Salve, salve, você que se faz valente na linha de frente, mesmo no caos pandêmico que estamos vivendo. Salve também às possibilidades da vida, das costuras do dia a dia que nos permite SERMOS MAIS, quando estamos em espaços comuns, mesmo que on-line, quando partilhamos caminhos. 

Neste mês, vou dividir com você um pouco das rotas que venho traçando nos espaços de formação e espaços de fazeres políticos. Busco – ou melhor, buscamos (porque não faço nada sozinha) – desenvolver ações que tentam compreender os tempos em que vivemos, com fazeres pedagógicos, organizativos e plurais, mas também tentando garantir uma saúde mental para os e as envolvidos(as), seja na produção ou na vivência direta. Saúde mental em tempos de pandemia é um achado quase que impossível em meio a tantas dificuldades enfrentadas no dia a dia. 

Ouvimos recentemente que algumas ações desenvolvidas on-line vêm sendo um respiro, uma fuga da realidade tão dura e imposta pelo isolamento: um encontro, um revisitar-se como pessoas e como negócios de impacto da periferia. Trago este ponto para compartilhar o ESPERANÇAR coletivo que há muito não víamos tão vivos nos nossos dias. 

Mesmo neste período, não desistimos das metodologias que acreditamos, como as rodas de conversas, além dos momentos de interação, inspiração e recepção dos olhares e abraços. Isso tudo é possível virtualmente, o que nos desafia a perceber que o encontro pode ser visto de diferentes formas e o nosso olhar é positivo neste aspecto – afinal, encaramos essa nova forma como meio de conexão com outras pessoas de outros estados, municípios e regiões.

Nossa presença em nada foi comprometida, o que nos deu mais gás para conceber outras alternativas, entre elas de desenvolver o LAB ANIP totalmente on-line com 30 negócios do município e Grande São Paulo, com tempos e gêneros diversos. Desse modo, o operacional aproxima as pessoas, já que possibilita novas linguagens, novos afagos, nova forma de abraçar e de se olhar, além do olho no olho. Daí tiramos uma grande lição: sem saúde mental e sem escuta ativa não avançamos, por mais que o nosso negócio/empreendimento seja o que tem uma grande receita ou que impacta mais pessoas. 

Destaco ainda espaços que têm o cunho mais voltado ao fazer político, meios de vivenciar a práxis e que, neste ano, devido à pandemia, nos potencializou a olhar não só os nossos territórios e/ou cidades, mas também essa diversidade chamada Brasil. Nos fóruns on-line, como o  FNIP – Fórum de Negócio de Impacto, são possíveis diálogos sobre diferentes segmentos do ecossistema de negócios sociais para empreendedoras e empreendedores das periferias das cidades, tendo a colaboração de fomentadores, empreendedores, investidores e atores relevantes ligados aos Negócios de Impacto Social. 

Engajar as pessoas para estes espaços é também contribuir para as escutas ativas. Mais uma vez, é a ênfase no verbo ESPERANÇAR para fazer acontecer juntas e juntos, problematizar o antigo normal (que de normal não tem nada), afinal não podemos naturalizar as ausências de investimentos na base, nem a falta de representatividades negra para falarem do ecossistema de negócios.

Não dá para aceitar mais as empresas de investimento social privado se acomodarem, com seu olhar reducionista sobre o fazer para além das bolhas já investidas.

A intenção desta reflexão é dividir com você o quanto que o fazer, quando é coletivo e planejado, pode nos dar possibilidades sobre compreender os tempos, fazer análises sobre o momento e pensar novas perspectivas, juntas e juntos, de construir passos para superar o que está dado até aqui. Relevante pensarmos que as grandes decisões no ecossistema tradicional de negócios de impacto e do ecossistema de investidores de capital privado ainda são olhadas como processo de escassez. Como se os negócios de impacto das periferias são fossem suficientemente capazes de estruturar a gestão, cada dia mais complexa. Há ainda a inteira capacidade de entrega para o meio empresarial, também sem perceber que soluções propostas na periferia são tão capazes como as construídas em qualquer outro meio. Ou seja, é importante olhar as competências sem o olhar preconceituoso, olhar as diversas possibilidades sem o olhar racista e olhar a complexidade de cada territorial sem o descrédito de gênero.

Já passou da hora de encararmos o entorno e nos perguntarmos quem compõe o quadro de parcerias, de investimentos e de contratações do negócio. Se você responder que os NIPS estão presentes, que as mulheres estão presentes e que os negros e as negras estão presente, pode ser que tenha dado um passo sem refletir com tanta intencionalidade. Mas, se a resposta ainda for brancos, homens, héteros, negócios de impacto social tradicional, é preciso que você reveja seus dias e seus valores –

afinal, você pode estar atrasado na história.

 

Este texto é de responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.

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