas vivem ansiosas, muitas já foram diagnosticadas com a síndrome do Burnout, transtorno do Pânico, fobia social, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), entre outros diagnósticos. Todos esses distúrbios/transtornos emocionais em que a ansiedade se faz presente. Acredito que essa ansiedade excessiva que pode levar ao adoecimento emocional está ligada a condição da vida moderna, com um ritmo intenso, estressante, muitas exigências, demandas e alta performance. Ao mesmo tempo, há um movimento de autocuidado, pessoas preocupadas em buscar e desfrutar de uma melhor qualidade de vida.

2) E como isso afeta as mulheres? Segundo a OMS, elas sofrem mais que os homens.

A mulher, infelizmente na nossa cultura, ainda se encontra em desvantagem em relação ao homem. É comum elas se queixarem de uma sobrecarga em relação a organização da vida familiar. Assim, vivem estressadas, ansiosas, relatam dificuldades para “desligar”, curtir o momento presente, estão sempre com pressa, procurando conciliar os afazeres da vida moderna, criação dos filhos, organização da casa e trabalho. A mensagem implícita é: ‘trabalhem muito, sejam excelentes profissionais, mães presentes, esposas carinhosas e não esqueçam de cuidar de si mesmas’. Os transtornos de ansiedade são, de certa forma, um reflexo dos nossos tempos caracterizado pelo ‘não consigo desligar, relaxar, não tenho tempo para nada’.

3) A partir da experiência do consultório, por que você acha que as pessoas têm dificuldades para mudar comportamentos ou atitudes?

Isso acontece porque em alguns casos o problema não diz respeito só a questões pessoais. Também pode ser um problema da nossa sociedade que valoriza o alto rendimento, um ritmo de vida intenso, múltiplas funções e atividades. Queremos pertencer, fazer parte, atingir metas, mas por vezes, aceleramos demais, queimamos etapas e adoecemos. Em terapia temos a oportunidade de entender que o problema pode não atingir só você, pode ser algo muito maior. Esse é o primeiro passo para que a mudança de comportamento verdadeiramente aconteça.

4) Por que o processo de escuta da terapia pode ser algo importante para as pessoas no mundo que vivemos?

Porque quando a pessoa sente que alguém a escuta – e muitas pessoas têm uma necessidade enorme de falar–, elas vivem uma experiência de acolhimento, se sentem valorizadas e respeitadas em sua própria singularidade, organizam os pensamentos para falar, refletem sobre sua própria história, dividem sensações e emoções, fazem descobertas, aprendem e crescem.

5) Qual seria sua mensagem para quem está buscando melhorar a qualidade de vida, ter um vida mais equilibrada e em paz consigo?

Descubra como você deseja viver a sua própria vida. Conheça melhor sua própria história. Entenda a maneira que você funciona, viva de forma coerente aquilo que acredita e encontre vontade de viver. A terapia é uma excelente ferramenta nesse sentido. Como dizia Contardo Calligaris: ‘nenhuma terapia dinâmica pode alterar os fatos de uma vida, mas pode, isso sim, alterar a narrativa dos fatos’.

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