Já diz o provérbio que “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”. A máxima também pode – e deve – ser aplicada a empresas socialmente responsáveis, negócios de impacto ou organizações da sociedade civil em geral na hora de divulgar ações e resultados.
Nos últimos meses, a ponteAponte realizou inúmeras pesquisas de dados secundários tanto para a produção de estudos amplamente divulgados, como os relatórios Os primeiros 60 dias de Covid-19 no Brasil em 60 fatos: reflexões e tendências em filantropia, investimento e o campo de impacto e Cenários e tendências sobre o campo de negócios de impacto e intermediários frente à Covid-19, como para um levantamento de benchmark para um cliente. Porém, frequentemente, houve grande dificuldade de encontrarmos dados consolidados e consistentes, seja de organizações menores e coletivos, seja de grandes empresas.
Em nosso mapeamento inicial, por exemplo, era muito comum encontrarmos campanhas de arrecadação de recursos que não indicavam o volume total já arrecadado ou a meta de arrecadação, para quem especificamente esses recursos seriam doados, como chegariam até quem mais necessitava, entre outras informações básicas. Às vezes não havia sequer uma informação de contato ou de quem estava organizado a ação! Entendemos que, dada a urgência provocada pela pandemia, muitas ações foram idealizadas “da noite para o dia”. Ainda assim, cuidados básicos na comunicação são essenciais para garantir mais credibilidade e, consequentemente, nesses casos, mais arrecadação.
O problema é ainda maior quando falamos de grandes empresas, institutos e fundações, que muitas vezes também falham na comunicação de dados consolidados de suas ações de investimento social privado. Ao fazermos um benchmark de cerca de 15 empresas recentemente, encontramos inconsistência de dados entre documentos da própria empresa (como relatórios anuais de atividade ou de sustentabilidade), as informações do site ou de mídias sociais (como divergências no total de beneficiários, valores investidos, total de cidades, etc) e matérias veiculadas na imprensa (por exemplo, sobre o lucro ou prejuízo do ano anterior). Em que informação confiar quando há dois (ou mais) dados diferentes sobre o mesmo ponto sem nenhuma justificativa?
Pior, como confiar em qualquer informação que a organização publique quando encontramos erros ou inconsistências nos dados?
A divulgação correta, e facilmente acessível, de dados e informações sobre investimento social privado, ações filantrópicas ou iniciativas de impacto é tão importante quanto as ações em si. A falta de informação ou informações desencontradas podem gerar desconfiança e descrença, seja por parte de investidores, seja da mídia ou da própria sociedade. Embora as causas dessas inconsistências possam ser as mais variadas, da correria do dia a dia a um desalinhamento interno ou qualquer outro motivo, convidamos aqui todas as organizações a refletirem sobre como a comunicação pode entrar na pauta como um valor em si, garantindo o máximo de cuidado com a disseminação de dados e informações.
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