Como Mulher e empreendedora social, início a nossa conversa dando as boas-vindas a você, leitora, que conseguiu tirar um tempo para se informar, nestes dias corridos, os quais temos dupla, tripla jornada. Não é fácil seguir com as escolhas de sermos autônomas, de sermos dona das nossas horas de trabalho: de fazermos o nosso corre.

Não trago novidades nesta conversa, mas quero criar uma reflexão do processo que vivemos para SER. São inúmeros os desafios e as barreiras enfrentados pelas mulheres empreendedoras sociais que, em alguma medida, são as mesmas enfrentadas pelos homens empreendedores sociais. Isto não é nenhuma surpresa, pois, além dos impostos e da burocracia governamental, o que são barreiras para mulheres, também são para os homens. Porém, as semelhanças param por aí. Existem áreas onde as mulheres reportam desvantagens significativas em relação aos homens: como maior demanda de tempo em  função de compromissos e obrigações domésticas e de família, menor acesso a financiamentos, menor confiança em competência e habilidades, menos modelos femininos para seguir, pressões sociais, culturais e familiares, preconceito e discriminação de gênero. Somos campeãs em buscar soluções diárias para solucionar nossos problemas do cotidiano e, sem dúvida, temos as melhores propostas quando estamos falando em proposta social positiva. Porém, ainda temos que provar, todos os dias, que somos capazes de executar, de sermos chefes, de sermos as responsáveis pelo todo ou pela área do negócio/empreendimento.

Nossas propostas de negócios social ou de empreendedorismo tradicional sempre são compostas por uma rede de apoio ou de fornecedores que estão no, hoje chamado, desenvolvimento de base – o que para nós é apoiar as nossas e os nossos. Contemplar as atividades de outras mulheres têm sido uma crescente para que tenhamos referências de sucesso. Aqui cito algumas mulheres que estão à frente do seu tempo, discutindo os espaços públicos de poder e o sucesso. Destaco: Adriana Barbosa, CEO da Feira Preta, Michelle Fernandes, sócia-fundadora da Boutique de Krioula, e Priscila Novaes, CEO do Kitanda das Minas, um afro buffet que tem como ênfase a contratação mulheres negras e imigrantes. Ou seja, além de sermos um grupo de mulheres empoderadas, buscamos, por nossos meios, empoderar outras mulheres seja por intermédio do acesso financeiro ou por participações de tomada de poder.

A principal motivação para empreendedoras sociais de periferia é bastante diferente da motivação para empreendedores com fins lucrativos. Apesar de muitas quererem alcançar uma renda razoável e ter flexibilidade em seu trabalho para poder continuar cuidando da família ou de suas necessidades pessoais, a meta maior de todas nós é endereçar uma preocupação social, ambiental  ou beneficiar nossas comunidades.

No processo da ANIP, Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia, destaca-se o número de mulheres; de modo especial, o de mulheres negras de diferentes segmentos e prestações de serviço. Dos inscritos, somos 70%. Ou seja, o que o ecossistema tradicional não menciona e não dá visibilidade. Estamos neste processo de demonstrar o quanto que, nas periferias, esse ecossistema de negócios de impacto deve muito à presença e ao desenvolvimento operacional das mulheres. Somos ainda um número reduzido nas tecnologias digitais, mas, de modo especial, estamos em todas as áreas que precisamos de inovação por meio da tecnologia social apreendida de modo especial com as nossas avós e mães, que empreendem de forma genuína, desde sempre. Empreender é saber – um saber ancestral, de comunidade, de enfrentamento – e propostas de superação conjuntas. Como bem dizem as Meninas Mahin: “Quer ir rápido, vá sozinha. Se quer ir longe, vá em grupo”. Que possamos compreender os universos e ter a sabedoria de destacar o nosso melhor fazer.

*Créditos da colagem: Murilo Mendes.

 

Deixe um comentário

Digite seu comentário
Digite seu nome