Mais um ano vai chegando ao fim. E um novo ano começará em breve. Mas será que vai ser um ano “novo” mesmo? Ao final de 2020, estávamos esperançosos de que o pior já havia passado, de que a pandemia seria em breve controlada com a vacinação que estava prestes a começar e que com o controle da pandemia a economia se recuperaria logo. Não foi bem assim, como sabemos. A demora na vacinação da maior parte da população e as novas variantes continuaram ceifando centenas de milhares de vidas, e a economia não só não se recuperou como, para 69% dos brasileiros, a situação econômica do país piorou nos últimos meses, segundo pesquisa Datafolha, realizada de 13 a 15 de setembro. As perspectivas para 2022 também não são muito promissoras, com previsão de alta na inflação e nos juros, aumento do desemprego, agravamento da crise hidroenergética, sem contar as eleições conturbadas que estão por vir.
Nem tudo podemos controlar, infelizmente, mas algumas medidas, tomadas coletivamente, podem ao menos minimizar os riscos e/ou as consequências mais graves da pandemia e da crise política, econômica, social e ambiental que estamos enfrentando. Vamos a algumas sugestões:
1) Trocar resoluções irreais de ano novo por metas que realmente contribuam para o mundo. Este texto de dezembro de 2020, publicado no portal UOL, continua válido para fazermos a diferença! Nele, o psicólogo Richard Ryan, professor da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, afirma que nenhuma resolução de ano novo garante tanta satisfação quanto metas que envolvam doar algo aos outros e pensar em formas de contribuir para o mundo.Tal afirmação vem ao encontro do Movimento por uma Cultura de Doação, que visa construir um Brasil melhor para todos os brasileiros e fortalecer a sociedade civil e a democracia por meio de um país mais doador. Algumas sugestões de metas nesse bloco podem ser tornar-se um doador recorrente, fazer trabalho voluntário, recolher três pedaços de plástico de cada praia que visite, entre outras ações.
2) Colocar o ESG em prática “pra valer”. Essas três letrinhas viraram moda (ou tendência? Confira o artigo da Andressa Trivelli aqui na Aupa), mas para além de querer “fazer bonito” nos relatórios de sustentabilidade, cabe às empresas repensar suas atuações e fazer os investimentos necessários para de fato mitigar (se possível eliminar) os efeitos negativos socioambientais que causam, não apenas diretamente, mas em toda a cadeia de fornecedores. E, claro, de preferência que consigam promover impacto positivo também. Dependendo do tipo e do tamanho da empresa, algumas medidas podem envolver políticas afirmativas na seleção de colaboradores, a substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia, uma política de investimento social alinhada ao core business da empresa, entre outras práticas.
3) Consumir conscientemente. Em 29 de julho de 2021, três semanas mais cedo do que em 2020, “celebramos” o Dia da Sobrecarga da Terra (em inglês, Earth Overshoot Day), que marca o dia do ano em que a demanda da humanidade por recursos naturais supera a capacidade da Terra de produzir ou renovar esses recursos ao longo de 365 dias. É importante nos lembrarmos de que cada consumo que fazemos no dia a dia, seja uma cápsula de café, uma nova peça de roupa, um novo celular, um novo carro, contribui para gastarmos os recursos naturais do planeta. Precisamos mesmo comprar esse novo item? Dá para seguir usando ou consertar o antigo? E qual será o destino do que não vamos mais usar? Não existe “jogar fora” do planeta Terra.
4) Promover, no nosso dia a dia e nas empresas, práticas antirracistas (e práticas feministas, antietaristas, antiLGBTfobistas…, mas fiquemos só no primeiro exemplo). Algumas atitudes simples passam por informar-se mais sobre racismo, ler mais autores negros, reconhecer os privilégios de ter nascido branco, apoiar ações que promovam a igualdade racial nos diferentes âmbitos da sociedade, entre outras ações, sugeridas pela filósofa e escritora Djamila Ribeiro, em seu livro Pequeno Manual Antirracista (Companhia das Letras).
5) Votar conscientemente. Claro que não podemos deixar de lado as eleições de 2022 que, ao que tudo indica, tendem a ser tão polarizadas e conturbadas como as de 2018. Escolher conscientemente os futuros governantes do país, sem repetir os erros do passado (e de um passado nem tão distante assim), é essencial para uma sociedade mais justa e igualitária.
Como já diz o poema Receita de Ano-Novo, de Carlos Drummond de Andrade:
“Para ganhar um Ano-Novo / que mereça este nome, / você, meu caro, tem de merecê-lo, / tem de fazê-lo novo”.
Vamos fazer em conjunto um ano novo realmente novo?
Este texto é de responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.
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