As desigualdades sociais e os problemas ambientais que vivemos atualmente não têm solução fácil e rápida. Para resolvê-los é preciso ações coordenadas da sociedade civil, do Estado, da iniciativa privada e do Terceiro Setor. Essa é uma frase de efeito e de difícil implementação. Muitas vezes, os interesses de cada um desses setores são distintos e a comunicação não flui em direção aos objetivos comuns.
Por isso, é importante enaltecer iniciativas que conseguem romper com esses paradigmas para criar uma visão maior de sustentabilidade a longo prazo. Um desses exemplos é o MapBiomas, que é uma coalizão entre organizações do Terceiro Setor, universidades e empresas privadas, com o objetivo de fornecer informações sobre desmatamento e uso do solo com acuracidade e transparência.
O MapBiomas criou uma rede potente tecnicamente, que atua com um propósito comum de combater o desflorestamento e os crimes ambientais no Brasil. A partir do uso de imagens de satélite de alta resolução e com uma equipe multidisciplinar, a organização consegue mapear todos os biomas brasileiros e se transformar em instrumento relevante para atuação tanto de órgãos governamentais como de ONGs, empresas privadas e de bancos.
Além de seu impacto profundo, chama a atenção o modelo de operação do MapBiomas centrado em um propósito muito claro, compartilhando informações entre seus membros de forma ágil e com confiança, que resulta em dados publicados de forma democrática. Qualquer pessoa pode acessar os dados do Mapbiomas sem custo.
Este modelo é diferenciado à medida que une tantas organizações com perfis tão distintos. Não é um modelo fácil de ser replicado, muito menos de ser copiado, mas mostra como é possível unir forças em prol de um bem comum quando há um propósito maior. Mais do que isso, mostra como o trabalho em rede pode resultar em um produto que é maior do que a soma de suas partes. Ou seja, o trabalho da rede torna-se mais relevante, mais preciso e com mais impacto com todos trabalhando em sintonia.
Trabalhos em rede não são uma novidade. Cooperativas e coletivos existem há muitos anos. E atualmente podemos perceber alguns movimentos para atuações em rede. Investidores estão criando coalizões para trabalhar em temas comuns, como habitação ou inclusão produtiva, apenas para citar alguns. Isso cria uma sinergia de ações muito relevantes para o campo, possibilitando uma mudança mais sistêmica e não apenas pontual. Há também as coalizões por causas comuns, como é o caso do Pacto contra o racismo e por mais equidade racial entre os funcionários (Partnering for Racial Justice in Business), assinada por 48 empresas esse ano no Fórum Econômico Mundial.
Na periferia também existem várias coalizões e coletivos que atuam com uma mentalidade de apoio mútuo, de trabalho em rede, em geral, em prol de uma causa comum. Muitas vezes, essas iniciativas não têm o objetivo e a perspectiva de escala e crescimento – base do capitalismo, mas trazem perspectivas de uma atuação que privilegia a humanização e maior voz para todos os envolvidos.
Pensar e fazer em conjunto; atuar em redes, coalizões, cooperativas e coletivos é extremamente desafiador. Só a partir de valores e visões comuns, essas iniciativas permanecem e, mesmo assim, são difíceis de se consolidar. No entanto, quando uma rede funciona em harmonia e sintonia com complementaridade das competências, isso pode ser potente. O caso do MapBiomas e tantas outras redes demonstram que o caminho não é simples, mas possível.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião de Aupa.
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