A realidade dos extrativistas

Entenda como a Cooperativa COMARU gera impacto social há 29 anos com a fabricação de produtos oriundos da castanha-da-amazônia

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Bruno Dutra, diretor-presidente da Cooperativa COMARU, participa do sétimo episódio da série “O que não te contaram sobre impacto?” do AupaCast.

Filho de ribeirinhos e extrativistas, Bruno nasceu em Almeirim, município do Estado do Pará. Aos 15 anos, se mudou para Macapá (AP), onde retornou do Estado vizinho, formado em Técnico em Agropecuária. Apesar de ter uma trajetória profissional em supervisão de processos agrícolas, Bruno começou a trabalhar na cooperativa e, desde então, se dedica ao extrativismo, sua grande paixão.

O negócio
A COMARU (Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru) foi fundada em 1992 com o objetivo de reunir produtores locais e suas mercadorias em busca de melhores mercados. “Antes, não existia dinheiro: funcionava o mercado da troca. O atravessador chegava e oferecia um pacote de leite ou uma lata de óleo e pegava uma lata de castanha. Porém, a base do troca-troca não trazia boas condições de vida aos extrativistas, nosso produto era muito desvalorizado”, explica Bruno. Ao perceberem os impactos negativos dessa relação, os produtores se organizaram e estruturaram a cooperativa.

Através de uma parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a organização comunitária começou a produzir biscoitos vindos da castanha-da-amazônia. O produto tinha como destino o programa de merenda escolar. “Com esse trabalho, montamos uma indústria para fabricação do biscoito (da castanha) e tivemos a oportunidade de ver as coisas melhorarem para a comunidade. Infelizmente, em 2002, aconteceu um incêndio que transformou tudo em cinzas”, comenta o diretor.

Como forma de se reinventar, os castanheiros do Rio Iratapuru passaram a fornecer seringa para o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS). Segundo Bruno, a chegada da Natura – empresa brasileira de produtos cosméticos -, em 2004, foi a virada de chave na retomada da cooperativa. “Foi um parceiro comercial que nos ajudou muito. Começamos a produzir o óleo da castanha (amazônica) e nosso primeiro contrato teve um volume de duas toneladas, o que representava muito para nós, na época. Hoje, temos um contrato de 30 toneladas, uma diferença enorme e significativa”, ressalta. A parceria entre as organizações resultou nos produtos sob a marca Natura Ekos, além de um fundo que financia projetos de conservação da biodiversidade da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru (RDSI).

O desafio e as soluções
Atualmente, a COMARU possui 91 cooperados, aptos a votar e serem votados. Todos residem na comunidade de São Francisco do Iratapuru, em  Laranjal do Jari (AP). Ao todo são seis meses de trabalho, da colheita nos castanhais à finalização dentro das indústrias. Em termos de território, a atuação acontece na RDS do Rio Iratapuru, uma área com mais de 800 mil hectares de terra. Em 1997, a lei que demarcava a área como protegida foi aprovada, cinco anos após a cooperativa surgir, com o objetivo de também promover o uso sustentável da biodiversidade local. “É uma área muito grande, não exploramos toda a região, apenas uma parte. Para nós, é um prazer imenso ter essa área (de atuação), porque temos certa garantia sobre o tempo de mantença. Se cuidarmos, perpetuará por várias gerações, de forma hereditária: assim como tem passado do meu avô para o meu pai, dele para mim – e irei passar para o meu filho”, observa.

O trabalho da cooperativa vai na direção contrária dos atravessadores, que, segundo Bruno, não trazem benefícios às comunidades e só extraem riquezas do território. “Eles não caem bem no panorama extrativista, porque ele não vai ficar dentro da comunidade. Quando eles (os atravessadores) estão comprando e o castanheiro precisa de apoio, eles oferecem. Depois de dois meses, eles vão embora e o extrativista vai viver de quê?”, questiona. “Na cooperativa, o castanheiro tem seis meses de trabalho e renda garantida no ano”, acrescenta. Bruno ressalta outro ponto: a remuneração oferecida por esses intermediários, que, muitas vezes, não cobre o custo de produção – fato que dificulta a preparação nos períodos de pré-colheita.

Em seu primeiro ano eleito como diretor-presidente, Bruno prevê muitos aprendizados pela frente e reconhece a responsabilidade que existe na posição que ocupa, porém entende que ela deve ser dividida entre os outros cooperados. “Sou ‘marinheiro de primeira viagem’, mas tenho muitas ferramentas para utilizar, como consulta aos ex-presidentes – inclusive, meu pai já esteve neste cargo -, os comunitários, o conselho fiscal, entre outros. O presidente não é o dono, mas, sim, o representante. Ele precisa dividir tudo que acontece na COMARU, para que, juntos (em comunidade), definamos os próximos passos”, finaliza.

Confira o episódio completo.

Serviço
Nome do empreendedor: Bruno Dutra.
Negócio: Cooperativa COMARU (Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru).
O que (o negócio) faz: Fabricação de óleos oriundos da castanha-da-amazônia.
De onde é: São Francisco do Iratapuru, em  Laranjal do Jari (AP).
Quando começou: 1992.
Principal tema da conversa: Como buscar melhorias de vida e de renda no extrativismo?
Soluções buscadas: Encontrar parceiros comerciais importantes e que buscavam alinhar o benefício comercial com o social.

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