A Redação Online cresceu rapidamente, oferecendo uma plataforma de correção de redações. Mas sua cultura organizacional não cresceu junto.
Texto Tiago Mota | Fotos Agência Ophelia | Vídeo Ação Luz
“Às vezes a gente pressiona muito as pessoas para perseguir um resultado, mas não vê que elas já estão dando 100%.” Uma sinceridade dessas, como a de Otavio Pinheiro, faria muito bem ao ecossistema de inovação e empreendedorismo em geral. Ele é o fundador da Redação Online, uma plataforma digital na qual vestibulandos e concurseiros submetem suas redações e as recebem corrigidas por especialistas. Em dois anos de operação, a empresa conseguiu atender 70 mil alunos. Mas a pressão por resultados e por atender tanta gente acabou desmobilizando toda a equipe.
A Empresa
O modelo é simples: a partir de R$ 19,97, parcelado em até duas vezes, os estudantes já podem usar a plataforma. Fundada em 2016, a empresa já contava com 2 mil alunos pagantes com menos de um ano de operação. Passou, também, por concursos e importantes processos de aceleração, como o InovAtiva Brasil e a Rio Startups. É a primeira startup de educação acelerada pelo Facebook, via programa Estação Hack, desenvolvido junto com a Artemisia.
Tudo muito intenso. Um ritmo que reflete a personalidade frenética do próprio Otavio. Gaúcho da cidade de Balneário do Pinhal, aos dezessete anos ele já tinha aberto três autopeças junto com seu pai, mecânico. Decidiu, em seguida, estudar História em Florianópolis. O curso mal havia terminado quando ele resolveu abrir um cursinho popular. A ideia veio da percepção de como alunos de escola pública, tal qual ele, tinham mais dificuldade em ingressar nas universidades e permanecer lá.
Anos depois, a mesma fagulha o levou a fundar a Redação Online. A intenção inicial foi a de criar um elaborado sistema de videoaulas e cursinho à distância. Afinal, era possível levar educação a muito mais pessoas por meio do digital. De toda essa solução complexa, porém, o que fez sucesso mesmo entre os alunos foi uma pequena parte do pacote: a plataforma de correção de redações. Agilmente, Otavio entendeu que era ali que morava de fato uma oportunidade. E foi pra lá que direcionou seu foco.
O Erro
Otavio é um exemplo (dentre muitos) de como a vida pessoal de um empreendedor social se mistura com a de seu empreendimento. Ainda na época do cursinho, veio de dentro de casa o sinal vermelho que o fez perceber: alguma coisa estava errada na condução dos negócios. “Minha esposa queria engravidar, e eu sempre dei uma enrolada nela”, recorda, aos risos. Mas a primeira gravidez veio e, infelizmente, o casal passou por um aborto espontâneo. “Aquilo foi o divisor de águas. Tomei a decisão de sair do dia a dia do cursinho para me dedicar a minha família.”
Foi durante o sabático que começou a nascer a Redação Online. No entanto, conforme o novo negócio demonstrou potencial, o jeitão elétrico e intenso de Otavio começou a reaparecer. Trabalhando muito, e agora entre os escritórios em Porto Alegre e São Paulo, Otavio começou a formar equipes conforme o aumento de demanda. A transição para atender também empresas e instituições, no modelo B2B, rendeu novos contratos e mais trabalho. O resultado: uma equipe no limite e sem conexão com o propósito inicial do que deveria ser a Redação Online. “Foi bem desgastante do lado pessoal e para a equipe, tendo de tirar muito do pessoal num curto espaço de tempo”, relembra.
Uma equipe sem motivação e sem identificação com a empresa pode custar caro. “As pessoas não comemoravam as realizações da empresa, como prêmios e novos clientes”, conta Otavio. Com isso, a rotatividade dos colaboradores aumentou, e o custo de contratar e demitir funcionários também passou a pesar.
A Solução
Para resolver a questão, Otavio teve de atacar em duas frentes. A primeira, e a principal delas, foi na vida pessoal: compreender que essa história de empreendedor solitário e de que tudo é para ontem não funciona. E tira tempo com a família também. O final foi feliz para o casal: nesse período, eles tiveram uma filha, Ana Ester (3), e o casal de gêmeos Liah Raquel e Levi Benjamin (2).
Esse cair de ficha o levou a mudar o jeito de levar o negócio à frente. O primeiro passo foi colocar no papel sua tese de impacto. Entre negócios de impacto, a tal tese sempre responde a simples, porém crucial pergunta: por que fazemos o que fazemos?
“A ‘construção da tese de impacto’ é o exercício no qual a startup busca especificar de forma clara e bem definida a natureza do impacto social que pretende produzir e como isso pode ser comunicado”, explica Haroldo Torres, sócio-fundador da Din4mo, a apoiadora no atual processo de aceleração pelo qual passa a Redação Online. Foi durante esse processo que a Redação Online foi capaz de diagnosticar e resolver seu problema.
A tese de impacto foi uma das orientações dadas pela Din4mo. Tê-la formalizada é, segundo Haroldo, “essencial no diálogo do empreendedor com colaboradores, investidores e outros apoiadores externos”. No caso da Redação Online, a tese reconecta a empresa ao seu propósito: aperfeiçoar os resultados nas notas de redações, principalmente de alunos das escolas públicas, possibilitando seu acesso a universidades.
Com isso pronto, Otávio estruturou um setor de RH na empresa para contratar colaboradores que se identifiquem com esse propósito. “Hoje quem entra na empresa chega muito alinhado com essas características. Sabe que precisamos de resultados rápidos, mas acredita no que está fazendo”, comenta Otavio. Com isso, a lealdade à Redação Online aumentou substancialmente, segundo ele.
Mas houve também um aprendizado de liderança. Otavio entendeu que ele, enquanto empreendedor, precisava estar mais próximo de seus colaboradores. “Às vezes o maior RH de uma empresa é um bate-papo”, opina. “Uma empresa que tem um DNA de impacto social precisa ter uma parte humana vigente. E quando ficávamos resolvendo só pepino, isso foi se perdendo.”
Os Desafios
Os horizontes não poderiam ser mais promissores. Com a equipe coesa e o próprio Otavio entendendo melhor seu propósito, o objetivo é expandir a Redação Online para os países de língua espanhola. Os planos começarão ainda no primeiro semestre de 2019, com Colômbia e México. Para isso, o gaúcho pretende continuar estimulando uma empresa mais horizontal, onde todos percebam possibilidades de crescer, criar e executar com autonomia.
“É um aprendizado ainda, mas saber separar o que é formal e burocrático do que é humano, e não pensar só que vamos crescer e crescer, e ganhar prêmios”, conclui Otavio.