No último artigo, falei um pouco sobre como a medição e a construção de indicadores de impacto são mais relevantes quando os gestores e os demais envolvidos são capazes de perceber e gerir, considerando o fato de que projetos sociais têm complexidades ímpares.

De maneira corriqueira, costumamos chamar de “impacto gerado” tudo que é fruto do nosso trabalho no campo social: seja um resultado entregue, um objetivo alcançado ou a realização de uma atividade. E não tem problema falarmos isso no dia a dia. Mas, para conseguirmos entender e determinar os indicadores sensíveis às necessidades das pessoas, é essencial distinguirmos, com clareza, o que são atividades, resultados, objetivos e o que seria o impacto, o qual queremos contribuir, exatamente.

Projetos que visam o aumento de geração de renda são um bom exemplo sobre essas diferenças. É comum dizermos que o impacto do projeto foi o aumento da geração de renda. Sem dúvida, aumentar este crescimento é relevante, além de ser algo que se deve almejar. Mas este não é o fim do projeto.

Quando nos referimos ao volume da renda gerada, tratamos do resultado de algumas atividades realizadas durante o projeto, como alteração nos produtos, na estratégia de vendas ou melhoria na produtividade das artesãs, por exemplo. O “impacto” gerado deve refletir aquilo que muda na vida dessas pessoas, porque elas passaram a ter mais recursos. Um indicador de impacto deve traduzir essa mudança.

Outro exemplo: a Rede Pública do Ensino Médio do Estado de São Paulo incentiva uma prática chamada “Acolhimento“. Em resumo, trata-se de um conjunto de atividades, as quais os atuais alunos de uma escola dão as boas-vindas aos novos, conduzindo atividades de integração e de reflexão pessoal logo nos primeiros dias de aula. O resultado esperado é gerar nos estudantes o sentimento de pertencimento. Espera-se que, com esse sentimento, os alunos permaneçam mais na escola, diminuindo a evasão escolar, aumentando a escolaridade geral da população paulista.

Não sei exatamente quais são as métricas de sucesso do “Acolhimento”. Mas, extrapolando conceitualmente, poderíamos dizer que, como impacto positivo esperado, um ganho no bem-estar destes alunos também na fase adulta. Afirmamos isso, pois há estudos que demonstram forte correlação entre tempo de escolaridade, empregabilidade e aumento de renda – e o consequente incremento do bem-estar individual.

Para além da técnica que vai embasar a escolha dos indicadores, fazer perguntas contextualizadas e direcionadas ao público-alvo é extremamente relevante neste processo. Certa vez, perguntei a um grupo produtivo de artesãs qual seria o sinônimo de que as coisas estavam indo bem. A resposta foi tão simples, que virou um indicador de resultados visível para todos na oficina e foi atualizado diariamente: o número de dias no mês quando a conta corrente apresenta quatro dígitos (ou mais). Um indicador simples e bem definido deve transparecer o valor do projeto para todas as partes interessadas e ajudar as equipes a focarem no que está dando certo e no que importa.

Planejamentos de projetos com indicadores muito robustos correm o risco de serem complexos demais em sua execução e não traduzirem o que é mais relevante para quem vive o projeto em si. Faço um convite a gestores e instituições financiadoras: vamos pensar em poucos indicadores, mas que, de verdade, possam ser medidos e avaliados e nos tragam sinais de que estamos caminhando para a mudança que os participantes dos projetos querem viver?

 

*Créditos da colagem: Murilo Mendes.

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